Capcom é uma prestigiosa empresa japonesa de videojogos, famosa por criar e desenvolver algumas das franquias mais populares e de sucesso da indústria. É a responsável por sagas icónicas como Resident Evil ou Street Fighter, pelo que conta com uma grande quantidade de fãs por todo mundo. Há uns dias, a companhia anunciou o lançamento de Marvel vs. Capcom Fighting Collection, uma recompliação de "7 jogos legendarios" que incluiria modo online, modo treinamento, museu "e bem mais".
Numa mensagem publicada nas redes sociais, a companhia especificava que a versão digital para Europa, Médio Oriente e África já estava disponível, e que as físicas chegariam a 22 de novembro. Não obstante, entre parêntese incluíam uma informação delicada: para PS4 teria disco em caixa, como esperavam os fãs, mas no caso de Switch esta essa fisicalidade estava em causa, pois venderiam “um código em caixa”.
A raiva contra o CiaB
Isto é, que o que comercializar-se-á para Switch é uma chave, uma simples combinação, dentro da caixa. É o que se conhece como CiaB ou CIB, siglas de 'Code in a Box'. Para alguns amantes dos videojogos, isto representa uma afronta e um menosprezo. "Dever-se-vos-ia cair a cara de vergonha de que uma empresa de renome que se converteu no que é graças aos seus utentes trate assim os seus fãs sacando um produto incompleto só para fazer com o dinheiro dos utilizadores. Sois uns p********* burlões", protestava um internauta no X.
“Físico é quando vem o cartucho, que é uma caixa com um código. No final, só virá a folha com o código e dirás que é físico também. Que vontade de fazer as coisas mal...”, concordou outro. “E ainda por cima têm a coragem de chamar formato físico a uma caixa com um código. Enfim, depois choram porque não vende bem”, acrescentou um terceiro.
"Uma caixa vazia"
No universo gamer, a maioria dos jogadores opina assim. De facto, nos últimos tempos sucederam-se queixas contra este formato. Por exemplo, A Caverna do Gamer, um youtuber especializado no sector, qualificava o code in a box de solução "infame": "uma caixa vazia que unicamente contém um papel com um código para descarregar o jogo", resumia num vídeo publicado no mês de agosto.
"Os cartuchos de Nintendo Switch são mais caros que o Blu-ray para os publishers, e alguns não querem assumir o custo de uma segunda atirada. E parece-me bem: queres sacá-lo só digital? Fá-lo. Mas acho que deveríamos deixar-nos de médias tintas e de sacar isto, que tenta estar a médio caminho entre o físico e o digital e acaba sendo uma piada: é um desperdício de plástico e espaço", argumentava.
Jogos queridos pelo público
Sergio Ortuño é perito em videojogos e comunicador, e oferece à Consumidor Global uma explicação similar. Sobre Marvel vs. Capcom Fighting Collection, esclarece que "são jogos muito especiais porque, afinal de contas, é um crossover entre Marvel e Capcom, e isso chama muito a atenção das pessoas. Gera-te curiosidade, vais conhecendo a uns e a outros… São jogos queridos pelo público", reconhece.
É por isso que não poder tocar no produto é irritante. E Ortuño diz que, infelizmente, é uma prática que já viu “em vários jogos da Switch”, como os da Bandai Namco. “Um dos que mais me magoam é Tales of Vesperia: Definitive Edition”, admite. “O engraçado é que na caixa reconhece que o que está a chegar é um código de download. É óbvio que se estamos a vender uma caixa com um simples código, não estamos a vender um jogo físico, que só pode ser um cartucho ou um disco”, descreve.
Um formato real
Em suma, objectos, diz Ortuño, que “posso trocar com um colega por outro jogo, ou emprestar-lhe por alguns dias. Um verdadeiro formato”, diz.
“Não sou contra o formato digital porque compreendo que, para as empresas independentes ou pequenas, pode poupar muitos custos: levar o produto às lojas, fazer a arte da capa, gravar os discos ou cartuchos...”, admite. “No entanto, se vendermos o formato digital ao preço de um jogo físico, qual é a lógica?
O problema do preço
"Supõe-se que se o vendes em digital teria que ser mais barato", argumenta. "E mais se os desenvolvedores forem os estudios da Nintendo ou Sony, porque todos os benefícios lhos vão a ficar eles", acrescenta. Nas redes sociais, as opiniões sobre este ponto parecem unânimes. "Menuda marca os CIAB", dizia uma internauta no final de julho. Também há quem ache que, se o formato físico cada vez fica mais proscrito, será difícil fazer presentes de jogos tangíveis.
“Pessoalmente, não lhes tocaria, considero-os uma espécie de insulto para aqueles de nós que preferem o formato físico. Compreendo que, por vezes, sejam mais baratos do que na loja eletrónica e que possam valer a pena, mas não serei eu a apoiar esta iniciativa”, afirmou um fã em julho de 2023.
Mais facilidades ao cliente
“As empresas têm de facilitar as coisas para os clientes e pensar mais neles. Porque, por muito que digamos que somos amantes de videojogos e que os videojogos são arte, no fim de contas isto é um negócio. Como clientes, temos o direito de exigir determinados níveis de qualidade”, defende Ortuño.
E um negócio lucrativo: segundo a IGN, a Capcom vendeu quase 46 milhões de unidades de videojogos no ano fiscal que terminou em 31 de março de 2024. Foi um recorde para a empresa. Além disso, as vendas líquidas aumentaram 21% em relação ao ano anterior e o lucro operacional subiu 12,3% para 57 mil milhões de ienes (equivalente a 340 milhões de euros). Por conseguinte, na opinião de Ortuño, a única saída justa é uma verdadeira diferenciação de preços entre os formatos, ou seja, que os CiaB se tornem efetivamente mais baratos do que os jogos tangíveis. “Temos de nos manter firmes”, conclui.