0 comentários
Sou neuróloga e assim afecta a inteligência artificial a tuas capacidades cognitivas
"Se utilizamos a IA para escrever artigos científicos, e-mails ou resumir textos, nossas habilidades cognitivas correm o risco de ver-se comprometidas", alerta a doutora Mara Dierssen
A inteligência artificial (IA) leva bastantees anos em nossas vidas, os suficientes como para saber que não é inócua. Seu uso pode libertar de tarefas rotineiras e repetitivas, permitindo dedicar mais tempo a actividades criativas e estimulantes, mas este acesso instantâneo à informação também tem seus efeitos negativos, já que debilita a memória e reduz a capacidade para pensar criticamente e resolver problemas.
"Se utilizamos a IA para escrever artigos científicos, e-mails ou resumir textos, nossas habilidades cognitivas correm o risco de ver-se comprometidas, já que quando delegamos em excesso deixamos em mãos da IA o processamento da informação e perdemos a oportunidade de fortalecer a memória", assegura a presidenta da Associação Espanhola para o Avanço da Ciência e neurobióloga do Centro de Regulação Genómica, a doutora Mara Dierssen, durante a sessão Inteligência artificial em neurología e psiquiatría organizada pela Real Academia Nacional de Medicina de Espanha (Ranme).
Como utilizar a IA e ter um cérebro são e funcional
Reduzir o esforço neurológico diminui nossa capacidade para pensar criticamente e resolver problemas de maneira independente. Por tanto, a doutora Dierssen adverte de que "é essencial encontrar um equilíbrio para aproveitar os benefícios da IA e manter o exercício e a agudeza mental, já que é fundamental para ter um cérebro são e funcional".
Por esta mesma razão, "os desenvolvimentos baseados em IA devem dirigir-se a questões prioritárias, procurando maximizar os benefícios, sobretudo no campo da medicina", afirma o vice-presidente e responsável pelo Área de Neurotecnología e Inteligência Artificial da Sociedade Espanhola de Neurología, o doutor David Ezpeleta.
A IA aplicada à medicina
Entre as questões prioritárias onde deve se usar a IA em medicina se encontra melhorar a interacção entre o médico e o paciente. "Os médicos temos que olhar aos olhos de nossos pacientes, não ao ecrã de um computador. Por tanto, urge pôr em marcha essa tecnologia capaz de escutar a conversa da consulta, ordená-la, fazer um rascunho de relatório e rechear automaticamente os campos finque do sistema de informação do centro", aponta o doutor Expeleta.
Outro campo prioritário no que se deve focar a IA é em "saber de antemão que pacientes vão responder e quais não a determinados fármacos, já que isto custa milhares de euros ao ano", prossegue Ezpeleta, quem tem explicado dois projectos exitosos nesta direcção.
Projectos de sucesso
Em primeiro lugar, um grupo multicéntrico liderado pelo Hospital Universitário da Princesa de Madri tem publicado um trabalho em 2022 que tem avaliado e demonstrado a utilidade de modelos de aprendizagem automática à hora de predizer a resposta a fármacos antimigrañosos contra o péptido relacionado com o gene da calcitonina ou seu receptor. E, em 2023, um grupo internacional coordenado pelo Hospital do Mar Research Institute de Barcelona publicou um trabalho que pôs de manifesto que a análise de dados multimodales com técnicas de aprendizagem automática é capaz de predizer diferentes palcos clínicos e evolutivos em pacientes com esclerosis múltiplo.
No campo da neurotecnología também há avanços significativos. "Publicaram-se dois trabalhos fabulosos sobre geração de linguagem em pacientes com anartria (um caso de esclerosis lateral amiotrófica e outro caso de ictus troncoencefálico)", assinala o experiente.
Que é um neurónio artificial
Não obstante, o doutor Ezpeleta tem reconhecido que se observa uma brecha entre os lucros que se publicam e sua adopção na clínica. "Fala-se muito de inteligência artificial em medicina, mas a maioria dos médicos desconhece, por exemplo, que é um neurónio artificial. Na SEN oferecemos cursos de imersão em IA para neurólogos com o fim de que comecem a adaptar a estas tecnologias e possam se servir delas em benefício dos pacientes", aponta o vice-presidente da sociedade científica.
"A inteligência artificial não é algo novo, leva décadas em nossas vidas, mas está claro que nos últimos anos está a permitir extraordinárias oportunidades nos modelos sanitários e de investigação científica, contribuindo melhoras na detecção precoz, a prevenção, o diagnóstico e tratamento de diferentes de doenças", resume a académica de número da Ranme e catedrática de Anatomía e Embriología Humana da Universidade de Múrcia, a professora María Trinidad Ferreiro.
Desbloquear para comentar