Telefonemas telefónicos a todas horas. Vozes estranhas (robóticas ou não) de pessoas (ou não) que afirmam ser trabalhadores de recursos humanos de Indeed, assessores energéticos, técnicos de Microsoft, profissionais do banco no que se detectou uma incidência ou Deus sabe que.
E, para arrematar, call centers situados em Peru, onde as leis européias não têm vigor. Assim, de um tempo a esta parte, apanhar o telefone se converteu numa acção arriscada.
Números de tarificación especial de Phone Renove
Os números de tarificación especial são outra das bestas amenazantes que pululan pela selva telecomunicacional.
E, em ocasiões, caçam a sua presa sem revelar sua verdadeira natureza, mostrando-se como telefones normais para depois despedaçar o bolso do consumidor que chama, que não sabe que se meteu numa armadilha. Uma das empresas que permitem que isto suceda é Phone Renove.
Serviços de voz
"Somos um Operador de Telecomunicações com mais de 5 anos de experiência no sector, tanto em comunicações fixas como móveis. Nosso portfolio cobre um amplo leque de serviços de Operador, bem como serviços profissionais para empresas e outros Operadores de Telecomunicações que procuram assessoramento e intermediação em serviços de voz ou SMS premium em âmbito nacional e internacional ou DCB (Direct Carrier Billing)", indicam em sua página site.
Não obstante, números associados a este operador espanhol (Phone Renove é uma sociedade limitada cujo NIF é B87195525) estão vinculados a estranhas suplantaciones de identidade.
Suplantaciones de identidade
"Só vos dizer que há uma empresa fraudulenta que está a passar por vocês, telefonema PHONE RENOVE S.L. que opera com o número 807456264. Chamei, atenderam-me como se fôsseis vocês, fizeram que me resolviam a incidência, finalmente me defraudaram 30 euros", publicou em X um consumidor que citava a Glovo.
Consumidor Global tem contactado com este afectado, que explica que simplesmente procurou em internet o número que lhe tinha chamado "e me saiu que era de PHONE RENOVE". Assim fica confirmado ao consultar os Registros de Numeração e Operadores de Telecomunicações da CNMC, algo que qualquer internauta pode fazer em matéria de segundos: só deve introduzir o número e poderá ver o operador de rede atual ao que pertence.
"Cobram-te 0,45 euros o minuto"
Este mesmo número aparece citado em teledigo.com. "É uma fraude, cobram 0,45€ o min. Não respondais", alertava um internauta. "Duvido que esse seja o telefone de Att. ao cliente de Balearia", acrescentava. Isto é, que esta pessoa tinha crido chamar a esta companhia dedicada ao transporte marítimo, mas lhe tinham enganado.
Em ListaSpam há depoimentos igualmente preocupantes que citam o mesmo número. Pode-se deduzir que há um padrão: "Ontem chegou-me uma factura de MásMóvil, onde me aparece um telefonema efectuado desde meu telefone a um número premium com uma duração de 30 minutos e 36 euros. Eu nunca chamo desde o fixo e comprovo que nesse dia e a essa hora eu tinha efectuado um telefonema a CTT EXPRES para perguntar por um pacote", revelava este afectado.
Alongar o telefonema
"Derivaram-me a outro telefone e uma señorita teve-me meia hora fazendo perguntas para uma reclamação do pacote e para que corressem os minutos. Uma autêntica fraude. O telefonema corresponde a PHONE RENOVE SL", agregava.
"Esta empresa (Phone Renove SL) faz-se passar por um número habitual de táxi e dão-te longas para aguentar o telefonema quando nem sequer se põem em contacto com nenhum taxista nem têm nada que ver com eles", condenava um sócio da OCU numa reclamação.
Número em Google
Outro afectado contribuía um dado interessante em sua reclamação remetida a OCU: "No dia 23 de setembro precisei fazer um telefonema para uma consulta de Muface. Procurei o número de telefone em Google e chamei ao primeiro que me propunham (disponível 365 dias, adjunto captura de ecrã da busca)".
"Ali disseram-me que, para essa consulta, tinha que chamar ao número 807456457. Perguntei-lhe se era um número gratuito ou de tarifación especial e contestaram-me que era gratuito", recordava. Isto é, que os afectados são derivados a um número armadilha desde outro número aparentemente legítimo que aparece em Google… que também não é o que diz ser.
Denunciar a página
O telefonema não foi fructífera para o afectado: marcou uma cita que, como comprovou depois, não custava em Muface. "Ao terminar, olhei no aplicativo de minha companhia de telefones e vi que o custo do telefonema ascendia a 18,21€. Voltei a chamar ao primeiro número para queixar do engano e cortaram-me o telefonema sem nenhuma explicação. Tenho denunciado a página em Google e respondem-me que não eliminam o anúncio por cumprir as condições", dizia.
Deste caso desprende-se que são os motores de busca os que têm a sartén pelo cabo, já que permitem que supostos estafadores utilizem seus serviços para enganar à gente, o que provoca uma impotencia a cada vez mais estendida.
Software pirata
Martín Piqueras, professor de OBS Business School e experiente em Gartner, dá a este meio umas pinceladas sobre como se podem orquestrar este tipo de fraudes: "Quando um faz um telefonema, teu telefone está registado na rede do operador que seja, e lhe envia uma sorte de sinal à antena de telefonia. Mas se pões-lhe a teu móvel um software pirata, ilegal, podes fazer que teu móvel se apresente como outro telefone. Para a cada telefonema podes mudar o número com o que te apresentas", argumenta.
Piqueras também questiona o papel que jogam os motores de busca. "Se alguém utiliza a um intermediário de forma fraudulenta, é culpa do intermediário ou do outro?", pergunta. "As empresas que fazem negócio, como Google, têm a obrigação de moderar e de dispor de um serviço de denúncia. O que ocorre é que moderar é muito caro, porque implica revisar todos e a cada um dos anúncios que se põem".
Mau uso do serviço
Assim, a julgamento deste experiente, a culpa poder-se-lhe-ia adjudicar ao meio (Google neste caso) se não fizesse nada por evitar que um actor que faz um mau uso de seu serviço "segua aí de forma persistente".
Algumas empresas são conscientes destas más artes, que, em verdadeiro sentido, também lhes prejudicam. "Estas práticas enganosas têm sua origem quando um cliente procura um telefone de contacto de uma determinada empresa ou organismo. O primeiro que fazem estes prestadores maliciosos de serviços é se posicionar nos primeiros postos dos buscadores de internet, simulando representar a ditas empresas ou organismos", explica Movistar em seu apartado de Comunidade.
Semear a confusão
"Seu objectivo é confundir à pessoa que procura aceder a uma determinada entidade desde seu terminal, mostrando numeração telefónica que está incluída em suas tarifas planas habituais, sem custo adicional, ainda que a realidade é que, quando o cliente pulsa nos enlaces dos buscadores, se lança um telefonema, às vezes nem sequer ao número mostrado", indicam.
"Assim, o engano leva ao cliente a pensar que está a falar com profissionais ou entidades como Rádio Táxi, Correios, Endesa, Segurança Social, Serviço Público de Emprego Estatal (SEPE) ou Agência Tributária, entre outros, quando realmente não é assim. Nestes telefonemas o prestador ilícito procura alongar o telefonema todo o possível (a maior duração de telefonema, maior é a facturação na que incorre o cliente e maiores os rendimentos destas empresas)", reconhece Telefónica.
Vigilância tecnológica
"As empresas não têm um processo de vigilância tecnológica para garantir que ninguém lhes suplante em Google. É de traca que saia primeiro uma página fraudulenta e depois a da entidade real. Significa que o defraudador conhece melhor como se posicionar, e é absolutamente inaceitável", opina Piqueras.
Este meio tem contactado com Phone Renove para perguntar por estes factos e conhecer com mais detalhe que tipos de serviço prestam, mas, ao termo desta reportagem, não tem obtido resposta.