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MásMóvil utiliza sem consentimento os dados de um antigo cliente para enviar-lhe mensagens enganosas
A companhia de telecomunicações faz uso da informação pessoal de um anterior utente, que tinha pedido sua eliminação, para lhe comunicar que chegará um pedido que ninguém fez
"Estamos a preparar teu pedido", anunciava um correio eletrónico e um SMS enviados o passado 20 de novembro pelo grupo MásMóvil, que detalhava que o suposto pacote chegaria em dois dias laborables. A esta mensagem seguiu-lhe outro horas mais tarde: "Teu pedido já está em caminho!".
No entanto, José Caballero jamais tinha solicitado nenhum serviço nem realizado pedido algum com a companhia. Seu último contacto com MásMóvil remontava-se a 2018, quando iniciou uma portabilidade que finalmente cancelou para permanecer com sua operadora atual.
Era simplesmente "um erro"?
Ante esta desconcertante informação, Caballero tentou procurar respostas. "MásMóvil ides ter-me que explicar que pedido vou receber sem o ter pedido", escreveu em redes sociais. A resposta chegou rapidamente através do chat de Instagram. Uma representante de atenção ao cliente do grupo, Graciela, pediu-lhe seus dados pessoais para verificar a situação: nome completo, RG e número de telefone.
Depois de revisar a informação, MásMóvil assegurou que não tinha nenhum pedido em curso nem contrato associado a seu número. Segundo Graciela, o SMS e o correio eram simplesmente "um erro" em seus sistemas. O agraviado, no entanto, não estava satisfeito. Para ele, receber estas mensagens era mais que uma simples falha, também supunha uma grave vulneración da lei de protecção de dados.
MásMóvil segue conservando os dados do cliente
"Quero achar que não têm utilizado meus dados, que conservavam de ocasiões anteriores e cuja eliminação solicitei, para tramitar uma portabilidade de minha linha sem minha autorização", expressa Caballero a Consumidor Global, recordando que em 2018 já tinha solicitado uma portabilidade a MásMóvil, a qual finalmente cancelou. Naquela ocasião, seus dados ficaram registados no sistema, e o cliente suspeitava que a companhia não os tinha eliminado apesar do ter solicitado explicitamente no passado.
O verdadeiro é que, dantes deste episódio, Caballero já tinha recebido numerosos telefonemas de números desconhecidos. Quando procurava os números em internet, apareciam vinculados a Xfera Móveis, cuja marca é Yoigo, propriedade de MásMóvil. Isto resultava particularmente frustrante para ele, já que estava inscrito na Lista Robinson, um serviço desenhado para evitar a recepção de publicidade não desejada.
A exigência de um apagado definitivo dos dados
Depois de receber os correios e mensagens, decidiu enviar um correio formal a MásMóvil para exigir o apagado definitivo de seus dados. "Estou na Lista Robinson e, ainda assim, dedicam-se a chamar-me. Agora me enviam e-mails e SMS como se tivesse realizado um pedido, o qual não é verdadeiro. Quero o apagado absoluto de qualquer dado pessoal meu em seus sistemas", reclama numa mensagem contundente.
Cabe destacar que, como se a situação não fosse já suficientemente confusa, ao revisar o enlace proporcionado para seguir o estado do suposto pedido, Caballero descobriu algo ainda mais estranho. O número de rastreamento correspondia a uma entrega realizada em 2018, vinculada à portabilidade que ele tinha cancelado faz seis anos. Os dados do pedido mostravam que já tinha sido entregado naquele tempo, e não tinham relação com nenhuma transacção recente.
MásMóvil, entre desculpas e protocolos
A resposta oficial de MásMóvil chegou ao dia seguinte. Num correio assinado por sua equipa de privacidade, informaram-lhe de que tinham atendido sua solicitação de apagado de dados de acordo com o Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD). No entanto, também lhe recordaram que, por motivos legais, certos dados deviam conservar durante um tempo limitado em caso que fossem necessários para possíveis reclamações legais ou fiscais.
Por sua vez, MásMóvil assegurou a Caballero que sua solicitação de exclusão total levar-se-ia a cabo assim que os prazos legais o permitissem, e que, enquanto, sua informação estaria restringida.
A persistência das mensagens
Apesar das promessas de apagado, as mensagens seguiram chegando. "Olá, boas notícias! Estamos a preparar teu pedido. Avisar-te-emos quando saia do armazém", dizia um SMS enviado dias após que MásMóvil confirmasse a eliminação de seus dados. Outra mensagem, desta vez informando-lhe que o pedido já estava em caminho, chegou pouco depois. Indignado, o afectado voltou a exigir explicações. "Por que seguem me enviando coisas falsas? Tenho que apresentar uma denúncia?", pergunta.
Finalmente, o 22 de novembro, MásMóvil notificou a Caballero que sua solicitação de exclusão tinha sido completada e que não voltaria a receber mais comunicações de sua parte. Desde então, efectivamente, as mensagens cessaram. Ao menos, até este momento. "Já não tenho voltado a receber nada, mas isto não deveria ter passado. Tenho tido que insistir demasiado em algo que deveria ser tão singelo como respeitar minha privacidade e meus direitos", conclui o cliente.
Consumidor Global pôs-se em contacto com MásMóvil para conhecer sua postura mas, ao termo desta reportagem, não se recebeu resposta alguma por parte da companhia de telecomunicações.
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