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Kia põe em perigo a segurança de uma família desde faz seis meses com um carro 'sem marchas'
A marca de automóveis nega-se a assumir a responsabilidade pelas falhas recorrentes de um veículo novo de 20.000 euros
Uma tarde de verão, Rosa Vara de Rei encontrava-se conduzindo pela A3, acompanhada de sua família. Era um trajecto habitual, desses que quase se fazem em piloto automático, até que, de repente, algo falhou. Tentou reduzir de quinta a quarta marcha, mas nada ocorreu. O carro ficou em ponto morto.
"Foi aterrador. De repente, estás a graça da inércia, sem controle. Só podia pensar: 'Se alguém vem detrás, nos golpeia e nos leva por diante'", recorda Vara de Rei.
O sistema de marchas
"Desde verão, Kia leva pondo em perigo minha segurança e a de minha família", denúncia Rosa. O problema arraiga no sistema de marchas de seu carro, que tem falhado em quatro ocasiões em mal seis meses.
Não falamos de um carro velho nem de segunda mão. A jovem comprou um Kia Stonic quilómetro 0 em 2022 num concesionario oficial, confiando em que estava a adquirir um veículo fiável e em perfeito estado. "Asseguraram-me que tudo estava impecable, e durante 2023 não tive nenhum problema. Mas em julho de 2024, começou o pesadelo", conta Rosa Vara de Rei a Consumidor Global.
A primeira falha
A primeira falha ocorreu no final de junho, quando as marchas deixaram de funcionar. Nem primeira, nem segunda, nem marcha atrás. "Tive que chamar à grúa e deixar o carro na oficina. Disseram-me que as peças tinham que vir de Coreia, de modo que estive sem carro durante um mês", explica.
Nessa ocasião, proporcionaram-lhe um veículo de substituição, mas a tranquilidade foi breve. Em agosto, Rosa recuperou seu carro; em outubro, as marchas falharam de novo.
O perigo na estrada
Desta vez, a experiência foi ainda mais frustrante. Rosa não só voltou a ficar sem carro, sina que também não lhe deram um veículo de substituição. "Disseram-me que não tinham nenhum disponível. Que fazes nesse caso? Tens que tas arranjar como possas, enquanto eles tentam solucionar uma falha que já tinha passado dantes", destaca.
A terceira avaria chegou uma semana após que Rosa recolhesse o carro o 30 de outubro. "Às vezes, as marchas ficavam atascadas. Tenho chegado a arrancar em segunda porque se uma marcha fica posta, já não sai". Quando a oficina admitiu não saber como resolver o problema, escalou o caso a Kia Espanha. A resposta foi mudar uma peça, mas o tempo de espera foi o mesmo; um mês sem carro funcional.
Kia sabe que conduz um carro defeituoso
O mais alarmante, segundo a afectada, é que Kia era consciente de que estava a conduzir um carro defeituoso. "Sabiam que as marchas não funcionavam bem e que podia ter um acidente. Ainda assim, não me ofereceram nenhuma solução real", critica Vara de Rei.
O problema tem evidenciado um conflito que trasciende o veículo, relacionado com a falta de clareza entre o concesionario e o fabricante (cujo vice-presidente de vendas e experiência de cliente de Kia Europa é Carlos Lahoz) sobre quem deve assumir a responsabilidade. Enquanto Kia assegura-lhe que qualquer mudança de veículo ou reembolso depende do concesionario, este último assinala que é decisão de Kia.
Um carro de 20.000 euros
"É um carro que custa mais de 20.000 euros, híbrido e ecológico, e o único que me dizem é que consertá-lo-ão a cada vez que falhe. Quantas vezes mais tenho que passar por isto?", pergunta-se Rosa.
Cansada de esperar, a agraviada decidiu ir a redes sociais. Suas publicações têm gerado centos de interacções, e tem chegado a etiquetar a figuras como Rafa Nadal, embaixador de Kia, para dar mais visibilidade a seu caso. "Não penso me ficar calada. Isto não só é por mim, sina pela segurança de minha família e de todos os condutores que possam se cruzar comigo na estrada", faz finca-pé.
Denúncias em Legalitas e a OCU
Vara de Rei também tem recorrido a organizações como Legalitas e a OCU para procurar apoio legal. Kia Espanha, pressionada pela atenção pública, tem contactado com ela, mas até o momento não se ofereceu uma solução definitiva.
Como deveriam actuar as marcas automobilísticas ante falhas graves e recorrentes? É suficiente com consertar o mesmo problema repetidamente, ou deveriam oferecer soluções mais contundentes, como a mudança do veículo? Para Rosa, a resposta é clara: "Isto é uma vergonha. Não têm garantido minha segurança nem a de ninguém na estrada comigo. É como se não se importassem".
Consumidor Global pôs-se em contacto com Kia para conhecer sua postura oficial ao respeito, mas ao termo desta reportagem não se obteve resposta alguma por parte da marca.