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As academias sacam peito ante ChatGPT: "Aprender um idioma é para falar, um valor entre pessoas"
Scott Markham, presidente de FECEI, admite que a tecnologia tem vindo para ficar mas reclama que todos os actores do sector devem cumprir as leis e recusa o abaratamiento do ensino presencial
No dia que se anunciou que ChatGPT4 era capaz de traduzir idiomas em tempo real com Inteligência Artificial (IA), o valor de Duolingo, um popular aplicativo para aprender idiomas que cota no índice Nasdaq de Wall Street, caiu de forma notável. "As empresas de tradução e interpretação ir-se-ão ao inferno. Depois seguir-lhes-ão as academias de inglês e os verões no estrangeiro", publicou um utente em X, que se contava entre os apocalípticos.
O mais provável é que a transformação não seja radical nem dramática, mas há indícios que convidam a pensar que se estão a mover algumas placas. Por exemplo, segundo explicava em seu site Enrique Dans, professor de Inovação em IE Business School, "o número de estudantes de idiomas estrangeiros nos Estados Unidos e em outros países está a diminuir: a matrícula total em cursos de idiomas diferentes do inglês em universidades norte-americanas diminuiu um 29,3% entre 2009 e 2021, segundo os últimos dados da Modern Language Association (MLA)".
Desinterés na aprendizagem de idiomas?
Dans mencionava os benefícios cognitivos sócios à aprendizagem de idiomas, e terminava sua análise assinalando que, baixo seu ponto de vista, seria um erro que os actuais desenvolvimentos tecnológicos "dessem lugar a um desinterés na aprendizagem de idiomas". De facto, acrescentava, isso seria "um empobrecimiento da natureza humana provocado por um desenvolvimento tecnológico que sempre deveria contribuir a nos expandir, não a nos limitar".
Scott Markham é o presidente da Federação Espanhola de Centros de Ensino de Idiomas (FECEI) e explica a Consumidor Global que, a seu julgamento, o número de alunos que estudam idiomas em Espanha não tem descido "para nada", mas sim "pode ser diferente onde, como e através de que meios aprendem".
Meninos mais pequenos e menos adultos nas salas
A tendência, assinala Markham, é que a demanda cresce em idades temporãs: a cada vez começa-se a dar classes a estudantes mais pequenos. Se faz uns anos os meninos e meninas começavam aos sete anos, depois passou aos seis e agora é aos cinco.
Em mudança, os adultos vão menos aos centros. De facto, as Escolas Oficiais de Idiomas ("que não é meu sector, mas é representativo porque só vão alunos adultos", especifica Markham) estão a ter "muitas dificuldades" que lhes levaram inclusive a "tentar rebajar a idade primeiramente": em vez da os 18 anos, aos 16. "E nas academias privadas também temos notado uma tendência à baixa de adultos estudando idiomas em nossos centros", admite.
Empurre da IA generativa e as plataformas de idiomas
Com tudo, o presidente de FECEI recalca sua tese: não há menos estudantes, sina que simplesmente não estão a ir às academias. E isso se pode vincular com a pujanza da inteligência artificial generativa ou com as plataformas internacionais de idiomas "que provem/provêm de muitos países, como Coreia ou Índia, e não estão a cotar em Espanha", aponta Markham.
Esse flanco, o promotor, parece preocupar mais a este experiente. De facto, é algo que têm denunciado ante as administrações públicas e aparece recolhido em seu Livro Blanco.
O 30% dos alunos elegem plataformas
"É a cada vez maior, quase o 30%, o número de alunos-consumidores que elegem estas plataformas internacionais como Italki, Skyeng, Open English, Preply, Inglês com Cambridge ou Lingoda, entre outras", recolhe dito documento.
"Estas plataformas dão seu serviço a partir de 7-8 €/hora, enquanto somente os custos salariais dos centros em Espanha partem de 17 € por hora, aos que se acrescentamos o resto de despesas, o custo mínimo do serviço legalizado e oferecido desde Espanha está entre 25 e 30 € por hora", informa.
Cumprir as leis
"Estão a ensinar em nosso país, mas cumprindo (ou não) a lei do país de origem", denúncia Markham. "Cremos firmemente no mercado livre, mas também pensamos que todo mundo tem que cumprir as leis dos países nos que opera", agrega.
Neste sentido, as diferenças de marco normativo oferecem às plataformas "uma vantagem competitiva em frente às empresas espanholas que lhes permite obter uma maior quota de mercado, substituindo literalmente os postos de trabalho nacionais por outros localizados em terceiros países. É por isto que a maioria destas plataformas não se localizam nem tributam em Espanha", reflete o Livro Blanco.
Distinção entre sectores
A foto é complexa, e sai movida. Ademais, há ausências: a dificuldade das academias para contratar nativos tem aumentado depois do Brexit. Há muitos actores em jogo, o mercado impõe velocidade e o currito que precisa manejar uma série de termos em inglês mas não falar em seu dia a dia pode apañarse graças a ChatGPT ou similares, e quiçá dantes não podia. Assim, o presidente de FECEI remarca que se deve distinguir entre vários sectores: o do ensino ou a aprendizagem de idiomas e o de traduções simultâneas.
Markham afirma que, conquanto ele não representa ao sector da tradução, é um ramo que "o está a passar mau", porque a tradução jurada está a ser superada e tem perdido valor em Espanha. "A gente está a ir a ChatGPT ou a plataformas similares para fazer suas traduções, que são de certa qualidade, não vou dizer que sejam más. Antigamente, as traduções de ferramentas como Google não eram tão boas. Agora ChatGPT sim é capaz das fazer", concede.
"A IA está aqui"
Se o assunto aborda-se desde a óptica das academias de idiomas, este experiente assinala que a IA é algo que "está aqui", mas não crê, a nível pessoal, que estejamos preparados ainda "para o tratar de forma global". E não o crê, entre outras razões, "porque as administrações públicas não têm legislado" para opinar claramente por que cauces deve discurrir este impetuoso rio.
OpenAI tens just demonstrated its new GPT-4ou model doing real-time translations 🤯 pic.twitter.com/cl0gp9v3kn
— Tom Warren (@tomwarren) May 13, 2024
"É um avanço tecnológico e é nosso dever, como profissionais vocacionales que somos (muitos de nós), atender às novas tecnologias, sabendo que existem debates morais importantes, como temas de copyright , que há que ter em conta", declara Markham. A nível pessoal, sublinha, devem tratar-se estes temas de forma urgente, e é sua responsabilidade "complementar a formação que se dá em colégios e universidades com o uso ético destas tecnologias".
A redacção faz-se no sala
Markham põe um exemplo da mudança que resulta muito clarificador: dado que é evidente que os alunos de um centro podem copiar uma redacção de ChatGPT, o que se faz agora é não a mandar a casa a modo de deveres, sina que se redigem em classe, adiante do professor.
"Quiçá também há que valorizar mais quais são os prompts, as instruções, que se dão à IA de turno. Que lhe diz o estudante à máquina para que produza os textos, porque da máquina nunca sai um texto que tu não tens pedido", apostilla.
As academias sacam peito
Markham não acha que uma estratégia para captar a esses alunos adultos que já não estão nas academias seja baixar os preços. De facto, nega-se em rotundo e saca peito. "Nós temos aguentado e perdurado muitos anos, apesar de várias crises económicas. Temos passado uma pandemia, como todos, e temos sido capazes de reinventarnos e de dar uma resposta às pessoas que tinham que ficar em casa, nos convertendo em empresas on-line com métodos virtuais, usando Teams, Zoom, Hangouts ou outras", expõe.
E, hoje em dia, o presidente de FECEI acha que essas pessoas que estiveram em sua casa aprendendo hoje querem estar em suas academias, "porque aprender um idioma é para o falar, para o usar. É um valor entre pessoas que não consegues através de uma máquina", defende.
"Abaratarnos não, para nada"
Os diferentes sectores adaptar-se-ão, como o fizeram nos últimos tempos. O negócio, crê Markham, vai para a personalização. "E nós somos capazes de personalizar a educação melhor que faz 10 anos, de maneira que abaratarnos não, para nada. Vivemos num sector paupérrimo, onde os preços que cobramos não chegam a pagar o salário que requer um professor para trabalhar", assegura.
"Reivindico que, como sector, não só não podemos abaratarnos, sina que devemos cobrar o que realmente vale nosso serviço, que é mais do que se está a cobrar".
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