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Os afectados do cártel de carros falam: "Não sabia que era vítima e podia recuperar 1.800 euros"

Renault, Ford, Toyota e outras 17 marcas de automóveis impuseram um sobreprecio de 10% a seus clientes mediante um pacto ilegal de preços

Un concesionario de Renault   EP
Un concesionario de Renault EP

Entre 2006 e 2013, um acordo entre os principais fabricantes de veículos em Espanha implicou a manipulação ilegal de preços no sector automobilístico, provocando que os consumidores pagassem um sobreprecio, que se quantificou num 10,61% do preço de compra do carro mais os interesses. Esta trama, conhecida como Cártel de carros, implicou a marcas de renome como Audi, BMW, Renault, Ford, Toyota e outras, que se beneficiaram ao trocar informação comercial sensível e lembrar estratégias de fixação de preços em detrimento dos compradores.

A magnitude desta fraude veio à tona depois de uma investigação liderada pela Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC), que sancionou às empresas envolvidas. A trama afectou aproximadamente ao 91% do mercado automobilístico desses anos, o que deixou a milhões de consumidores sem alternativas competitivas de compra. Os compradores não só pagaram a mais, sina que se enfrentaram a um mercado distorcido, onde a concorrência justa tinha sido substituída por um monopólio encoberto.

Muitos não sabem que podem ser vítimas

Muitos dos compradores não sabiam que tinham sido vítimas de uma fraude até que organizações como a Organização de Consumidores e Utentes (OCU) ou o Agrupamento de Afectados pelo Cártel de Carros (AACC) começaram a se mobilizar para defender seus direitos. Desde AACC explicam a Consumidor Global que os afectados, ao inteirar da possibilidade de reclamar uma compensação, se sentem inicialmente desorientados. "O mais importante é que a gente tenha claro que se compraram um carro entre 2006 e 2013, podem estar afectados. Para facilitar o processo, temos criado um simulador em nossa página site, onde os consumidores podem comprovar se seu veículo está na lista de afectados", assinala.

El comunicado de la OCU al afectado Borja Hortelano CEDIDA
O comunicado da OCU ao afectado Borja Hortelano CEDIDA

Borja Hortelano, um dos afectados, relata a este meio como recebeu uma carta da OCU na que lhe informavam de que podia reclamar o sobreprecio que pagou por seu Renault Megane. "Nem sequer sabia que existia este problema até que me contactaram. O bom é que a organização se encarrega de todo o processo legal. Em meu caso, poderia recuperar uns 1.800 euros", conta Hortelano, quem uniu-se à demanda colectiva apresentada pela OCU.

A luta por conseguir indemnizações

Um dos maiores obstáculos para as vítimas tem sido a coleta da documentação necessária. Dado que a fraude ocorreu faz mais de uma década, muitos afectados já não conservam os documentos que provam a transacção comercial. No entanto, desde o agrupamento de afectados tranquilizam aos prejudicados ao sublinhar que sua equipa de advogados "tem desenhado uma estratégia específica para que nenhum caso fique sem reclamar, inclusive em situações onde os documentos originais são difíceis de recuperar".

Apesar da magnitude do escândalo, a luta por conseguir indemnizações tem sido lenta. As demandas colectivas, lideradas pela OCU e AACC, enfrentam dificuldades devido à falta de unificação de critérios nos julgados. "Em algumas províncias, os juízes têm recusado casos por considerá-los prescritos, enquanto em outras as demandas têm prosperado. Isto gera muita frustración entre os afectados", comentam desde o agrupamento. "Na actualidade, a percentagem a receber tem ido aumentando e situa-se entre um 7% e um 9%, dependendo da província e o juiz que opine. A pretensão de nossa equipa é conseguir até um 15% sobre o preço de aquisição do veículo", apontam.

As marcas implicadas

O caso do cártel de carros abarca a mais de uma veintena de fabricantes de automóveis sancionados pela CNMC. Mais especificamente, estas demandas afectam a quem compraram seus carros:

  • Renault entre fevereiro de 2006 e julho de 2013
  • Ford entre fevereiro de 2006 e julho de 2013.
  • BMW de junho de 2008 a agosto de 2013.
  • Mitsubishi entre março de 2010 e agosto de 2013.
  • Peugeot, Citröen e Opel entre fevereiro de 2006 e julho de 2013.
  • Fiat, Alfa Romeo e Lancia de fevereiro de 2006 e agosto de 2013.
  • Chrysler, Jeep e Dodge entre abril de 2008 e agosto de 2013.
  • Kia entre março de 2007 e novembro de 2012.
  • Mazda entre março de 2010 e fevereiro de 2012.
  • Porsche de junho de 2010 a agosto de 2013.
  • Seat de fevereiro de 2006 a janeiro de 2013.
  • Volkswagen, Audi e Skoda de outubro de 2008 a junho de 2013.
  • Hyundai de março de 2010 a agosto de 2013.
  • Chevrolet de fevereiro de 2006 a agosto de 2013.
  • Mercedes de março de 2010 a fevereiro de 2011.
  • Nissan de junho de 2008 a agosto de 2013.
  • Lexus e Toyota de fevereiro de 2006 a agosto de 2013.
  • Honda de abril de 2009 a agosto de 2013.
  • Volvo de março de 2010 a agosto de 2013.

Por exemplo, se alguém adquiriu um veículo de Renault entre fevereiro de 2006 e julho de 2013, ou um de BMW entre junho de 2008 e agosto de 2013, pode ser elegible para reclamar uma compensação. A OCU tem apresentado até o momento sete demandas colectivas, a última delas em julho de 2024, contra Renault, a marca do carro do afectado Borja Hortelano. A organização estima que os afectados poderiam recuperar até um 17,5% do preço de compra de seu veículo, somando os interesses de demora.

Afecta-te? Não te conformes: reclama

Para muitos consumidores ocasionas, o processo de reclamação pode parecer desalentador. A possibilidade de ter que se enfrentar a longos procedimentos judiciais e a ideia de que poderiam não recuperar uma quantidade significativa tem feito que alguns afectados decidam não reclamar. No entanto, tanto a AACC como a OCU instam a reclamar, simplificando os processos e garantindo que todos os afectados recebam o que lhes corresponde. Ademais, muitos bufetes e organizações, como a AACC, só cobram honorarios em caso de sucesso, o que reduz o risco financeiro para os reclamantes.

Na mesma linha, a OCU especifica que "o processo judicial não tem para o cliente nenhum custo neste momento, nem é necessário que se faça sócio subscritor de OCU. Se a resposta da Justiça fosse negativa também não dever-se-á fazer frente à costa que se gerem. Só em caso de sucesso, a organização recuperará o custo da acção com cargo a uma percentagem da indemnização final que ao cliente lhe seja reconhecida".

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