O Jogo do Calamar converteu-se num fenómeno global desde sua estréia no ano 2021. Uma série surcoreana conseguiu manter em vilo e quase encadear a um grande sector da população. As produções asiáticas posicionaram-se num bom ponto de interesse e as plataformas de streaming acolhem-nas agora com gosto em seu catálogo. Netflix, ademais, quer fazer suas próprias produções, isso sim, inspirando nas histórias que nascem em Webtoon, a página de bandas desenhadas on-line. De facto, algumas destas produções converteram-se em autênticos sucessos.
Como se fosse seu gallina dos ovos de ouro, Netflix exprime a plataforma de quadrinhos digitais para depois adaptar ao ecrã. Entre elas destacam Estamos morridos, uma série de zombis que atingiu o top 10 durante 11 semanas e foi do mais visto em 94 países em 2022. Outros dos títulos são Nos vemos em meu 19ª vida, estreada em junho, e que atingiu os conteúdos mais vistos durante quatro semanas; Rumo ao inferno, que também o conseguiu em 93 países e Ainda assim, em 33.
Que é Webtoon
Os webtoons têm uma peculiaridade: são bandas desenhadas verticais. Estão especialmente desenhados para os ecrãs e para lê-los fazendo scroll, baixando e baixando no ecrã do telefone móvel, a tableta ou o computador. O gigante tecnológico surcoreano Naver lançou em 2004 Webtoon (acrónimo de site e cartoon, quadrinho). Ainda que nasceu em Coreia, a companhia já oferece seu serviço em 100 países e em 10 idiomas, graças às traduções e à actividade de 900.000 criadores de todo mundo.
Pese a que Webtoon deu o salto a Estados Unidos em 2014, uma década após seu nascimento, e a dia de hoje sua sede já se encontra em Califórnia, não em Seul, a maior parte das bandas desenhadas que se convertem em séries seguem sendo histórias de artistas coreanos. A plataforma dispõe de um aplicativo para Coreia e outra que se pode configurar em diferentes idiomas para o resto do mundo; o mesmo ocorre com o site. Conta com 85,6 milhões de utentes. Em sua página site e aplicativos encontram-se disponíveis casi um milhão e meio de títulos e a cada mês os utentes visitam 10.000 milhões de páginas. Estas são as cifras que acompanham a Webtoon.
O auge das séries coreanas
"O auge do audiovisual coreano está a vir, sobretudo, através das plataformas de streaming, mas realmente o fenómeno chegou faz tempo a Ásia. Ademais, a manga japonês leva muito tempo adaptando-se a séries de televisão, é o que se chama anime", explica a Consumidor Global Borja Crespo, director do Postgrado em Banda desenhada e Manga no Centro Universitário Ou-tad.
O experiente assinala que, pese a que se pensava que o anime ia tocar teto faz uns anos, não para de subir. "Uma das razões principais são as plataformas em streaming como Netflix. Por outro lado, o fenómeno dos webtoons, que em realidade é uma banda desenhada digital, em ocidente, sobretudo, em Europa não está a terminar de funcionar porque ainda gostamos muito do papel", destaca. No entanto, Crespo reconhece que estas histórias adaptadas ao visual sim estão em pleno auge.
Netflix vê-o como um potencial
"Quase todos os cineastas orientais em algum momento em seu filmografía têm alguma série ou algum filme baseado em algum webtoon", destaca Crespo. "Netflix, a dia de hoje, tem um catálogo bastante sesgado, com novas séries coreanas e muitas baseadas numa banda desenhada digital, como é Sweet Home, que está integralmente em Webtoon. Funcionou tão bem a primeira temporada que em breve se vai estrear a seguinte", menciona.
Para Crespo, a base deste auge está nas novas gerações, onde a cultura otaku está muito arraigada. "Netflix viu-o como um potencial, sobretudo, porque os otakus são muito fiéis, mas agora se estão a cair as barreiras do manga e a prova é que precisamente em Netflix, em seu catálogo, está apanhando muita mais produção asiática de todo o tipo, tanto thrillers, como comédias, como dramas ou como comédias românticas", conclui.