Vodafone é uma das grandes companhias telefónicas que operam em Espanha. Tem milhões de clientes, ofertas audiovisuais potentes e inclusive teve seu nome no metro da Porta do Sol… mas também mostra algumas grietas. Entre elas, sua rede de fibra óptica. A despliega através de ONO, marca que possui depois de uma compra que lhe saiu por 7.200 milhões de euros. Ainda que isso, em teoria, não seria problemático. Mas o que ocorre é que não chega a todos lados e, ainda assim, a vende, quando o que oferece em realidade é cabo coaxial.
Para os menos técnicos, se a fibra é azeite de oliva virgen extra, o cabo coaxial é só de oliva. Apesar de que não sempre é singelo distinguir uma de outra a simples vista, alguns consumidores denunciam que sua conexão se cai, ou o internet vai lento e, então, lambam a um técnico para a revisar. Aí o truque fica revelado: a espessura do cabo mostra que Vodafone lhes deu gato por lebre.
A fibra é mais fina e não leva metal
José Miguel C. trabalha em telecomunicações e tem comprovado de primeiro mão que o que muitas vezes chega a casa "não é o que o cliente tem contratado". Baixo seu ponto de vista, o facto de que Vodafone venda uma coisa e ofereça outra "é uma fraude" ou no mínimo "publicidade enganosa": a velocidade prometida não se cumpre, o que se pode comprovar de maneira singela com um teste rápido.
Este antigo cliente da companhia também conta que um cabo e outro se podem distinguir pela espessura: a fibra (que proporciona bem mais largo de banda que o coaxial) é plástico, não tem elementos metálicos. Em mudança, o coaxial é similar um cabo de antena de televisão. "Tenho tido router, e a velocidade era má, ainda que também há que ter em conta que a conectividade do vizinho afecta à tua", reconhece. A nível técnico, acrescenta que o cobre (presente à coaxial) tem uma degradação, se oxida. A fibra não, porque é "um faz de luz" que viaja através de um plástico. São, em definitiva, dois modelos diferentes pelos que parece justo pagar preços diferentes.
O que põe o contrato e o que recebes em realidade
Baixo o ponto de vista de José Miguel C., pode-se considerar que Vodafone realiza "práticas abusivas", porque quando o cliente se descadastra ao se dar conta de que não tem o que pediu, se lhe cobra. "Existe o direito de desistência, e o cliente deveria ser livre nesse sentido", recorda. Ademais, o seu não é um caso isolado. Em Twitter é singelo encontrar dezenas de comentários na mesma linha contra a companhia telefónica.
Por exemplo, César do Amo menciona à assinatura e escreve que "dizem que é fibra e é mentira, é fibra até o baixo do edifício e depois cabo coaxial até o router". Por sua vez, David Jiménez opina que os responsáveis pela companhia "preferem que percas um trabalho dantes que te pôr fibra óptica. Nos contratos põe-te fibra e depois é coaxial com uma mierda de velocidade", protesto.
A postura de Vodafone
Este meio pôs-se em contacto com Vodafone, e desde a companhia apontam duas chaves para justificar o ocorrido: "Não discriminamos entre tecnologia" (isto é, não recusam uma conexão coaxial pelo mero facto do ser, já que em muitos casos é igualmente válida) e também que a simetria em fibra "está sujeita a condicionantes geográficos". Isto significa, singelamente, que há muitos lugares aos que não podem chegar. E é verdadeiro.
O problema reside em que, como expressam os afectados, em determinados casos a empresa sabe que não pode oferecer fibra óptica, mas ainda assim a promove.
Rede de conexão herdada de ONO
Outras fontes do sector das telecomunicações (alheias a Vodafone e a sua concorrência) reconhecem que sim lhes consta que Vodafone leve a cabo estas práticas, mas, sem lhes restar gravidade, relativizan seus envolvimentos. "Se tu tens estado bem três anos com eles, sem nenhuma queda, e depois te vais e te inteiras de que não tinhas fibra, te afecta tanto?", perguntam-se. A seu parecer, trata-se, fundamentalmente, de um tema de comunicação comercial. "A gente sabe o que é ADSL e o que é a fibra, mas se lhe dizes coaxial, não sabe a que te referes", opinam.
"Há que pensar que Vodafone herda o sistema de conexão a Internet de ONO, e quiçá não pôde fazer todo o que quis por melhorar sua rede", enfatizam estas fontes. "Agora bem, para a grande maioria dos utentes, a diferença entre fibra e coaxial não se nota. Se não és um streamer profissional que precise muita latencia ou alguém que realiza muitas videollamadas, a diferença entre um sistema e outro é pequeno. Se dedicas-te a ver Netflix e a chatear, mal o notas", relatam.
"Asseguraram-me que era simétrica"
Daniel Serrano viveu este truque em primeira pessoa. Como afectado explica que, à hora de contratar Vodafone, desde a companhia lhe ofereceram fibra simétrica (um tipo de óptica). Então, quis cerciorarse de que realmente seria tal e não algo de pior qualidade. "Insisti e asseguraram-me que sim, mas depois me chegou o instalador com a equipa coaxial. E quando o provei vi que era asimétrica. Vodafone não o quis reconhecer e quando me descadastrei me cobraram a instalação, apesar de que do que me tinham instalado não era o que me disseram", detalha.
Serrano trocou várias mensagens com a operadora, que lhe pedia provas: "Se dispões de um documento ou justificante onde se te indique que o serviço é simétrico, no-lo anexa e o revisamos", lhe espetaron. No entanto, Serrano conta que não dispunha de dito documento "porque foi uma contratação telefónica", lamenta. De modo que tocou-lhe pagar ao final "uns 150 euros" ao não ter cumprido os 12 meses que lhe exigia a empresa para se descadastrar de forma gratuita.
Diferente velocidade de subida e de baixada
A Óscar M. Pérez sucedeu-lhe algo similar. Foi a uma loja de Vodafone em Palencia e, apesar de que partia com dúvidas e de que tratou de se assegurar, a comercial "jurou e perjuró que era fibra simétrica de 600 Mb (megabites por segundo)", conta. No entanto, no momento da instalação, este afectado viu as características do cabo. "Aí já me percaté", expressa.
Decidiu escrever a Vodafone Espanha, a quem perguntou se ele, com as características de sua localização, poderia passar de HFC (cabo coaxial) a fibra óptica. A própria companhia desmentiu-lho: "Não seria possível a mudança por enquanto, o sentimos". A seguir, confirmou através do aplicativo que sua velocidade de baixada da conexão (isto é, a velocidade de descarga de dados) era de 600 Mb, enquanto a de subida descia aos 100 Mb.
Uma instalação interior
Jesús Dacosta denuncia a mesma situação. "Tinha muitas desconexões na linha e pensava que era pelo router. A cada ano, Vodafone subia a quota e assegurava que punham gigas ilimitados nas linhas móveis, quando eles sabiam que mal as utilizava", relata. "Eu tinha uma quota de uns 34 euros e a subiram até 75 euros quando se acabou a permanência. Chamei-lhes e disseram que isso era o que tinha. Cansei-me e passei a Simyo , e quando vieram a me instalar a conexão me ensinaram que o que tinha era cabo coaxial (mais grosso, quase o duplo que o cabo da fibra), que vem directo desde a rua. A fibra tem que ser recalibrada e está numa instalação interior da casa", descreve o afectado.
"Quando lumes a Vodafone só te querem vender um router de última geração que, segundo eles, não tem cortes de conexão. Mas nunca te comentam que se deve mudar a instalação", clama Dacosta. Ademais, tal e como acrescenta, em toda a publicidade e nas facturas aparecia a palavra "fibra". Por isso, segundo José Miguel C., a chave está em pôr atenção, inclusive no momento da instalação, para ver que é o que coloca, silenciosamente, o técnico. Porque, às vezes, toca a fibra. A sensível.