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Os vendedores da Vinted sentem-se defraudados: adeus ao dinheiro e à sua roupa

Os utilizadores explodem contra a plataforma por dar a razão aos compradores sem verificar os problemas ou reclamações feitas

Teo Camino

Um telemóvel com a aplicação aberta / VINTED

"A app da Vinted é uma das formas mais fáceis de vender a roupa que já não usas", explica a jovem de sorriso infinito de um dos milhares de anúncios da plataforma que circulam por todas partes. Uma fição que pouco ou nada tem a ver com a realidade que narram muitos vendedores, que denunciam ter sido vítimas de "uma fraude" e de ter perdido o seu dinheiro e a peça que já não usavam.

Um homem tira umas calças de uma caixa / PEXELS

Ao contrário da Wallapop, a Vinted é um e-commerce de compra entre particulares no qual tudo funciona por transportadora e não há um encontro presencial entre vendedor e comprador. Este funcionamento implica uma série de "riscos", segundo os especialistas, já que a plataforma tem "lacunas".

Os vendedores da Vinted: sem dinheiro e sem roupa

"Viram que o novo método de fraude é dizer que o artigo é falso para se ficar com o artigo e com o dinheiro?", expõe Cris à Consumidor Global, uma utilizadora da Vinted que afirma que no último mês perdeu com esta prática um casaco Calvin Klein e dois pares de ténis.

Face este tipo de incidências, ainda que se justifique a autenticidade do produto com a fatura de compra, a "Vinted dá a razão ao comprador e tu ficas sem o dinheiro e sem a tua roupa", acrescenta Cris, que explica que "se alguém te quer defraudar, o faz e se sai com a sua porque a Protecção do Comprador da Vinted é na realidade a sua comissão de venda". Agora, depois de um ano na aplicação e três perdas, decidido cancelar a inscrição.

Muitos utilizadores sentem-se defraudados

Tal como Cris, há centenas de pessoas que sofreram o mesmo problema. No forum Trustpilot, por exemplo, 84% das para perto de 2.000 avaliações que há sobre a Vinted qualificam os seus serviços como "muito maus". Está a converter-se "num ninho de golpistas. Envias a peça de roupa, mandam fotografias da caixa vazia e ficam com o dinheiro e o artigo", denúncia Isabel, que considera que a plataforma é uma pechincha para gente “sem vergonha”".

Uma mulher experimenta uma camisola / PEXELS

O caso que expõe à Consumidor Global Sara (de Tarancón, Bacia) é ainda mais chocante. Vendeu um casaco, mas mas era pequena demais para o comprador e ela processou a devolução do artigo. Nesse altura, "a Vinted lava as mãos e diz-me que devolva o dinheiro à compradora, que também tem o meu casaco", explica a afetada. Agora, três semanas depois, Sara pôs-se em contato com a compradora por telefone, e esta lhe enviou uma captura de ecrã com o saldo que tem na aplicação. Para sua surpresa, a rapariga "não tem o dinheiro. Ficou na Vinted!", afirma enquanto explica que está a reunir o necessário para pôr uma reclamação no Centro Europeu do Consumidor. "Disse-me que quando recupere o dinheiro não tem problema em me devolver o casaco", diz.

Uma plataforma "a meio fazer"

A Vinted "protege mais o comprador que o vendedor", expõe à Consumidor Global o consultor digital em comércio electrónico, Juan do Real Martín, referindo-se ao serviço de Protecção do Comprador, um dos poucos que oferece a plataforma.

Duas mulheres olham peças de roupa / PEXELS

"Crescem sem solucionar a gestão do consumer to consumer nem os riscos e incidências que assumem tanto vendedores como compradores", aponta Michele Girotto, coordenadora do mestrado em Gestão do Customer Service Experience, Retail e E-commerce da Universidade de Barcelona. Este tipo de plataformas "estão a meio fazer. Têm bastantees lacunas e não avisam das possíveis problemáticas que implica o seu uso", aponta Laura Opazo, comunicadora especialista em moda e autora do livro Armário Sustentável.

A comunicação é impossível

Além disso, contactar com a Vinted não é nada fácil. "Respondem-te o mesmo a tudo. São bots", critica referindo-se ao serviço de atendimento ao cliente Gabriela Talos, que afirma ter sido vítima de uma fraude por parte de uma compradora.

A estratégia da empresa "é crescer em número de utilziadores e mais à frente já terão tempo de fidelizar com um atendimento ao cliente que ainda não está entre as suas prioridades", aponta Girotto.

Como minimizar os riscos

Os utilizadores concordam em que é imprescindível enviar o máximo de detalhes possíveis sobre o produto e fazer fotos e vídeos do processo de embalagem, ainda que às vezes tudo isto não seja suficiente. No general, este tipo de aplicações móveis nas quais não há presença física simultânea de comprador e vendedor "não são recomendáveis se se quer minimizar os riscos", aponta Del Real.

Numa plataforma de compra entre particulares "têm especial importância as avaliações, o contato entre as duas partes e entender quem assume que riscos", explica Girotto. Por este motivo, é importante ter cuidado com os compradores novatos ou sem avaliações, porque "alguns não se incomodam em pôr um nome credível, nem se cortam e vão ao mais caro para fazer um bom lote", sentencia a vendedora Laura.