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"Tiraram-me 2.000 € em 10 minutos": assim se sofre em primeira pessoa a fraude em nome de Unicaja
Os ciberdelincuentes falsean o número do banco para que a vítima confie neles, e depois lhe dão instruções para evitar um suposto envio de dinheiro
Que significam 2.000 euros para uma pessoa? Um salário ou dois, as poupanças conseguidas com muito esforço, um carro de segunda mão, umas férias a todo trapo, a melhor versão do iPhone 14 Pró Max… Ou um motivo pelo que brigar. É o que fazem vários centos de clientes de Unicaja , que têm sofrido uma sofisticada fraude de ciberdelincuentes que se faziam passar pelo banco. Entre eles está Marcos Ramírez. Ele tem perdido 2.000 euros, e ainda se pergunta como tem podido suceder algo assim.
As fraudes estão à ordem do dia, desde os estranhos telefonemas que parecem vir do Reino Unido até o sector das criptomonedas, passando pela banca. Agora bem, quando um consumidor recebe um SMS que parece de seu banco, baixa suas defesas.
Um SMS desde o próprio número do banco
Tudo ocorreu no dia 29 de julho, e o primeiro foi um SMS. "Era uma mensagem que me chegou através do próprio número de Unicaja. Quero dizer, tenho guardado o número, e apareceu no fio de SMS ao que me chegam, correctamente, as chaves do banco para confirmar uma operação de Bizum ", argumenta Ramírez. O objectivo de dito mensagem era assustar à vítima e pôr em marcha a complexa engrenagem do engano: "A mensagem dizia-me que se tinha vinculado um novo dispositivo –Oppo 12-- a minha conta bancária. Também dizia 'se não reconhece, verifique imediatamente'. E, ao pensar que um móvel que não era o meu podia aceder a minha conta, cliquei aí", narra.
Dito link levou-lhe a um site "cuja aparência era igual que a de Unicaja". Mas esse site era falso. Ramírez introduziu seus dados (o utente e senha da banca digital). Ao fazê-lo, apareceu um aviso que lhe informava de que sua incidência tinha sido registada e que, a seguir, receberia um telefonema. Recebeu-a ao instante. "De novo, origem Unicaja", recalca o jovem afectado.
O chamariz de Mustafá: uma fraude para evitar uma fraude
A voz que lhe falou era a de uma pessoa totalmente tranquila, "com verdadeiro acento madrileno", assegura Ramírez. "Nesse telefonema, disseram-me que se ia realizar uma transferência de 2.000 euros a um tal Mustafá. Perguntaram-me 'Reconhece?', e eu fiz questão de que não reconhecia a operação, que esse não era eu, que se cancelasse. Então o estafador respondeu-me que para cancelar a transferência a Mustafa, devia lhe dizer o código que me acabava de chegar por SMS. Aí duvidei, foi o único que me pareceu raro, mas como estava tão nervoso e esse segundo SMS também chegou desde o número de Unicaja, quis o cancelar e não o pensei. Disse-lhe o código imaginando que a transferência anular-se-ia. E todo o contrário: com isso, já o tinham", relata Ramírez.
Isto é, trata-se de um trampantojo, uma cuadratura do círculo: uma fraude na que os estafadores simulam estar a evitar uma fraude. Mustafá não existia. Dantes de dar-se conta do que verdadeiramente ocorria, Ramírez achou que seu problema estava em via de se solucionar, mas quis cerciorarse. "Ao minuto, chamei de novo ao mesmo número, imaginava que responder-me-ia o tio com o que acabava de falar. E então contestou uma operadora da central de atenção ao cliente de Unicaja. Disse-me, com certos maus modos, que se eu era o garoto com o que tinha falado dantes e que por que não tinha pendurado. Disse-lhe a essa senhora que eu não tinha falado com ela", descreve.
Mais de 500 afectados
Aqui, a situação torna-se liosa: Ramírez tinha chamado ao verdadeiro número de Unicaja, onde, nesse momento, estavam a gerir uma situação idêntica à sua. "Disse-me que acaba de falar com um menino lhe comentando o mesmo que eu. Isto é, que é algo que está a passar constantemente", narra, sem perder o assombro.
E aí terminaram os telefonemas. Ramírez deu-se conta de que tinha gato encerrado e apresentou uma denúncia ante a Polícia Nacional o mesmo 29 de julho. "Quando me ocorreu, procurei informação. Soube que era uma fraude, e depois pude ver que éramos muitos os afectados. Ao princípio, nos grupos éramos 300 afectados. Hoje somos mais de 500", afirma. Até onde chega o boquete? Difícil dizê-lo. Em Facebook criou-se um grupo que leva por título "Plataforma afectados ciberataque a Unicaja Banco". Soma quase 1.000 membros.
"Estão obrigados a implementar medidas de segurança"
Ramírez apresentou a reclamação no apartado de Atenção ao cliente de Unicaja, e explica que têm um prazo "de uns dois meses" para contestar. Por enquanto, nada de nada. A coincidência dos tempos também é estranha: a fraude chega poucos meses após a fusão de Liberbank com Unicaja. "No banco são os responsáveis pelo tratamento de meus dados, estão obrigados a implementar todas as medidas de segurança. E se, ainda com esse escudo, ocorre algo, devem assumir responsabilidades", afirma Ramírez, enfadado. "Há gente que pôs a denúncia faz dois meses e o banco já lhe disse que não lhe vai devolver o dinheiro", conta, sem cair na resignação. "Parece ser que a única forma do recuperar será ir a julgamento".
A Ramírez lhe birlaron 2.000 euros, mas há um afectado que tem perdido 40.000 com o mesmo método. Para unir forças, os afectados têm criado grupos de WhatsApp , divididos por comunidades autónomas, nos que comentam seus casos e compartilham se algum obtém uma resposta positiva por parte do banco. Neles, o cabreo se mistura com os resquicios de esperança e com as elucubraciones. "Alguns dizem que isto com Liberbank não passava. É algo muito raro. De facto, alguns acham que na fraude está metida gente que esteve dentro do banco. Quiçá com a fusão despedissem a pessoas que tinham muita informação e saibam fazer estas coisas, eu que sê", conjectura Ramírez.
Falsear o número de origem é possível
Consumidor Global tem perguntado a Unicaja por este assunto, mas a entidade tem declinado realizar declarações oficiais. A Polícia Nacional sim tem contestado. "É verdadeiro que temos uma campanha de phising sócia a Unicaja e um montão de denúncias relacionadas com este tema", expressam fontes policiais. Sobre o uso do número falso, estas mesmas fontes não se mostram muito surpresas. "Não é a primeira vez que o vemos. O número de origem, o que se conhece como o CLI (Calling Line Identification) se pode falsear pára que apareça um que resulte de confiança à vítima em lugar do número real que inicia o telefonema. O telefonema realmente não se faz desde Unicaja, mas o parece", explicam.
Marcos Ramírez não sabe o que passará, mas tenta se mostrar optimista. "Quero achar que devolver-nos-ão algo com o tempo, não sê se terá que esperar um ano ou quanto, mas somos muitíssimos afectados e vamos empurrar. Algo teremos que conseguir", vaticina. Mais adiante, quando todo se solucione e receba o reembolso, tem previsto mudar de banco e se esquecer de Unicaja. "E se finalmente não se soluciona, se não recebe seu dinheiro de volta?", perguntamos-lhe. Olha-nos e esboça médio sorriso. "Isso não o posso contar por aqui".
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