Há milhões de anos, umas pequenas algas conhecidas como diatomeas povoavam os mares, lagos e oceanos. Como parte do plãncton, desenvolveram uma pequena concha feita de carbonato de cálcio, como se fosse uma minúscula concha pré-histórica. Com o tempo, estas pequenas conchas criaram um pó esbranquiçado que se depositou no fundo do mar e que hoje conhecemos como terra de diatomeas.
E para que serve este organismo milenário? Tem sido usado como fertilizante, inseticida, estabilizador de alimentos e inclusive suplemento alimentar para os humanos. Ainda que sem dúvida, o seu último sucesso tem sido a sua função de desparasitador dos animais de estimação, apesar do fato de que, entre suas muitas virtudes, a ciência não foi capaz de demonstrar muitas evidências sobre seu efeito nos animais.
Diatomeas contra insetos
A teoria dos comercializadores de diatomeas é bastante simples. Grande parte da composição desta terra, entre 70% e 90%, é dióxido de silício, o resto, carvão e cálcio. Este composto interage com o corpo dos insetos e parasitas ao romper a sua carapaça. Aí, absorve toda a humidade do seu corpo e seca-os, de forma que caem dos cabelos e a pele dos animais de companhia. Este efeito físico, que não químico, é uma das maiores reivindicações do produto, segundo afirma Raúl Martínez, diretor comercial da Diatomeas Iberia, empresa espanhola que distribui este pó para animais e pessoas.
Mas além disso, também se pode administrar por via oral aos animais. Ao misturar-se certa proporção com os alimentos, este produto contribui minerais e, em teoria, desparasita o seu interior. Conquanto, não se puderam comprovar estes efeitos uma vez ingerido. "Tentei reunir-me com veterinários para fazer exames verificáveis, mas negaram-se porque não queriam trabalhar com empresas privadas. Também é verdade que se trata de um produto não patenteável, de modo que não há muitas empresas que se interessem em fazer grandes estudos", indica Martínez.
Sem estudos que demonstrem a sua eficácia
O efeito deste produto sobre os insectos não deixa lugar a dúvidas. Na verdade, a União Europa reconheceu-o como biocida. No entanto, isto só faz referência à sua função como inseticida. Não está reconhecido como um produto fitossanitário, pelo que não se pode usar em plantas . Em 2017 foi incluida uma alteração que permitia certos usos como o fertilizante ainda que em condições concretas e segundo a sua procedência ou composição exacta. A sua ingestão em humanos só pode provir do aditivo E-551 que se utiliza como antiaglomerante, ainda que alguns estudos têm tentado demonstrar a sua acção contra os parasitas sem obter resultados satisfatórios.
Outros especialistas também não se mostram favoráveis ao uso desta substância sobre animais domésticos. "Tecnicamente, não posso negar que funcione, ainda que tenho dúvidas mais que razoáveis. Não existe nenhum estudo sério, independente e rigoroso que demonstre a sua eficácia; o que sim que existem são inúmeros tratamentos eficazes, provados e seguros", comenta Manuel Lázaro, vogal do Colégio de Veterinários de Madrid. O especialista ressalta ainda que, seja efectivo ou não para eliminar certos parasitas, desconhecem-se os efeitos secundários e é preciso passar por todo um processo de verificação de doses recomendadas ou formas de aplicação.
O preço como gancho
Na dúvida sobre qualquer aspeto que possa interferir na saúde dos animais de companhia, a melhor ideia sempre é ir ao veterinário. Às vezes, as redes podem ser uma armadilha, já que o preço ou o marketing de certos produtos pode romper esta dinâmica. Assim, o preço do quilo de terra de diatomeas varia entre os seis e os 30 euros, segundo o fornecedor, o que em comparação com a maioria de tratamentos veterinários antiparasitarios pode ser uma pechincha.
No entanto, as dúvidas são demasiadas para aceitar este pó como uma alternativa viável. "Eu nunca o usei, mas conheço sua utilização em galinhas . Entendo que funciona porque os ácaros que podem ter são mais pequenos e delicados. Não acho que fizesse efeito contra carrapatos ou pulgas", afirma Tomás Piermani, veterinário e proprietário do serviço TomVets de assistência a domicílio. O especialista conclui apontando que a sua ap0licação seria complicada em animais domésticos que vivam em andares e ineficaz nos que se relacionem diretamente com a natureza.