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Quem está por detrás dos incómodos telefonemas a partir do 0044 do Reino Unido?
Falamos com especialistas sobre o perfil dos cibercriminosos que tratam de defraudar afirmando ser investidores britânicos
Quem foi? É a pergunta que está por detrás dos mistérios de Agatha Christie ou de Raymond Chandler. Mas, na vida real, o whodunit nem sempre se resolve. E, quando isso sucede, a inquietude das vítimas aumenta. É o que ocorre com os incómodos telefonemas a partir de números do Reino Unido, que preocupam muitos utilizadores por se tratar de fraudes telefónicas.
Não está claro de onde operam estes cibercriminosos nem como se organizam, mas fica claro que existem aqueles que poderiam fazer mais para detê-los. Até então, muitas vezes são tentativas de delito pelas que ninguém paga.
Telefonemas a partir do Reino Unido para defraudar
Jose Vicente Berná, diretor do Mestrado Universitário em Ciberseguridad da Universidade de Alicante, explica a este meio que a origem destes golpistas é incerta, mas é fácil dar-se conta de que não são espanhóis nem britânicos. "Quantos call centers há fora de Espanha que aparecem com o prefixo nacional?", pergunta-se. Por isso, afirma que por detrás deste tipo de fraudes "pode ter qualquer coisa".
O especialista assinala que os níveis de sofisticação da cada fraude varia muito, mas que se dão casos "de autêntica engenharia social" nas quais se põe à frente do delito pessoas "com labia" que tentam "convencer-te como seja". Além disso, Berná expressa que "se movem por tendências". Neste sentido, com a atual subida do preço da luz, conta que agora há comerciais que não param de chamar para oferecer supostas ofertas de empresas energéticas. Considera que, em determinados casos, estas pessoas "sabem demasiado": conhecem o nome completo, a moradia… e esse nível de detalhe é, sem dúvida, alarmante.
Máfias e grupos organizados
Berná fala directamente de máfias : "são estruturas organizadas que se movem por tendências, que operam como bandas", relata. Seja como for, a raiva dos utilizadores é capital. Notam que o acento é suspeito, e que a insistencia é inaudita. "Sou a única que de vez em quando me ligam de números do Reino Unido????? Não sei quem são, mas não param", expressa uma utilizadora, enquanto outra se pergunta por que "todos os dias me ligam três ou quatro vezes do Reino Unido". Por sua vez, Alberto pergunta "se vos ligam com frequência de Reino Unido para oferecer-vos serviços de broker, carteira, criptomonedas e tal... sou eu o único tonto ao que roubam os seus dados?"
Na Consumidor Global pusemos-nos em contacto com a Polícia para conhecer a sua perspectiva sobre o problema. Carlos J. Juárez, Inspetor Chefe e Chefe de Seção da Unidade Central de Ciberdelincuencia da Delegacia Geral de Polícia Judicial explica que "é difícil dar uma resposta" sobre quem são estes delinquentes. No entanto, com base nas investigações que têm levado a cabo, acham que por trás destes telefonemas "há sempre grupos organizados", com independência de que o telefonema venha ou não do Reino Unido.
Na mira da Polícia
"Sempre há grupos organizados porque observamos que neste tipo de fraudes intervêm várias pessoas que repartem o trabalho e que desempenham diferentes postos de responsabilidade dentro da organização", conta o Inspetor Chefe. Assim, estão os que realizam os telefonemas "para captar credenciais de acesso à banca on-line", mas também "os que desenham as páginas que simulam os portais dos bancos suplantados" ou "os que solicitam o duplicado dos cartões SIM". Definitivamente, trata-se de uma malha que requer mais que um simples telefonema.
Este experiente em ciberdelincuencia assinala ademais que, nesta escura corrente, também há pessoas dedicadas a "contactar com as vítimas para conseguir os códigos de validação que os bancos lhes remetem", outros encarregados de receber o dinheiro das vítimas e blanquearlo ou os que procuram "pessoas que facilitem suas contas bancárias para receber esse dinheiro".
Ligar e ligar até alguém cair
A Polícia aponta a que ligam a esmo. "Não há um estudo prévio da vítima para dirigir o ataque. Nesta primeira fase do engano o objetivo é obter credenciais de acesso a serviços dos quais se possa obter algum tipo de benefício económico e muito em particular, credenciais de acesso à banca on-line", afirma o Chefe de Seção da Unidade Central de Ciberdelincuencia.
Por isso, expressa, so eu sucesso baseia-se "na quantidade de telefonemas e mensagens enviadas e na segurança de que uma percentagem deles terão sucesso, ainda que a maioria fracassem". Se a fraude continua é porque nalgum lugar, a muitos quilómetros, há alguém que lucra com isso.
Desde jovens sozinhos até malhas complexas
Por sua vez, Juan Manuel Corchado, catedrático no área de Ciências da Computação e Inteligência Artificial e professor da Universidade de Salamanca, assinala que estes golpistas muitas vezes chamam de outros continentes. Pode tratar de um jovem na sua casa até organizações sólidas, ilegais, mas bem estruturadas, que funcionam com as dinâmicas das empresas: custo-beneficio. "Diz-se inclusive que têm estruturas organizadas dentro das prisões", aponta o professor.
Por isso, a maioria dos especialistas concordam em que é necessário denunciar, porque tem um efeito imediato. "Se todas as pessoas denunciarem, conseguiremos frear isto mais rápido", defende José Francisco Monserrat,professor e investigador da Universidade Politécnica de Valencia (UPV).
Números falsificados
O Inspetor Chefe Carlos J. Juárez reconhece que os números de telefone que aparecem nos telefonemas que recebem as vítimas não têm por que ser os números reais a partir dos quais se liga, e sugere que fariam falta muitos mais meios para poder chegar ao fundo do assunto.
Assim, realça que "conhecer os dados sobre telefonemas provenientes de um país estrangeiro requer uma medida de auxílio judicial tipo comissão rogatória, que não sempre chega a bom porto". O facto de que nalgumas ocasiões os delinquentes utilizem telefones pré-pago que não têm uma identidade associada complica ainda mais as coisas. Por isso, a Polícia põe o foco sobre as operadoras e assinala que "a falsificação do número de chamada é um problema que têm que os operadores telefónicos têm de enfrentar e que continua por resolver".
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