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Standarte, de Saura a Isis: a nova feira artística que quer conquistar o centro de Madrid

Os organizadores defendem que trazem algumas "das melhores galerias de Espanha", com preços acessíveis e diferentes estilos

Juan Manuel Del Olmo

Um corredor da feira Standarte / CG

De certa forma, visitar a ARCO é algo como sair ae festa a uma sala muito grande se encontram muitas pessoas; e sim, diverte-se, mas bebe demasiado (nalguns stands servem garrafón, noutros extraordinários cocktails de autor) e acaba exausto. Além disso, é obrigatório apanhar um táxi para voltar para casa para julgar se a noite tem sido fantástica ou fatídica. Se a ARCO é uma moeda ao ar numa discoteca top, ir à Standarte é parecido a desfrutar de uma boa sobremesa com amigos num lugar agradável, sem stress nem demasiados sobressaltos, com o peso das boas lembranças e a certeza de que, no caso de encontrar alguma surpresa, não será incómoda.

A Feira Standarte de Arte Moderna e Contemporânea é a grande novidade na Semana da Arte de Madrid. Celebra-se entre 22 e 26 de fevereiro em pleno centro da cidade, no edifício histórico da Fundação Diário de Madrid. Não quer arriscar com NFT nem com extravagantes projectos site-specific, mas sim apelar ao conforto dos nomes conhecidos.

Arte para todos os gostos "das melhores galerias"

"Temos algumas das melhores galerias de arte contemporânea e modernas de Espanha", conta à Consumidor Global Oti Camps, uma das duas responsáveis da Art Camps, a entidade organizadora do evento. "E temos arte para todos os gostos: pintura, escultura, fotografia, gravura… Dos artistas mais reconhecidos: temos picassos, mirós, dalís…", explica com entusiasmo.

A verdade é que, dessa tríade, Picasso e Miró são os que aparecem com mais frequência, escoltados por outros suspeitos habituais como Antonio Saura (com os seus retratos de pinceladas densas sedentas de Barroco) e Antoni Tapiès, com ânimo terroso e trascendental. Também não faltam as multidões de Genovés nem a nota de reivindicação com uma obra de Banksy em sintonia com o aniversário da guerra na Ucrânia.

Uma obra de Juan Genovés / CG

Uma semana de arte total

Standarte soma-se à pletora de feiras que se celebram nestes dias em Madrid: Hybrid, JustMad, UVNT, SAM… Para um não iniciado, poderia dar a sensação de que a oferta na capital está saturada e é impossível chegar a tudo, mas Camps pensa o contrário e acha que a imersão total é enriquecedora.

"Acho que há que fazer finca-pé em que haja uma semana da arte ao estilo das que se fazem noutras partes do mundo, nas quais as pessoas vão especificamente ver arte no general: diferentes feiras mas também galerias ou leilões, e aproveitam para fazer um bom percurso cultural. É como uma imersão", argumenta.

Do cubismo ao Antigo Egipto

Aos totens familiares do Informalismo e da vanguarda juntam-se aqui e lá obras de artistas que, conquanto são também de primerísimo nível, não têm tanta presença. Por exemplo, há em Standarte um acrílico lírico e magnífico do expresionista abstrato americano Sam Francis, para dominar com estilo uma sala; e também uma pequena e deliciosa aquarela do francês Jean Metzinger datada de 1913 com ar cubista. Entre os mais divertidos, Equipa Crónica ou Eduardo Arroyo.

Uma obra de Saura em frente a outra de Sam Francis / CG

Para o comprador que queira se afastar da subtileza ou leveza de algumas obras modernas e precise de história e fisicalidade, em Standarte está também presente a galeria barcelonesa J. Bagot Ancient Art, onde se pode adquirir, por cerca de 30.000 euros, uma cabeça mesopotámica datada em cerca de 3.000 a.C. Também há ofertas votivas ibéricas, bustos de deusas egípcias como Isis, ânforas gregas ou inclusive um capacete corintio. Do período romano, quiçá o mais atraente seja um anel de ouro batido em perfeito estado com a imagem de Eros com uma cornucópia que está à venda por 4.500 euros.

Preços acessíveis

"Temos um projecto para todos os gostos, que é o mais importante", defende Camps. E para todos as carteiras: "Não só há peças caras, temos gravuras por 300 ou 400 euros. No final, isto também consiste em perguntar que gosta aada de um e tratar de lhe orientar a partir de um orçamento", explica a perita.

Entre as galerias presentes na feira que vendem arte acessível figura Pilares. Aqui é possível obter esplêndidas serigrafías de Canogar ou Luis Feito sem ultrapassar os três dígitos. E, para os apaixonados da fotografia, no andar de acima da Standarte podem-se encontrar fotografias sugestivas e até sexuais no stand da galeria Fuentenebro.

Várias obras num 'stand' / CG

Uma exposição "com muitos estímulos"

Quiçá o facto de estar em pleno centro, mas não numa zona a transbordar, jogue favor desta nova estrela na galaxia das feiras. "Estão a vir pessoas que gostam da arte no general. Aqui estamos no centro, é como se fosses ver uma exposição", compara Camps. Mas uma exposição "com muitos estímulos" e sosegada, não como uma mostra no Thyssen num sábado pela manhã, onde a azáfama e a azáfama corroem o prazer.

Oti Camps também acredita na necessidade de aproximar a arte a novos públicos, de atender às perguntas e de se atrever a perguntar. "Acho que a informação e a educação são importantes, em todos os âmbitos da arte. Por vezes a primeira coisa que as pessoas lhe dizem é  'não sei nada de arte', e não quer perguntar, quase como se tivesse medo. Mas se perguntas aproximas-te à arte e podes surpreender-te", diz. Standarte despede-se no domingo 26, mas voltará no ano que vem. "É a primeira de muitas, esperemos. A ideia seria trazer alguma galeria internacional, para nos estabelecermos e que venha mais público internacional esta semana".