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A guerra das 'papinhas': Hero e Nestlé tremem ante a irrupção da Smileat

A alimentação infantil renova-se, agora os purés são sem açúcares, sem conservantes, nem mesmo sal

Núria Messeguer

side view cute baby eating alone

A alimentação infantil não podia estar mais ranhida. Depois de anos de monotonia, parece que a inovação chegou ao setor das papas. A Smileat, uma startup espanhola que cresceu 200% durante este ano de pandemia, acaba de fechar uma rodada de financiamento de 1,8 milhões. O seu segredo? "Cozinhar como fariam as nossas avós, com produtos de qualidade, proximidade, sem aditivos, açúcares, conservantes, nem sal", afirma Alberto Jiménez, um dos sócios fundadores da empresa.

No mercado da alimentação infantil Hero domina com 40% de quota, a Nestlé tem 25% e a Smileat defende-se com 16%. Mas as duas multinacionais, ao ver o seu nicho de mercado em perigi, também lançaram linhas de alimentação ecológica. No entanto, a Smileat não tem medo e da empresa afirmam que, "mais que uma concorrência" o vêem como um elogio, de que estão "a fazer bem as coisas".

São necessárias as papas orgânicas?

"Com certificado ecológico ou sem ele, não superam a comida caseira", afirma Roi Piñeiro, pediatra na associação Salud Sin Bulos. Ainda que, este especialista também afirme que "para os pais que se sentem culpados por não preparar purés em casa, poderiam procurar uma expiação ou um alívio num produto orgânico". Na opinião de Cristina Tenorio, diretora do departamento de márketing da Smilet, a diferença vai para além da redenção paternal. "Todos nossos consumidores repetem, há mães que nos contam que os seus filhos preferem os nossos purés que os que elas cozinham". E brinca: "A seleção de produtos que fazemos cumpre padrões de qualidade muito elevados. Nem eu os tenho no frigorífico".

De muitos sabores e combinações, os produtos da Smilet "têm a cor do que levam" e evitam os conservantes graças ao antigo, mas eficiente método do banho maría. "Fervemo-lo em banho maría e depois engarrafamos em vácuo, desta forma podem aguentar até dois anos e não é necessário que estejam num frigorífico". No rótulo listam todo o que o puré contém, uma lista de vegetais, carnes ou oeixe sempre de proximidade. "Demoramos dois anos a encontrar uma fábrica, porque queríamos que os ingredientes estivessem perto e que respeitasse o nosso método, para ser o mais sustentáveis possível", defende Tenorio.

Um dos purés da Smilet / SMILET

Onde se vende?

A Smileat está presente nos lineares do Corte Inglês, Alcampo, Carrefour, Dia, Eroski e Consum, entre outros. Inclusive têm estado nos do Lidl . "Temos feito um período de prova no Lidl, agora caberá esperar a ver se querem continuar", aponta Tenorio à Consumidor Global. Entrar nas grandes rede de alimentação é a sua prioridade, ainda que a Smilet também se sustenta com o seu e-commerce.

"Os dois diretores da empresa --Alberto Jiménez e Javier Quintana-- têm um perfil muito técnico, um trabalhava na Microsoft e o outro é engenheiro. Por isso, desde o início, deu-se muita importância à criação de um website e um serviço on-line", diz Tenorio. Segundo ele, antes da pandemia já vendiam pedidos através do e-commerce e com o confinamento não foram "pegos desurpresa como muitas empresas, já tinham este serviço "na manga". Mas face à importância que dão à venda on-line, o seu "maior volume de venda é no supermercado", afirma Jiménez. Ainda assim, "as vendas do canal digital apresentam mais lucros".

O orgânico é "20% mais caro"

No supermercado o orgânico é mais caro. Os ingredientes de qualidade, proximidade e de agricultura sustentável têm um custo mais elevado que o que têm os que não ostentan esta qualificação. "Calculamos que os produtos orgânicos custem 20% mais", confirma Jiménez, fundador da empresa.

No entanto, esta caracerística não lhes fez perder clientes, mas sim reivindicar ainda mais a marca. "Fizemos uma pesquisa após a pandemia para conhecer o que valorizavam dos nossos produtos e daí não. Pensamos que o preço seria um dos pontos a tratar, mas era como a quarta preocupação dos nossos consumidores", reitera Tenorio. Segundo Jiménez e Tenorio, os seus clientes conhecem este tipo de dieta, pelo que o preço não os incomoda. Um creme de vegetais da Smilet custa 2,29 euros, enquanto a Nestlé ecológica ronda os 1,90 euros e a da Hero, 1,82 euros. "É difícil competir contra os preços das grandes empresas. Agora também o fazem orgânico e ainda assim mais barato, mas queremos nos diferenciar sempre com a nossa qualidade", defende o responsável de márketing. Outro ponto que explica é que os consumidores consciente não costumam "comprar linhas orgânicas de marcas que têm também linhas tradicionais à venda", um fator que sem dúvida joga a seu favor.

Comida de bebé sim ou comida de bebé não?

Na opinião de Piñeiro dever-se-ia de deixar de demonizar as papas. "Cumprem com a legislação mais exigente, pelo que fornecem os valores nutricionais que os bebés precisam, e contêm as quantidades justas de sal, açúcar e proteínas".

O pediatra insiste que os pais "procurem normas, conselhos, tabelas, números exactos, gramas, em algo tão antigo e agradável como é a comida. As crianças não são robots e não existe um número máximo nem mínimo de papas recomendados por semana". Assim, Piñeiro recomenda sempre que possível a comida caseira "para que se acostumem aos sabores naturais" e as papas "para quando não se possa, o que não é um crime, nem uma competição para ver qual família nutre melhor o seu filho".