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San Patricio está a salvo: por que (ainda) não pagarás mais pela tua cerveja Guinness

Vários pubs afirmam que o preço desta icónica cerveja não subiu, por enquanto, e apontam algumas opções que existem para a harmonizar

Juan Manuel Del Olmo

Três amigos bebem Guinness / PEXELS

Dizem que expulsou a todas as serpentes de Irlanda. Que introduziu o catolicismo no país há 15 séculos. Que explicou a Santísima Trinidade aos irlandeses com um trevo de três folhas que tirou do campo verde. Por todo isso, o dia de San Patricio é uma data festiva para se vestir de verde, celebrar a tradição… e brindar com uma cerveja Guinness.

Em Chicago, o rio fica verde. Em Espanha, os pubs irlandeses tentam resistir à inflação como podem. Ainda que os donos dos estabelecimentos concordem em que este ano a Guinness manterá o seu preço, pode ser que, no próximo, suba como a espuma. É que, ainda que San Patricio seja uma festa, as perspectivas são da cor desta famosa bebida: castanho escuro, quase negro.

Primeiro San Patricio após dois anos

O Scobies Irish Pub leva duas décadas servindo cervejas em Barcelona. Deste estabelecimento, Caitlín conta à Consumidor Global que eles notaram a subida de preços em muitos produtos, mas, por enquanto, a Guinness esquiva a bala. "É uma cerveja de importação e subiram os preços do petróleo, da luz, das matérias-primas… Mas aqui a cerveja continua a custar 6 euros", diz.

Um pub irlandês / PEXELS

Apesar dos arrependimentos, Caitlín mostra-se muito satisfeita "porque é o primeiro San Patricio que se pode celebrar após dois anos". Segundo conta, "as pessoas vem aos pubs irlandeses para consumir produtos desse país, e além da Guinness, triunfam a Murphy's Rede e os whiskies".

Jameson e chupitos com Bailey's

No Irish Murphy de Alicante a situação é semelhante. "Não toco no preço da Guinness há oito anos", conta a este meio o proprietário Guillermo. "É a menos rentável que sai, mas hoje não lhe posso subir o preço. No ano que vem já veremos", diz. Por enquanto, neste estabelecimento esta cerveja irlandesa custa 5 euros.

Guillermo também reconhece que o preço subiu na maioria de produtos, e que as perspectivas são "lixadas". Por exemplo, a invasão da Ucrânia põe em risco o abastecimento de cevada para muitas cervejas de todo mundo. "Subir-nos-ão o preço seguro", lamenta. Para além da cerveja, este empresário afirma que outro dos produtos estrela para celebrar neste dia é o whisky Jameson. "E os chupitos de Baby Guinness, que se fazem com licor de café e Bailey´s, também estão agora na moda", indica.

Barris de Guinness / UNSPLASH

A Guinness aguenta graças ao 'stock'

No Dan O' Hara, taberna de Saragoça especializada em bebidas, a cerveja da marca do harpa também se mantém a 5 euros. "Temo-la assim desde há seis anos, e agora estão a subir tudo no general, mas a Guinness é a mais procurada e por enquanto não o fizemos", diz Jaime, seu proprietário.

"A subida da luz estamos a notá-la, mas os custos da guerra na Ucrânia ainda não se repercutiram, leva poucos dias e ao comprador não chega ainda", afirma. Outra dica, indica, é que no seu estabelecimento ainda dispõem de stock. Quando se esgotem as reservas, talvez o custo mude no próximo pedido. Para sair da monotonia da Guinness no San Patricio, Jaime recomenda a cerveja Kilkenny, uma red ale de 4,3 graus. Com ou sem ela, no Dan O'Hara, conta, terá "todo o dia música celta, irlandesa, e iremos com os gorros verdes que a Guinness costuma dar".

Uma cerveja que não se toca

O preço desta bebida icónica também não mexe no The Irish Rover, um grande espaço de Madrid no que a cerveja está a 6 euros. "Quem sofre o aumento somos nós, os negócios", relata Hugo García, um de seus responsáveis. Mas, ainda que os fornecedores tenham aumentado os preços, "no nosso espaço, o cliente não o vai notar na Guinness". Em outros produtos, admite, o custo sim subiu, como em algumas cervejas lager.

Um grifo de Guinness / UNSPLASH

"Desde que se reactivou toda a atividade hoteleira após a pandemia, todos nossos custos são maiores. Nós entendemos os protestos dos clientes se o menu sobe 50 céntimos, mas há que pagar a todos os empregados, aos fornecedores…", argumenta García. No entanto, San Patricio é um bom motivo de celebração. 

'Irish breakfast' a qualquer hora

Aos locais, afirma García, também lhes beneficia o facto de que se jogue agora o Torneio das Seis Nações, uma competição de rubgy que muitos não querem perder. Para além das cervejas, o whisky ou inclusive a sidra irlandesa, a responsável conta que as comidas mais populares são o fish and chips ("que é um prato britânico, mas também se come muito na Irlanda") e o Irish breakfast, que, ainda que em teoria seja um pequeno-almoço, "come-se e se pede a qualquer hora". No seu estabelecimento, este contundente prato custa 12 euros.

Uma rua de Dublín decorada / PEXELS

Bord Bia – Escritório de Alimentos de Irlanda é um organismo semi-estatal do Governo irlandês que se encarrega da promoção dos produtos do país. Desta entidade contam à Consumidor Global que o autêntico Irish Breakfast leva bacon, salchichas, morcela, ovos, pastel de batata, tomate, pão "e, claro, servido com uma chávena de chá". Tal como apontam, outro prato, também muito representativo e típico, é o Irish Stew ou estufado irlandês, feito com carne de borrego, batatas, cebolas e salsa. Completa o trío o "Colcannon", um dos menos conhecidos, feito com batatas, repolho e manteiga.

Gin, licores e queijos

Além da Guinness, da Bord Bia precisam que a gama de bebidas se estende aos whiskies Jameson, Tullamore ou Connamara; os gins Drumshambo, Dingle Gin e An Dúlamán (um gin marítimo); ou os licores de creme Baileys, Carolans e Royal Swan.

Com algo há que acompanhar tanta potência. Entre os laticínios, da Bord Bia citam o queijo cheddar ou a manteiga Kerrygold. "O queijo irlandês possui um sabor e carácter distintivos. Com uma qualidade excelente e uma textura firme, além de um aroma sustancioso e equilibrado. É um queijo muito versátil, que se pode usar nas tábuas de queijos, gratinado ou em fatias para sandes", dizem.

Duas pessoas brindam ao San Patricio / PEXELS

Carne irlandesa nos supermercados espanhóis

Na Irlanda também há queijos artesanais que, segundo Bord Bia, "têm um ingrediente secreto comum, a excecional qualidade do leite, seja de vaca, de ovelha ou de cabra. Tanto os queijos azuis, como o famoso Cashel Blue, como o queijo de cabra, são feitos com os mais altos padrões por famílias de agricultores. Alguns podem-se encontrar em queijarias  especializadas de Espanha como Poncelet em Madrid ou Ardai em Barcelona", precisam, para os mais gourmets.

Quanto à carne, tal como detalham, "em Espanha o novilho de Irlanda de Hereford e de Angus está à venda nas principais lojas como Carrefour, Alcampo, Eroski, El Cortei Inglês e Makro". Na Alcampo, 450 gramas de lombo de vitela irlandesa custam 8,53; enquanto no El Corte Inglês, o quilo de entrecot de lombo de novilho de raça Hereford pode-se adquirir por 32,95 euros.

Várias vacas numa pradaria irlandesa / UNSPLASH

Little Ireland, coração celta em Espanha

Outro dos estabelecimentos mais ativos na venda de produtos irlandeses é o Little Ireland, um espaço localizado em San Sebastián que conta com uma loja on-line especializada. Uma de sua responsáveis conta a este meio que criaram o negócio há quase 6 anos, quando se deram conta de que em Espanha não havia nenhuma loja dedicada exclusivamente aos produtos desse país. No entanto, reconhece que o aumento dos custos "em tudo" faz com que 2022 "seja muito difícil".

Quanto às motivações para criar a loja, considera que existe uma conexão especial entre vascães e irlandeses, a nível, por exemplo, cultural e climático. "É um lugar onde ainda há pessoas que valorizam as coisas feitas de forma artesanal", argumenta. Entre os produtos estrela da sua loja, conta que o chá é o que mais se vende. O da marca Barry's Tea, com 20 saquetas, custa 4,50 euros. É que, segundo Bord Bia, a Irlanda é o segundo país do mundo onde mais chá se bebe.