Com o verão no horizonte, muitos consumidores planeam já as suas férias. Depois de dois anos de pandemia, esta temporada há mais vontade do que nunca de sair, como demonstraram os números positivos de Semana Santa. Se ao destino escolhido se chegar por avião (Nel blu, dipinto dei blu), muitos viajantes optam por viajar com a eDreams ou comparar os preços dos bilhetes numa plataforma deste tipo.
No entanto, com esta empresa, tal como denunciam alguns consumidores, há certas turbulências com as tarifas. Em primeiro lugar, pela dificuldade na hora de receber os reembolsos depois das cancelamentos. Também porque algumas tarifas parecem irreais, e, no ato da cobrança, sobem. Isso gerou alguns desentendimentos com as companhias aéreas: em 2015, a Ryanair processou a eDreams por este motivo.
O preço sobe pouco antes de pagar
As queixas abundam nas redes sociais. No Facebook há um grupo que tem o título 'eDreams Jamais' que junta mais de 3.800 membros de diferentes países. Por sua vez, no Twitter podem-se encontrar, sem exagerar, centenas de críticas. É que, às vezes, os bilhetes baratos não o são tanto.
Miguel Rodríguez é programador de software e explica à Consumidor Global que a empresa utiliza um mecanismo para mudar o preço no momento do pagamento. "Quando completas um mínimo de 4 dígitos do cartão, automaticamente o preço sobe. Legalmente, estão cobertos, já que ao não poder garantir esses preços temporários dão-te um segundo custo que sim podem cumprir", expõe. Além disso, relata que é um problema que também existe noutros comparadores.
Cancelamentos com a eDreams que não se devolvem
José Manuel Pavón conta que tirou um bilhete de avião em outono de 2019 para julho do ano seguinte. "Eu ia ao México ao casamento de um amigo", detalha. "Logicamente, o voo foi cancelado pela pandemia. Tenho solicitado o reembolso várias vezes, mas ainda não mo devolveram. Tento contactar com frequência e da eDreams sempre me dizem o mesmo: que há muita fila, que a solicitação está em curso…", conta. São "uns 760 euros" que permanecem no ar. Pavón reconhece que não tirou seguro de cancelamento, mas acha que apesar disso devem fazer-lhe o reembolso.
Este afectado mostrou à Consumidor Global uma captura na qual aparece o status do reembolso. Encontra-se na última fase, o que quer dizer que a companhia admite que está no seu direito: "Pendente de autorização por parte da companhia aérea". A bola está no lado da companhia aérea dois anos após o cancelamento. Neste sentido, a advogada ae UB Consultores Rocío Bichas, assinala que o Governo aprovou o Real Decreto-lei 11/2020 "pelo que se adoptaram medidas urgentes complementares no âmbito social e económico para fazer frente ao Covid-19". Ainda que este decreto permitia às companhias aéreas oferecer um voucher ou cupão sustitutorio, o viajante tinha também direito ao reembolso.
Cobrança automática pelo serviço Prime
Outro assunto que incomoda e decepciona é a cobrança de 54,99 euros pelo serviço Prime da eDreams. Diego culpou a empresa no Twitter : "Cobrastes-me 54,99 de quota Prime, sem ter subscrito nada. Estais canceladísimos por golpistas". Raúl M.T, por sua vez, contou que levava meses trás do reembolso desta assinatura que não tinha pedido. "E já me dissestes duas vezes que o reembolso se tinha realizado e é mentira", denunciava. "Começa aml no dia: acabam-me de cobrar 55 euros os da eDreams porque esqueceu-se-me tirar o Prime", lamentava A. Correias.
Também há quem indica que o cancelaram a tempo, mas, ainda assim, a companhia fez o possível para o cobrar. Nadia Miralles explica que "há descontos aos quais podes aceder que são só para Prime", e que "uma vez que compras com esse desconto já aceitas a cobrança da tarifa Prime, sem subscrever em nenhum lado". Ela o fez, cancelou uns dias antes de que vencesse o prazo, mas encontrou a surpresa na sua conta bancária. "Queriam-no-la cobrar, mas tinha uma cláusula que dizia que tinha uns dias para realizar o reembolso da opção Prime, e conseguimos que nos reembolsassem no final", detalha.
Ler bem a letra pequena de todos os serviços
Na Consumidor Global experimentamos fazer uma compra para ver se a informação aparece escondida ou não. No momento do pagamento, após seleccionar extras como o seguro e o assento, o comprador encontra duas opções finais: pode finalizar compra sem desconto, representaria um pagamento de 25 euros extra (de repente), ou optar pela tarifa com desconto Prime. Especifica-se de forma clara que o teste é grátis durante 30 dias, e depois já pagam-se 54,99 euros. Também se lê que se pode cancelar "em qualquer momento. Se não se cancela, o teste actualizar-se-á automaticamente para a assinatura paga no finalizar no mês".
Colás, do despacho UB Consultores explica que se este serviço está bem especificado "é responsabilidade do consumidor ler a letra pequena, tal como as políticas e condições do serviço. Outra questão é que a publicidade fosse enganosa ou não estivesse clara no texto". Mas, neste caso, sim é assim.
O seguro não garante o reembolso
A Ricardo Domingo ocorreu-lhe algo semelhante que a Pavón, mas agravado: tinha seguro. "Comprei o meu bilhete em julho de 2021 para ir à Noruega em agosto. Cancelei os voos no final de julho porque a Noruega não deixava entrar pessoas que viessem de Espanha, e pensei que não teria problema para recuperar o meu dinheiro, já que contratei um seguro de cancelamento e assistência que me tinha custado 58 euros. Mas, desde então, não há maneira de captar a atenção da eDreams", relata. De facto, muitos afectados denunciam que lfala com robôs em vez de com pessoas. Domingo está à 10 meses pendente da devolução de uns 800 euros. E continua à espera.
Por sua vez, Blanca Miguel assinala que comprou uma oferta de voos da Ryanair a Marrocos no passado dezembro.A eDreams, explica, que compra previamente os bilhetes à companhia aérea e depois os revende ligeiramente mais baratos que na página oficial. Poucos dias antes de voar, Marrocos fechou o espaço aéreo pelo aumento da variante Omicron. "A Ryanair, obviamente, cancelou os voos para Marrocos e devolveu o dinheiro aos compradores", expressa.
Uma folha de reclamações que parecia não existir
Como Miguel não tinha comprado os bilhetes à companhia aérea directamente, a Ryanair só lhe devolveu os 45 céntimos correspondentes a um imposto, enquanto o resto do dinheiro (245 euros de três bilhetes) teve de ser reembolsado à eDreams. Esteve semanas atrás da companhia, e solicitou uma folha de reclamações "que jamais parecia existir". Toda a resposta da marca era que a companhia aérea tinha a obrigação de devolver o dinheiro num prazo de 7 meses, e "atiravam a bola para a Ryanair", que "lavava as mãos".
Só depois de várias ameaças de denúncia ("tinha passado mais de um mês desde que a Ryanair lhes tinha devolvido o dinheiro e continuavam com desculpas") e mensagens por vários meios, Miguel recebeu o reembolso dos 245 euros. "Porque sou muito agressiva e não paro de insistir até que fazem o que têm que fazer, mas, se não, ter-lho-iam ficado seguro", considera. Neste meio tentámos contactar com a eDreams para conhecer o seu ponto de vista, mas, ao até ao fim desta reportagem, não obtivemos resposta.