No final de maio, França tomou a decisão de proibir os voos nacionais de curta distância que tivessem uma alternativa em comboio de menos de duas horas e meia para poder reduzir a contaminação do transporte aéreo. Esta iniciativa tem sido recolhida, criticada e valorizada por outros países. Em Espanha formou-se a questão, acabarão os voos curtos também? Resposta: não.
A aviação supõe um 2,5 % das emissões de CO2 a nível mundial e o Fundo Mundial para a Natureza descreve esta impressão ambiental como "um impulsor da mudança climática". O avião emite uns 285 gramas de dióxido de carbono por quilómetro e passageiro. Por exemplo, num voo de Madri a Barcelona a impressão de carbono de uma pessoa é de 150 quilos de CO2 por trajecto. Numa rota Madri-Chicago a cada passageiro seria o responsável pela emissão de 1.020 kilogramos de CO2.
"Mais efectista que efectiva"
"A medida do Governo francês é mais efectista que efectiva", realçam a Consumidor Global desde a Associação de Linhas Aéreas sobre esta iniciativa que entrou em vigor faz semanas ainda que a votação se levou a cabo faz um par de anos dentro da Lei do Clima aprovada em agosto de 2021 e esteve paralisada desde então por um recurso apresentado pela associação francesa de aeroportos.
Desde a associação do sector aéreo em Espanha avisam de que a redução de CO2 que implica proibir os voos de curta distância não é tão significativa. "Tão só reduz um 0,9 % as emissões", sublinham. No entanto, as companhias aéreas estão comprometidas com conseguir um crescimento sustentável e eficiente e marcaram-se como objectivo atingir as emissões netas zero em 2050. "A aviação é um dos sectores a mais difícil descarbonización devido à falta de tecnologia capaz de fazer voar um avião propulsado por energia renovável ou eléctrica", destacam.
Combustível sustentável
2050 ainda fica longe. Enquanto chega essa solução híbrida e eléctrica, a Associação de Linhas Aéreas explica a este meio que uma das alternativas que se contempla actualmente no país é o combustível sustentável ou SAF (por suas siglas em inglês), uma tecnologia que já existe e que permite poupar mais de um 80 % das emissões de CO2 durante o ciclo de vida. "Está a ser utilizada por algumas companhias aéreas, mas sua produção é ainda escassa", reconhecem.
"Dantes da pandemia mal representava o 0,1 % do combustível total, e ademais seu preço é entre 3 e 4 vezes superior ao do queroseno convencional. Para que se implemente com sucesso é necessário que a Administração estimule sua produção com incentivos ou estabelecendo subvenções para favorecer seu consumo", apontam desde a associação. O regulamento europeu ReFuelEU Aviation inclui a obrigação de que em 2050 o 63 % do combustível consumido pela aviação comercial seja sustentável. Para 2025 o objectivo será tão só um 2 %.
Diferenças entre Espanha e França
Cabe destacar que em Espanha se estudaram medidas similares à do França e foram propostas faz pouco por Unidas Podemos, como emenda ao Projecto de Lei de Mobilidade Sustentável. Neste caso ia dirigido a transporte de mercadorias e a voos nacionais que tenham alternativas inferiores a quatro horas (em frente às duas e meia do França), o que incluiria muitas rotas.
Assim mesmo, há que ter em conta que França dispõe de uma extensa rede ferroviária de alta velocidade, e a medida assinala que só aplicar-se-á quando exista um comboio que "brinde um serviço alternativo satisfatório". Este critério, em mudança, reduziria o número de rotas nas que poder-se-ia aplicar em Espanha.
"As rotas domésticas são imprescindíveis"
Desde Iberia recalcan que os voos domésticos em Espanha geram 102 milhões de euros ao PIB espanhol e 1.852 novos empregos pela cada milhão de passageiros. Assim se extrai de um relatório realizado pela consultora PwC para Iberia que analisa o impacto das rotas entre Madri e Málaga, Sevilla, Alicante, Valencia e Barcelona, que contribuíram 329 milhões de euros ao PIB e quase 6.000 empregos a tempo completo em 2022.
"As rotas domésticas são imprescindíveis para a conectividade dentro de Espanha e também com o exterior, além de que contribuem notavelmente à criação de riqueza e emprego em nosso país", tem destacado a companhia aérea. Estas cinco rotas contam com uma alternativa ferroviária de aproximadamente duas horas e meia de tempo de viagem. O desenvolvimento da alta velocidade ferroviária nestas rotas tem implicado uma perda da quota aérea e uma redução das frequências de voo.
Emitir-se-ia um 49 % mais de emissões
"O relatório incide na necessidade de manter estas rotas para passageiros que ligam na longo rádio", tem destacado a directora de Vendas Globais de Iberia, Beatriz Guillén, quem também tem explicado que para poder substituir estas conexões pelo transporte ferroviário seria necessário que chegassem entre oito e dez comboios de alta velocidade ao T4 de Baralhas nas horas finque, mas que agora mesmo não chega nenhum e que para 2026 chegarão "um ou duas".
"Prescindir destes voos restaria competitividade em frente a outros aeroportos como Paris ou Frankfurt", tem destacado, acrescentando que ao aeroporto Paris-Charles de Gaulle chegam oito comboios de alta velocidade a cada hora proveniente de 14 destinos. "O irónico seria que com tal de reduzir emissões, se suprimissem estas rotas", restando competitividade a Baralhas e fazendo que "um passageiro fizesse Málaga-Paris para viajar a Bogotá", o que "não reduziria as emissões, sina que emitiria um mais 49% e Espanha perderia o papel protagónico de ser ponte entre América e Europa".
Risco de perda de conexões
A Associação de Linhas Aéreas também sublinha que "em Espanha o comboio não chega até o aeroporto". "A maioria dos voos curtos é para outro destino dentro do mesmo território, pelo que as escalas terminariam fazendo em outros países que sim tenham essas conexões curtas", destaca a entidade. Desde Vueling, que assegura que não conta com nenhuma rota no França impactada pela medida, comentam que é uma iniciativa que tem um impacto "muito baixo".
"Constantemente analisamos nossa rede e programa de voos para oferecer as melhores alternativas de conectividade aos passageiros", enfatizam desde a aerolínea. "Nossa sociedade deve avançar para um modelo de intermodalidad sustentável, onde todos os tipos de transporte estejam perfeitamente conectados para que os clientes possam eleger sempre o mais eficiente em função do tipo de viagem", finalizam.