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O preço dos bilhetes de avião para as Canárias, pelas nuvens: "As empresas aéreas comem o desconto"

Os consumidores denunciam a subida em flecha das tarifas e o Governo planeia intervir para travar os abusos das empresas

Juan Manuel Del Olmo

Avião da Binter num aeroporto das Canárias / EUROPA PRESS

São as ilhas afortunadas e um destino preferido, mas chegar até elas é complicado. Segundo os dados da Statista, as Canárias foi a terceira comunidade autónoma que mais turistas internacionais recebeu em 2022, só atrás da Catalunha e Baleares. No entanto, visitá-las é cada vez mais caro: o conselheiro de Obras Públicas, Transportes e Moradia do Governo de Canárias, Sebastian Franquis, admitiu no passado dezembro que os bilhetes aéreos que ligam as Canárias com a Península tinham aumentado o seu preço 18% para os residentes ao longo do ano.

Para os não residentes, viajar para as ilhas tinha aumentado em média 19% no último ano e até o mês de outubro. Conquanto, isso é uma média, já que há algumas rotas, como a que une Grande Canaria com Barcelona, cuja subida chega a 47% ao longo de 2022.

As agências de viagem deixam o aumento em 15 %

O preço dos bilhetes de avião está a subir em toda a Europa, mas nas Canárias começa a ser um problema que sangra. Questionada por meio, a Confederação Espanhola de Agências de Viagem (CEAV) reconhece que efectivamente houve um aumento, "justificado pelas empresas devido ao aumento de combustível e colateralmente à guerra de Ucrânia, que afecta o custo todos os dias e faz com que estas percentagens flutuem". Mais especificamente, os dados que maneja a CEAV são que o transporte aéreo para as Canárias aumentou 15% e o marítimo 8%.

Por sua vez, a Associação de Linhas Aéreas (ASA) explica à Consumidor Global que os preços dos bilhetes de avião "não são fixados pelas companhias aéreas, mas sim que estes são fiados pela interacção da oferta e a procura, além de serem influenciados pela antecedência com a qual se reservem". Contudo, parece evidente que a interacção da oferta e a procura depende em parte das companhias aéreas, de modo que sim têm responsabilidade.

Várias pessoas sobem ao avião com a sua mala / PEXELS

Desconto para residentes "consumido" pelas companhias aéreas

"Conquanto os preços flutuam segundo o anterior, a subida responde, em parte, ao forte aumento dos preços do combustível para aviões, impulsionados pela guerra de Ucrânia", indicam da ASA. Apesar de tudo, acham que este verão "se apresenta positivo para Canárias, com um crescimento de quase 8% no número de assentos reservados no arquipélago".

Os maiores prejudicados são os próprios residentes. Cristina Barroso, residente nas ilhas, conta a este meio que a sua percepção é que, desde que o desconto de residente aumentou de 50% para 75% em julho 2018, "esse 25% foram comidos pelas companhias aéreas. Salvo em momentos de menor procura, as mudanças nos preços são impercetíveis e diria que às vezes resulta até mais caro, pelo menos no último ano", expressa.

"Procurar um bilhete no Natal voltou-se impossível"

Além disso, aponta Barroso, "não há demasiadas companhias com as quais comparar preços, já que muitas rotas limitam-se às duas grandes companhias aéreas. No general, procurar um bilhete em datas como Natal ou verão tornou-se impossível e em muitas vezes, ainda com o desconto de residente, podem chegar a ultrapassar voos internacionais". De facto, os Natais amteriores, meios canários publicaram que os residentes que regressassem a casa da Península tiveram que desembolsar 260 euros, ainda com o desconto estatal.

Uma pessoa com bilhetes de avião / Freepik

Não faltam vozes críticas com a posição dominante de Iberia e AirEuropa. Fabián Chinea, senador do Agrupamento Socialista Gomera, denunciou em dezembro que a Iberia e AirEuropa tinham "tarifas idênticas para voar em datas de alta procura". Foi para além e qualificou os preços de "escandalosos": entre 442 e 541 euros por um trajecto Madrid-Tenerife a 23 de dezembro. "Mais grave é que as duas companhias aéreas, que já têm o monopólio em muitas rotas, pactuem as tarifas", denunciou.

Iberia nega o aumento

Isto contrasta com as palavras de Javier Sánchez-Prieto, presidente da Iberia, que disse em março que o preço médio para as Canárias era 25% mais baixo que em 2013. AAlgo que os utilizadores não partilham: Atlántico Hoje fez eco deste mal-estar, e publicou no final de fevereiro que a Associação de Organizações de Consumidores e Utentes De Zonas Comerciais de Canárias (AUSCAN) pedia ao presidente regional uma intervenção do mercado aéreo.

O Governo, consciente da escalada, está a estudar a viabilidade de um projecto piloto de Obrigações de Serviço Público (OSP) para evitar "preços excessivos" nos voos entre os territórios insulares e a península. Contudo, o Executivo tem afirmado que toda a acção deverá estar enquadrada no marco que permite o regulamento da União Europeia, de modo que a OSP representaria uma excepção que tem de ser "muito justificada". Enquanto isso, os preços dos voos continuam pelas nuvens.