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O preço do autocarro em Espanha duplica ao do França e Itália e supera ao de Portugal e Alemanha
Em Europa apostou-se pela liberalização do sector em frente a Espanha, que mantém o regime concesional
O preço médio por quilómetro que pagam os espanhóis por viajar em autocarro pelo país é um 88 % superior ao que desembolsan os franceses ou italianos e significativamente maior que o que pagam o resto de europeus, como os portugueses e alemães, ou os britânicos.
Assim se desprende de uma análise realizada por Funcas e a Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC) sobre a Liberalização do transporte interurbano por estrada. Ensinos da experiência européia para o caso espanhol.
Sistema de concessões ou liberado
O relatório contrasta os dois principais sistemas de contratos que existem na cada país, o de concessões, no que uma única empresa explode uma rota determinada como em Espanha, ou o liberado, no que várias empresas competem numa mesma rota em regime competitivo, já generalizado em toda Europa.
O principal repto em ambos casos é manter a coesão do território, de forma que as linhas não rentáveis que unem pequenas populações não fiquem abandonadas pelo interesse das empresas de se centrar só nas rentáveis.
Sobreprecios nos trajectos "rentáveis"
Neste sentido, a última renovação do sistema que está a levar agora a cabo o Governo de Espanha aposta por manter o sistema concesional, ao invés que no resto de Europa, para garantir precisamente essa coesão territorial, já que caso contrário as linhas deficitarias assumi-las-ia o Estado com perdas e as rentáveis repartir-lhas-iam as empresas privadas.
Não obstante, o sistema concesional funciona graças a que os rendimentos dos trajectos rentáveis permitem aos operadores enfrentar o custo de operação dos trajectos não rentáveis, uma subvenção cruzada que supõe que os utentes dos trajectos rentáveis pagam um sobreprecio, numa quantia "não transparente" --segundo o relatório--, o que pode desincentivar o transporte em autocarro.
Os passageiros suportam as linhas não rentáveis
"O facto de que sejam os utentes de autocarro, que costumam contar com uma renda inferior à média e carecer de alternativas de transporte, quem suportam o custo do serviço nas linhas não rentáveis pode ter envolvimentos de equidade, em frente a um sistema no que as linhas não rentáveis se subvencionam através dos orçamentos das administrações públicas", analisam Funcas e a CNMC.
Em qualquer caso, se as deficitarias assume-as o Estado, com um sistema de livre concorrência, nas rotas rentáveis as empresas tratariam de atrair aos viajantes oferecendo diferentes rotas, melhores horários, serviços mais inovadores ou menores preços.
Liberar as rotas a mais de 100 quilómetros
Isto é o que faz que em Espanha o preço médio por quilómetro seja de 0,068 euros, um 88% mais que os 0,036 do França ou Itália, um mais 41% em frente aos 0,048 de Portugal, um 36% superior aos 0,05 de Alemanha, ou um mais 28% sobre os 0,053 euros de Reino Unido. Não obstante, a mesma análise também determina que, a excepção deste último país, Espanha quase duplica o número de frequências diárias que Alemanha ou Portugal, com 5,6 ao dia em frente às 3,1 ou 3,3 destes dois últimos países, respectivamente, sendo superior também às 4,2 do França ou as 4,9 de Itália.
Enquanto a CNMC já tem recomendado ao Governo liberar as rotas a mais de 100 quilómetros, o Executivo está a analisar um sistema no que siga o modelo concesional de forma generalizada (com algumas grandes rotas liberadas), mas o fazendo mais eficiente, com linhas de longo percurso com menos paradas e mais rápidas, cujos passageiros intermediários se subam em paradas de grandes cidades sendo transportados desde suas populações de origem por rotas intermedidas assumidas pelas comunidades autónomas.
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