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Controle aos 'influencers': por que uma lei como a francesa seria útil para o consumidor espanhol

A norma, pioneira em Europa, proíbe aos criadores de conteúdo publicitar criptomonedas ou dietas perigosas

Juan Manuel Del Olmo

una influencer

França apresentou, a princípios de junho, uma lei pioneira para regular a actividade dos influencers. A norma pretende converter a selva digital num campo seguro, onde não espreitem a publicidade encoberta, a promoção de produtos duvidosos ou directamente os abusos e as fraudes. As autoridades galas, que aprovaram o projecto por unanimidade, converteram assim a França no primeiro país europeu e um dos primeiros do mundo que dispõe de um marco regulamentar completo para o sector.

Em Espanha, a actividade dos influencers não está regulada de forma específica, mas, a julgamento dos experientes, seria conveniente que o estivesse o quanto antes.

Proibido promover dietas perigosas ou criptomonedas

A lei francesa inclui proibições explícitas: nada de promover dietas perigosas, conselhos sobre cirurgia estética ou criptomonedas. Também não poder-se-á subir conteúdo publicitário sobre nicotina, abstenção terapêutica ou posse de animais selvagens. Ademais, a norma obriga a especificar se uma imagem tem sido retocada ou criada por inteligência artificial.

Na mesma linha, não poder-se-ão publicitar os aplicativos ou portais de loterias e jogos de casualidade que não restrinjam seu uso aos menores de idade. Os criadores de conteúdo terão sua própria polícia: 15 agentes dedicar-se-ão, de forma específica, a fazer cumprir a legislação. Para mais inri, a lei contempla a criação de uma "guia de boa conduta" e a obrigação de que os contratos se subscrevam por escrito. Saltar-se estas normas pode implicar uma multa de até 300.000 euros ou inclusive a proibição de seguir sendo influencer.

Marco regulamentar espanhol

"Acho que é correcto e positivo", conta a este meio Fernando Longoria, advogado do despacho sevillano Giraldillo Advogados. "França costuma ir um passo por diante nestes temas e outros países europeus acabarão adoptando suas normas", pronostica. Nesse sentido, aponta que a Lei Geral de Publicidade espanhola é do ano 1988, de modo que precisa uma modernização. "Não se fez para o mesmo cidadão de hoje nem para os mesmos suportes", raciocina Longoria.

Em Espanha, a actividade dos influencers também se regula através da Lei Geral de Comunicação Audiovisual, que obriga aos mesmos a, por exemplo, aclarar se seu conteúdo pode ser perjudicial para a saúde. Não obstante, ainda que de vez em quando algumas agências dão um tirón de orelhas, não todos os influencers cumprem as normas espanholas e é frequente ver posts em Instagram com promoções sibilinas ou vídeos de TikTok que são em realidade puros anúncios.

"Quanta mais informação tenha o consumidor, melhor"

Em Estados Unidos também há quem se leva um pau de vez em quando. Por exemplo, em março de 2022 a Comissão de Carteira e Valores determinou que Kim Kardashian devia pagar mais de 1 milhão de dólares por promover um criptoactivo sem aclarar que estava a fazer publicidade.

"Quanta mais informação tenha o consumidor, melhor", aponta Longoria. "Pode que alguns influencers saiam prejudicados, como os que estão a começar e tenham que especificar que estão publicitando algo e se restem assim algo de credibilidade ou naturalidad face a seu público, mas há que pensar no que é melhor para a maioria", expõe o letrado.

Mais de 900 'macro influencers' em Espanha

Segundo um estudo da agência 2btube, em Espanha há mais de 900 pessoas que podem se considerar macro influencers, enquanto têm mais de 1 milhão de seguidores em redes sociais. Não obstante, os que se dedicam profissionalmente a isto são mais de 9.000. "As consequências de que um influencer publicite um vapeador ou uma operação estética que não precisa são muito sérias. De modo que, sempre que some-se transparência será positivo, porque há pessoas que se lucran com uma influência questionável", expõe Longoria.

O caso dos vapeadores é um dos mais sangrantes. Seu consumo duplicou-se nos últimos 7 anos, segundo a encuesta Idades do Ministério de Previdência. Entre os garotos e garotas de 15 a 24 anos, 2 em cada 10 consumiram-no alguma vez. A Sociedade Espanhola de Medicina de Família e Comunitária (SEMFYC) eleva essas estimativas e indica que um da cada quatro adolescentes (entre 14 e 18 anos) consome vapeadores de maneira habitual. A eles chegam, em parte, através de influencers.

Estar à moda

De facto, um relatório da Associação Espanhola contra o Cancro recolhe que o 57,2 % dos jovens acha que "o consumo de novas formas de fumar (vapeo, pipas de água, etc.)" está "de moda" porque fazem-no "actores, streamers, influencers, etc.".

Eduardo Irastorza, professor de Meio Económico em OBS Business School, acha que a lei francesa para pôr coto aos influencers "é o primeiro sintoma de uma tendência a um maior controle e regulamentação do que circula em redes sociais". Este experiente opina que França se erige em adalid dos direitos humanos, mas uma regulação deste tipo também poderia chegar cedo a Espanha, já que assim o sugeriram destacados políticos. Com respeito a se a norma é demasiado restritiva com os direitos individuais, Irastorza recorda uma reflexão de Thomas Jefferson, quem queria "um governo que pensasse nele, mas não por ele".

Promessas incumplibles

"O importante é estabelecer um consenso orientado por experientes em formação, em comunicação, governamentais… No que se precise claramente que sim e daí não. Em verdadeiro sentido, as redes sociais seguem sendo um território de ninguém", argumenta, de modo que determinadas clínicas de beleza ou capilares sim levam a cabo "promessas incumplibles, que não são mais que actualizações dos falsos remédios que se viam nos jornais do século XX".

Com a proibição dos anúncios das criptomonedas, Irastorza mostra-se mais céptico, já que acha que são "uma ameaça para os governos e as bancas centrais". Com tudo, argumenta que a lei seria "um instrumento útil para todos desde que seja um acordo generalizado, apoiado por governos multinacionais, como a União Européia neste caso; porque se não, ao igual que existem paraísos fiscais, criar-se-iam paraísos mediáticos", raciocina.

Autenticidad e credibilidade

"Um influencer é alguém com vocação de viver disso", acrescenta, de modo que teria que enfrentar a um questionamento de seu próprio público quando recorresse à publicidade. "Os que mais triunfam são os que a gente considera mais autênticos e sinceros, de modo que não terão por que mentir", opina.

"Sempre sairá ganhando o utente e sairá perdendo o estafador", limpa Irastorza.