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Por que a UE tem dado luz verde ao glifosato, um herbicida que poderia causar cancro

Os agricultores acham que, a dia de hoje, "não há uma alternativa que seja tão sustentável", apesar de que a OMS tem declarado que a substância é provavelmente cancerígena

Juan Manuel Del Olmo

pesticida agricultores

O glifosato é um poderoso herbicida que os agricultores utilizam para eliminar as más ervas, aquelas plantas que molestam e tiram espaço e água nos cultivos. Assim, lhes permite aumentar sua eficiência e produtividade. Não obstante, também é potencialmente perigosa: em março de 2015, a agência especializada em cancro da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que esta substância era "provavelmente cancerígena para os seres humanos".

Desde então, muitas vozes têm pedido sua proibição. À União Européia tocou-lhe tomar uma decisão difícil, e finalmente os estados membros têm optado por renovar as permissões de uso do herbicida durante 10 anos mais, isso sim, "baixo reserva de algumas novas condições e restrições". Proíbe-se seu uso para a desecación, que é o processo de eliminar a humidade de um cultivo dantes da colheita. Ademais, só poder-se-á usar na fileira do cultivo, não no corredor.

Uma decisão "valente"

A decisão de Bruxelas tem causado estupefacción e enfado, mas também há colectivos que a aplaudiram. Em redes sociais os sentimentos vão da euforia à tristeza. Não tem surpreendido o apoio de Espanha, ainda que alguns grupos ecologistas sim lho têm jogado em cara ao Governo socialista. Em mudança, a Associação Agrária de Jovens Agricultores (Asaja) agradecia ao Ministério de Agricultura "sua valentia por apoiar a renovação do glifosato".

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"Valentia que vai unida com sensatez, já que se basearam nas evidência científicas de nossas agências públicas européias que asseguram que NÃO é cancerígeno", acrescentavam. Em mudança, entidades de conservação da natureza como WWF se mostram muito preocupadas: "Lamentamos esta decisão que põe em perigo a saúde da cidadania e do planeta. Arrisca o cumprimento de objectivos do Pacto Verde Europeu".

Multas para Bayer-Monsanto

Se não para a preocupação, sim se pode afirmar que há, ao menos, razões para o cepticismo. Faz só uns dias se soube que o gigante químico-farmacêutico Bayer-Monsanto terá que pagar 1.560 milhões de dólares depois de perder um julgamento em EEUU contra o herbicida Roundup, cujo ingrediente activo é o glifosato.

Ademais, na votação da UE, o resultado não foi unânime: segundo AFP, sete países, incluindo o França, Alemanha e Itália, abstiveram-se. Estas reticencias poderiam significar que há dúvidas. Mas em alguns territórios a substância já está assentada. Segundo os dados de Greenpeace , em 2022, o 34,6 % das águas superficiais espanholas estavam contaminadas por glifosato numa concentração que incumpre a norma de qualidade ambiental. O rio Guadiana é o mais contaminado por esta substância, numa percentagem 3.000 vezes superior ao que permite a lei.

Um posto com várias frutas e seus correspondentes preços / PIXABAY

A posição de Greenpeace

"Hoje é um dia triste para a União Européia, para a cidadania e o meio ambiente. Temos perdido a oportunidade de eliminar definitivamente o perigoso glifosato de nosso meio e alimentação", assegurou um porta-voz de Greenpeace num comunicado.

Os grupos que apoiam o uso do glifosato se baseiam nos relatórios da Autoridade Européia de Segurança Alimentar (EFSA), que não encontrou nenhum "área de preocupação crítica" em humanos, animais e o meio ambiente expostos ao herbicida. Isto é, que a EFSA vinha a contradizer à OMS.

Uma decisão "baseada na ciência"

César Marcos é o porta-voz de Aliança ASAS por uma Agricultura Sustentável, e explica a este meio que esta entidade faz uma valoração positiva da decisão da UE. "Baseia-se na ciência. Não há critérios para classificar o glifosato como um cancerígeno, tóxico ou mutagénico, se se usam as doses que vêm especificadas no etiquetado", conta a este meio.

Um campo cultivado / UNSPLASH

O assunto das doses é fundamental, já que o aplicativo deve ser racional para que o risco diminua. "Sabemos que o ibuprofeno é um medicamento efectivo, mas se te tomas uma tableta inteira, vais directo ao hospital e inclusive peligra tua vida", compara este experiente. "Se conduzes a 200 quilómetros por hora no meio da cidade também te expões a riscos ", acrescenta.

Consulta pública sem precedentes

A decisão da UE tem sido muito raciocinada, crê Marcos. "Estudar e valorizar os efeitos do glifosato tem sido um processo muito longo que tem durado anos, primeiro com países que se puseram ao avaliar e depois com as conclusões, mais uma consulta pública, que nunca em Europa tem tido uma consulta pública tão numerosa referente ao glifosato", explica.

"Cingimos-nos aos relatórios que emite a EFSA, que é uma agência independente e pública", recalca.

Várias pessoas protestam contra o uso de fungicidas / JESÚS HELLÍN - EUROPA PRESS

Sem alternativas sustentáveis

A dia de hoje, explica o porta-voz de ASAS, "não há uma alternativa que seja tão sustentável, entendendo a sustentabilidade desde uma triplo dimensão: económica, social e meio ambiental. Uma alternativa seria a mistura de produtos de substâncias activas químicas, mas seriam mais perjudiciales para o meio ambiente. Outra possibilidade seria tirar as más ervas de forma mecânica, com máquinas, de forma que aumentariam as emissões de gases", assegura Marcos.

Num comunicado, ASAS vai para além e sustenta que a evidência científica "revela também que o glifosato contribui aos objectivos de sustentabilidade da UE em termos de luta contra a mudança climática ao permitir que os agricultores adoptemos práticas de agricultura regenerativa, como a agricultura de conservação, que captura carbono no solo, fomenta a preservação e melhora da biodiversidade nos ecossistemas agrícolas".

Controvérsia "ideológica"

Se está tão claro, por que os ecologistas se mostraram tão contestatarios? Marcos acha que a nível internacional "o glifosato está no ponto de olha porque é um componente mais da gestão do cultivo de transgénicos , e em Europa estão proibidos salvo um, o EPC de milho, de modo que achamos que a luta é muito ideológica", explica.

Ademais, ASAS vem a dizer que o assunto lhes preocupa a eles tanto ou mais que a outros colectivos. "Os agricultores somos os maiores interessados em poder garantir umas condições de produção seguras para o ser humano, respeitosas com o meio ambiente, o bem-estar animal e o meio rural com o fim de poder oferecer aos consumidores produtos de primeira qualidade e máximas garantias sanitárias, e contribuir à conservação do solo, a qualidade do água e a biodiversidade".