Sabias que as abejas fazem uma viagem especial para criar esse mel que tanto gostas? Para poder ter nos lineares dos supermercados ou nas lojas especializadas diferentes meles, como a de laranjeira, romero ou tomillo, é necessário que as abejas percorram diversos pontos de Espanha. Sim, estas operárias também fazem sua trashumancia. Mas para realizar este trajecto tão especial precisa-se gasolina, e nestes dias os preços fazem tremer aos apicultores de Espanha.
Com um contexto prévio já complicado, marcado pela seca, o que menos precisam os profissionais encarregados deste extraordinário produto, que endulza a cada dia muitos paladares, era uma importante subida do combustível.
Por que a gasolina encarece o mel
Para ter mel todo o ano, e de diferentes tipos, os apicultores devem transladar as abejas a diferentes pontos do enriquecido território espanhol e garantir assim seu alimento. "Os apicultores o que fazemos é transladar essas colmenas em procura das florações que nos interessam. Por exemplo, para fazer mel de romero levamos as abejas até dita flor. Quando se acaba, quiçá, coincide com a do tomillo ou a laranjeira. Então, apanham-se de novo as colmenas e movemo-las até aqueles lugares onde a flor predominante seja essa", explica a este meio Pedro Loscertales, responsável pelo sector apícola da Coordenadora de Organizações de Agricultores e Ganadeiros (COAG).
Ante o elevado preço dos combustíveis –em março em algumas gasolineras a gasolina 95 superou os 2 euros o litro–, os apicultores valorizam se vale a pena fazer o esforço de transladar as colmenas e se subir o preço ao consumidor. "A cada viagem de 600 ou 700 km de trashumancia vem a custar agora uns 1.200 euros mais que no ano passado por viagem", acrescenta o representante de COAG. "Se és um apicultor muito grande estás obrigado a trashumar, o que tem um sobrecoste devido à gasolina. Se sobem-te os custos de produção, ao final tens-lho que repercutir nos compradores", apostilla Mario Fernández Navarro, porta-voz da Associação Espanhola de Apicultores.
A situação dos pequenos produtores em Espanha
Mas não só os grandes apicultores realizam a trashumancia. José Antonio, um pequeno produtor de Múrcia que autoabastece com seu próprio mel a sua loja Behoney, também a realiza. "Nós fazemos trashumancia em vários pontos de Espanha. Trabalhamos para produzir cinco tipos de meles de colheita própria", destaca.
No entanto, o facto de deslocar as colmenas pelo longo e largo do território é uma opção, como recordam alguns experientes. "Também podes decidir não trashumar ou mover as abejas a colmenares mais próximos. Aos produtores mais pequenos, ou os que não estão acostumados, como os do norte, o custo não lhes vai repercutir tanto", enfatiza Fernández.
A seca, uma grande inimiga das abejas
Mas o combustível não é o único problema que têm os apicultores. "Afectam-nos os sobrecostes em alimentação que vimos arrastando desde princípios de ano, que se incrementaram com a seca e com o início frio do ano", recorda Loscertales.
Sobre a seca, Fernández acrescenta que um outono, tão seco como o último, "nos tem mermado muitíssimo as abejas, temos perdido uma grande quantidade com respeito a uma temporada normal".
Problemas nas lojas
Estes problemas já se notam nas lojas, tal e como assinala a esta médio Aurora Jiménez, da Moderna Apicultura, em Madri. "Temos sofrido um incremento importante no preço do mel. Nossos produtores dizem-nos que a razão principal é o aumento dos combustíveis e a electricidade".
Esta vendedora lamenta que, ainda que tenta aguentar o tipo, "desde o verão passado temos notado um descenso do consumo de mel importante. Temo-me que não vamos ter mais remédio que repercutir algo dita subida, pois nossa margem se reduziu e nosso negócio não seria sustentável".
Escassez de produto e subida de preços
Os produtores que vendem seu próprio mel também se encontram neste dilema. Subir o preço do mel ao consumidor ou não? "Nós a trashumancia a vamos fazer porque é um respeito a nossos clientes. Seguimos com nossa campanha de forma normal, assumindo os custos que implique e vendo a forma da financiar da melhor maneira", afirmam desde Behoney.
No entanto, o contexto deste 2022 empurra ao sector a uma situação limite. E, ainda que custa-lhes admití-lo e assumí-lo, já alguns produtores avançam um mel mais caro nos comércios em curto prazo.