Por que já ninguém quer ser panadero?

Os experientes coincidem em que as pessoas valorizam mais o pan artesão que o de supermercado mas o sector panadero faz frente a uma crise de relevo profissional sem precedentes

Un panadero artesano amasa pan en un obrador   PEXELS
Un panadero artesano amasa pan en un obrador PEXELS

Quando se pensa nos costumes espanhóis, há uma bastante generalizada na maioria dos lares: comer com pan. Muitos consumidores se decantan pelo de supermercado. O motivo? Uns preços realmente baixos e asequibles. Agora bem, quando se trata de qualidade nem sequer é comparável ao pão artesanal. O negócio de panadería, bollería e pastelería tradicional engloba em nosso país a 12.000 empresas.

A maioria delas são PMEs ou micropymes. Ao todo, geram 190.000 empregos e os pontos de venda ascendem a 45.000 sem contar gasolineras nem supermercados. São dados da Confederação Espanhola de Panadería, Pastelería, Bollería e Afines (Ceoppan). A figura do panadero artesão está mais revalorizada que nunca mas, paradoxalmente, o sector sofre uma crise de relevo profissional. Por que?

Partimos de uma base

Eduardo Villar, presidente de Ceoppan, põe o foco no tipo de freguesia que aposta pelo pão artesanal. Em declarações a Consumidor Global explica que no mundo do pan precocido não se precisa nenhum tipo de conhecimento. Muito diferente ao que ocorre numa panadería artesana.

Un panadero amasa pan / PEXELS
Um panadero amassa pan / PEXELS

"Estás a jogar com diferentes tipos de farinha, fermentaciones e tipos de pan". Ao ser dois mundos totalmente diferentes, os clientes também o são. "Há gente que não valoriza o pão ou por motivos económicos, se decanta pelo de supermercado. Nossa freguesia é gente de 30 em adiante que sim valoriza a alimentação e se pode permitir comprar onde quer", expõe o presidente da citada confederação.

O resurgir da panadería tradicional

Espanha é todo um exemplo a seguir no que a panaderos se refere. Sublinha-o o próprio presidente de Ceoppan. "A panadería de vanguardia que está a surgir em Espanha nos converte em referência. Nunca o panadero espanhol tem estado tão formado como agora", explica Villar.

Los panes que vende una empresa de España / PEXELS
Os pães que vende uma empresa de Espanha / PEXELS

Eduardo Rodés, panadero artesão, tem claro quando começou esta revalorização do oficio. "Na pandemia surgiu um boom da panadería e a pastelería", explica a este meio. Um contexto no que também jogam um papel fundamental as redes sociais. "Permitem transmitir a mensagem do que é um pan artesão e chega a mais gente", sublinha.

Falta de mão de obra

Em frente a essa profissionalização do sector há um problema em auge: as novas gerações não querem ser panaderos. "Para inaugurar novas panaderías precisamos um novo pessoal qualificado que não temos em Espanha", afirma Villar.

Para o presidente de Ceoppan o principal argumento é que não se soube transmitir a paixão pelo oficio à gente jovem. Para Rodés a falta de mão de obra tem que ver com os horários. "As panaderías sempre têm sido um negócio de noite e muitos jovens não vêem compatíveis esses horários com seus ritmos de vida", argumenta.

O incremento de preços

Para além da paixão pelo oficio ou os horários, há um motivo que não passa desapercibido. Os obradores fazem frente a uns custos que, actualmente, são mais elevados que nunca. Rodés reconhece que desde o início da guerra de Ucrânia os preços da electricidade e a farinha não têm deixado de se incrementar.

Una chica hace pan en casa / PEXELS
Uma garota faz pan em casa / PEXELS
 

Isto tem obrigado ao sector a subir os preços do pão. "A gente não está acostumada a pagar segundo que preços para uma baguette ou para um pão clássico. Há todo um trabalho de divulgação detrás para que o consumidor saiba que se se sobem os preços não é para lucrarse sina para sobreviver", conclui este panadero.

Baguettes a dois euros

Uma baguette num supermercado custa uns 60 céntimos. Essa mesma peça de pan transladada à panadería artesanal ascende aos 2 euros. Rodés explica que ao custo energético de manter as massas, realizar a cocción do pão e o encarecimiento das matérias primas, se soma o tempo do trabalhador.

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A "baguette" de pan francesa / PIXABAY

"Não se pode baixar o preço. Estamos no limite. Cada vez há que o subir um pouco mais mas a gente vê uma baguette a 2 euros e se assusta", reconhece. Esse preço tão barato que se paga nos supermercados pelo pan repercute na saúde. Este panadero sublinha a má qualidade que têm esses pães e os problemas que geram no sistema digestivo. Tais como, por exemplo, as intolerâncias ao gluten.

Qualidade vs quantidade

Valoriza-se mais o pão artesanal? Os experientes do sector apontam que sim. Então, por que já ninguém quer ser panadero? A resposta é um conjunto de factores que explicam Villar e Rodés. Não se transmite o suficientemente bem o amor pelo oficio e a inflação não acompanha.

Varios panes en un expositor / PIXABAY
Vários pães num expositor / PIXABAY

Rodés reconhece que um obrador também não é um negócio que te converta em milionário. O orgulho e a motivação desta profissão recae no produto de qualidade que vendem: "O pão artesanal é um um produto são e nutritivo. Se consegues transmitir essa mensagem, a gente sim paga o preço que tu consideres justo", limpa Rodés.

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