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Os pontos de carregamento para carros eléctricos só chegam a 15% do previsto: "Fiquei encalhado"
Espanha conta com pouco mais de 15.000 instalações públicas para o carregamento de veículos eléctricos, um valor muito distante do objectivo do Governo de atingir os 100.000 no próximo ano
"Tinha que fazer uma viagem de Barcelona a Madrdi. Saía pela manhã cedo, de modo que na tarde anterior estive a procurar por toda a cidade por um ponto para carregar o meu Tesla. Os poucos que havia estavam ocupados e decidi ir ao shopping La Maquinista. Nada de nada. Esperei até quatro horas. Já era tarde, e deixei as minhas esperanças de que no dia seguinte houvesse um livre. Não tive sorte, fiquei encalhado sem poder chegar à capital para trabalhar", relata Sergi Antolin, utilizador de um carro eléctrico e product manager de uma marca conhecida de carros.
Não é questão de ter sorte ou não como se se tratasse de um estacionamento, mas sim que, como os números indicam, não há suficientes postos de carregamento em Espanha. Actualmente, o país conta com 16.600 pontos de recarrega públicos, segundo os últimos dados (setembro) do Barómetro de Electromobilidade da Associação Espanhola de Fabricantes de Automóveis e Camiões (Anfac). Este valor afasta-se muito do objectivo de 100.000 cargadores que fixou o Governo para 2023.
Quais são as dificuldades?
Antolin assegura que não lhe ocorreu o infortunio apenas uma vez. "Já me aconteceu até quatro vezes desde que adquiri o Tesla Model 3 Long Range em outubro passado", diz o também perito em mobilidade eléctrica. "Tenho sofrido muito por ter poucos pontos de carregamento. Costumo ir carregar a shoppings grandes, onde há bastantes, e, ainda assim, estive a ponto de ficar encalhado várias vezes. De facto, fiquei encalhado até poder carregar o meu carro e depois parti", assegura.
"Tive que esperar três horas até que houvesse um lugar livre e depois esperar que carregue o meu durante quatro ou mais cinco horas porque são carregamentos lentos ou semirrápidas de 7,4 e 11 quilowatts. Alguns com sorte contam com 22 quilowatts", queixa-se este utilizador, que além disso assinala que teve a obrigação de fazer tempo por culpa de carros híbridos plug-in que "podem funcionar com gasolina" e ocupam muitas horas. "Irrita-me porque acho que os pontos de carregamento rápido deveriam ser exclusivos para os carros eléctricos", diz.
Por que há poucos pontos?
Para Alejandro Pérez, youtuber e perito em carros eléctricos, este problema problema reside na esfera administrativa. "Claro, estes pontos de carregamento devem estar na via pública e devem ser financiados por parte da administração pública, com subsídios ou tornando muito fácil a mudança para veículos eléctricos com um quadro regulamentar menos complexo", diz à Consumidor Global.
Há 40% de pontos públicos instalados ou em fase de instalação que continuam à espera da obtenção de licenças ou permissões. Para aacelerar a instalação de pontos de carregamento, o Governo emitiu regulamentos que obrigam a sua instalação nas gasolineiras com mais vendas, shoppings ou edifícios da Administração Geral do Estado e sociedades dependentes, entre outros.
Cumprir objectivos
A implantação requer de um forte investimento para as empresas e de uma capacidade técnica, instaladoras autorizadas, e uma adequação de regulamentos, municipal, de prevenção e de segurança, que não existe de momento, segundo explica Pérez a este meio. Por sua vez, da Anfac informam que se marcaram do objectivo de chegar aos 45.000 pontos neste ano para cumprir com o que lhes exige o Governo no Plano Nacional Integrado de Energia e Clima 2021-2030 e nos mais exigentes objectivos do fit x 55 que proibirão a venda de veículos que emitam gases poluentes para atmosfera a partir de 1 de janeiro de 2035.
"Como vês, estamos bem longe do objectivo. O pior é que, segundo os nossos dados, 8 em cada 10 pontos de carregamento público estão estão abaixo dos 50 quilowatts de potência. A maioria são de 22 quilowatts. Imagina que nesta ponte saimos todos com os nossos carros 100% eléctricos e que, ao chegar no ponto de carregamento, nos encontrássemos com uma potência de 22 kW. Se a nossa bateria é de 66 kWh de capacidade e chegamos vazios, precisaríamos de três horas para carregar o veículo por completo", aponta Félix García, director de comunicação e marketing da associação.
Falta de investimento público
Por isso, Anfac apela à aceleração da implementação de pontos de carregamento de alta potência. "Propusemos ao Governo através de alterações introduzidas pelo PDeCat no Orçamento Geral do Estado, uma dotação de 300 milhões euros públicos para elevar o número de pontos de carregamento de mais de 150 kW. Mas o Governo vetou a alteração e não foi adiante", lamenta García que afirma que fazem todo o possível por cumprir os objectivos.
"O cliente já dispõe de 200 variantes de modelos e marcas híbridos plug-in e 100% eléctricos no mercado. Mas tal como se passa com os pontos de carregamento, até novembro venderam-se 70.000 carros electrificados (híbridos plug-in mais eléctricos puros) e o objectivo era fechar este ano com 120.000 unidades. Aqui seria bom que os subsídios do Moves III que clientes e empresas podem receber fossem directao e não tributables no IRPF", destaca García.
"As pessoas duvidam"
"Na Alemanha, um carro eléctrico tem um subsídio direto de 10.000 euros e o cliente não tem que fazer nada. Se o carro vale 45.000 euros, paga 35.000 e pronto. Aqui há que fazer o trâmite, que se aprove o expediente pelo IDAE, põem-te em lista de espera, etc. É um incómodo, não é a próxima coisa. Vamos que não é um incentivo para comprar este tipo de veículo, se demorar 13 meses ou mais a chegar e tiver também de pagar impostos sobre ele", finaliza a fonte da Anfac
Sergi Antolin, apesar de se vangloriar do seu Tesla, não pode evitar de se perguntar se fez bem ou devido aos numerosos obstáculos que encontra quando se trata de o cobrar "Ainda que poupes mais que com um carro de combustão e seja um modelo ecológico, as pessoas duvidam e têm medo de comprar um carro eléctrico em Espanha como há escassos pontos de carregamento ainda. Ao contrário de em outros países europeus como a França e Alemanha,onde as estradas são governadas por Teslas como a minha, mas não ficam encalhadas", finaliza.