No passado mês de abril, a empresa espanhola PcComponentes pôs fé, logística e toda a carne no asador para lançar Unilae, um marketplace generalista com o que pretendia trascender o âmbito da tecnologia. Incorporou então produtos de juguetería, decoración, bricolaje ou cosmética. Em alguns meios falou-se do "Amazon murciano" e disse-se que o objectivo da empresa era facturar 100 milhões de euros em três anos. No entanto, oito meses depois, Unilae tem fechado.
Em redes sociais, o periplo de Unilae passou quase desapercibido. "Acabo-me de inteirar de que existe Unilae no dia que fecha, ou seja que algo têm feito mau", dizia um consumidor em Twitter. Esse sentimento, o de não ter calado, é uma das causas que explicam o declive. Em Instagram, a conta de Unilae conseguiu 12.000 seguidores, uma cifra ínfima ao lado do meio milhão que tem a de PcComponentes.
Uma experiência negativa que não é decisiva
"Não diria que é um falhanço, porque de todo se aprende", explica a Consumidor Global Jorge Aguilar, professor de ESIC Business & Marketing School, quem não individualiza o bache e acha que "há múltiplas experiências com impacto negativo". E esta, mais especificamente, não será uma estocada fatal para PcComponentes. "Têm muitas linhas de negócio, e esta era uma complementar. Também têm reforçado o retail média recentemente", puntualiza o experiente.
Ademais, Aguilar explica que muitos players desconhecem que implica criar ou gerir um marketplace. A diferença entre este e um e-commerce, precisa, é que no marketplace os produtos que se vendem não pertencem a quem os comercializa, que actua de intermediário. "O facto de que os produtos não sejam teus complica muito a operatividad", afirma Aguilar.
"O comércio on-line não é tão singelo"
Ainda mais, opina que "o comércio on-line não é tão singelo como nos cremos" e que todo o processo logístico "é para as empresas o grande Cavalo de Troya. Sabemos que inclusive o próprio Amazon não gera rentabilidade nessa linha de negócio", afirma. O chocante é que a marca PcComponentes sim tem muita implantação, com várias lojas físicas e uma experiência contrastada. Ainda que O Ganso também é uma marca muito contrastada e, tal e como recorda Aguilar, tentou igualmente criar um marketplace competitivo no que actuava de intermediário para vender produtos de marcas pequenas. Também não deu certo.
Com tudo, o professor de ESIC recalca que não é, nem muito menos, um tropeço do que não se possam recuperar. Segundo os dados de Wikipedia, no ano 2020 PcComponentes facturar 647 milhões de euros e seu modelo contava com mais de 550 empregados. "Fazem-no fantasticamente bem", opina o experiente, quem defende que, à longa, o movimento pode ser o idôneo, porque quando alguém que não se monta bem num mercado decide sair, "o mercado o premeia". Em definitiva, "uma retirada a tempo pode ser um sucesso".
O grupo minimiza o problema
Este meio tem perguntado à empresa para conhecer de primeira mão os motivos do descalabro. Fontes do grupo ao que pertence PcComponentes explicam que "a nível grupo se impulsionam muitas iniciativas empreendedoras, inovadoras e apostas diferentes e Unilae era uma delas. Finalmente, não tem atingido os objectivos esperados e se decidiu finalizar o projecto. Unilae representa uma grande aprendizagem para seguir melhorando no desenvolvimento de novas iniciativas e experiências no âmbito do e-commerce".
Ademais, detalham que "a equipa trabalha intensamente para que o impacto desta decisão seja o menor possível" para empregados, clientes e vendedores, "mantendo o compromisso do grupo e a atenção aos utentes através dos canais habituais de contacto (o site, o call center e o número de atenção ao cliente)". Por último, não agacham a cabeça e asseguram que seguirão "arriscando e apostando por impulsionar novas soluções inovadoras nacionais que contribuam melhoras no sector e-commerce e beneficiem ao cliente." A chave é a palavra nacionais.
Reconhecimento como marca
José Luis Castillo Sequera é professor de Linguagens e Sistemas Informáticos no departamento de Ciências da Computação da Universidade de Alcalá e dá a matéria Fundamentos do Comércio Electrónico. "A ideia é atraente, mas teria que saber que suporte tem", defende. "Não acho que tenham pecado de ingénuos , mas o que mais custa é ser reconhecidos como marca, e se obtém comt iempos médios ou longos", argumenta. De facto, PcComponentes fundou-se faz já 15 anos.
Castillo aponta que também seria necessário conhecer os recursos económicos investidos em Unilae. A pergunta é evidente: a tarta já está repartida entre os grandes? Ainda mais, é viável tentar morder um pedaço do pastel de Amazon ou AliExpress? Castillo acha que, apesar da posição dominante de Amazon, "sempre há oco" para outros players se estes sabem o fazer bem. "Mas o mercado é o que manda".