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Compras compulsivas e dívidas: a letra pequena dos pagamentos a prestações 'on-line'

A facilidade que outorgam estes sistemas de financiamento são um incentivo para consumir mais e sem controle

Núria Messeguer

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Comprar sem dinheiro é cada vez mais fácil. Agora, o desejo não entende de esperas, nem de orçamentos, especialmente na internet. Vês algo, compras e ao fim de uns meses pagas. E tudo graças a empresas como Klarna, Instant Credit, SeQura ou Clearpay, que oferecem a opção de alargar pagar a prestações e sem juros as compras com um simples clique no mesmo site que vende os produtos. Esta opção tem revolucionado o setor das finanças e tem chamado a atenção dos bancos tradicionais.

No entanto, esta facilidade de compra vislumbra alguns riscos. Um dos problemas principais é a possibilidade de adquirir produtos acima de nossas possibilidades ou, o que é o mesmo, entrar num mundo de compras compulsivas que, no final, enganchan a mais de um. "Estes métodos derivam de uma sociedade que quer tudo: o novo iPhone, uma viagem em verão ou roupa nova a cada temporada, e não poupa nada", aponta Elisabet Ruiz, professora de Economia e Finanças da Universitat Oberta de Cataluña (UOC).

A face menos amável dos pagamentos a prestações

"Sem uma educação financeira é fácil que o pagamento a prestações se converta num tipo de dívida" explica Ruiz. No entanto, na economia, o pagamento a prestações considera-se uma oportunidade de negócio. "Ao não pagar o custo total, o utilizador tem liquidez para investir noutros assuntos", assinala esta especialista. Mas este pensamento é "inacessível" para a maioria dos utilizadores que utilizam estes métodos. "Somos, no geral, uns ignorantes financeiros", enfatiza Ruiz.

Da mesma forma, Anna Adolfo, cofundadora da escola de formação digital DNA Academy assinala que "estas plataformas tornam o risco de endividamento relativo, sobretudo, nas gerações mais jovens que não contam com a maturidade na decisão de compra". E Verónica Rodríguez, porta-voz da Associação de Utentes Financeiros (Asufin), considera que este superendividamento é porque as empresas "não medem bem a solvencia da cada utilziador antes de contratar o financiamento". Além disso, outro facor que favorece a dívida são os slogans publicitários. "Apelam à satisfação imediata e jogam com a psicologia do consumidor", aponta Adolfo, que lembra que fomentar esta prática nas novas gerações pode levar a hábitos de consumo muito prejudiciais, como o "vício às compras compulsivas".

Sem juros

As plataformas dedicadas às compras a prestações têm experimentado um boom durante o último ano. A crise económica, derivada da pandemia, e o boom do e-commerce criaram um meio idôneo para que cresçam estes métodos de financiamento. No entanto, a sua inclusão no mercado espanhol ainda está numa fase embrionária. "Em Espanha esta prática ainda não goza de muita popularidade. Os compradores descobrem-na quando estão a ponto de realizar o pagamento no website, explica à Consumidor Global Mireya Vilá, responsável por marketing de Instant Credit, a plataforma vinculada ao Banco Sabadell.

Este financiamento é flexível e sem juros ainda que, como recorda Ruiz, "que esteja livre deles não significa que não tenha um custo". Na oponião desta especialista, a sociedade atual está muito castigada com este termo e recorda que "se não se paga um juro paga-se uma comissão". Nesse sentido, Adolfo critica as descaradas quotas que impõem estas empresas por pagamentos tardios. "Não têm juros, mas se o utilizador se atrasa um dia no pagamento da compra, sancionam com multas de até 30 euros", sublinha.

Um utente olha diferentes abrigos desde o ecrã do móvel / PIXABAY

As comissões

Estas novas fintech aplicam, no geral, aos comércios ou partners uma comissão. O custo varia em função da empresa. Mas, segundo detalham fontes do setor a este meio, a maioria destas plataformas aplica uma comissão que ronda os 5% do custo total da compra.

Algumas destas empresas, por outro lado, asseguram que a comissão pode assumir, também, o cliente. "Isto ocorre se se trata da modalidade de pagamento flexível. A ser assim, o cliente assume um pequeno encargo extra", enfatiza Guillermo Gómez, consultor de SeQura. Por outro lado, no caso de Instant Credit, é o comércio que escolhe se assume este custo ou atribui ao comprador. "Depende da margem de benefício da cada empresa. Assim, por exemplo, se se trata de uma grande rede que oferece preços ajustados, pode não valer a pena pagar a comissão porque não obteria um benefício com a compra", acrescenta Vilá.

Pagamentos a prestações: diferenças entre empresas

No geral, as companhias que oferecem estes pagamentos a prestações permitem fazê-lo em três mensalidades. O custo máximo a parcelar varia segundo cada marca. A Instant Credit permite compras a prazo com um valor máximo de 4.000 euros; a SeQura de 3.000 euros; a Klarna de 1.000 euros; e a Clearpay de 800 euros. Ainda que, no caso de Clearpay, o orçamento possa ser maior se o cliente faz várias compras e repete o processo.

Quanto ao custo mínimo, este costuma rondar os 50 euros. E sobre quando se efectua a primeira cobrança, SeQura e Clearpay fazem-no no momento da compra, Klarna quando chega o pacote em casa e Instant Credit ao cabo de 30 dias ou 60 dias desde que se fez a compra. Desta forma, o tempo decorrido entre cada prazo também é diferente segundo cada empresa. SeQura, Klarna e Instant Credit fazem-no a cada 30 dias e Clearpay a cada 14 dias.

Assim é o consumidor que usa este método

Na opinião do Adolfo, da DNA Academy, o cliente potencial deste tipo de empresas é o jovem que não tem um poder de compra estável e que não pode satisfazer seus caprichos. "Estas empresas apelam à insatisfação e a compra impulsiva. Se podes pagar um produto não o financias, e se o fazes, é porque não to podes permitir", assegura.

Além disso, para esta especialista, este tipo de pagamentos chegou para ficar. "Espanha é um país de salários baixos, por isso muitas pessoas verão nestes métodos a única forma de aceder a um determinado produto", conclui.