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Incomodam-te com telefonemas estranhos do Reino Unido? Isto é o que deverias fazer

Os cibercriminosos tentam ganhar a confiança das pessoas alegando ser investidores ou profissionais do mercado de ações, mas especialistas recomendam denunciar esses telefones

Juan Manuel Del Olmo

Uma mulher ao telemóvel / PEXELS

Prefixo de Reino Unido: +0044 ou +44. Um toque, dois toques, três toques. Sotaque estranho. Urgência, às vezes até impulso. Ofertas implausíveis, que anunciam dinheiro quase imediato. Os telefonemas estranhos do Reino Unido converteram-se numa constante que irrita e inquieta a muitos utilizadores. Enquanto eles hesitam se atendem ou não, do outro lado pode ter cibercriminosos que se fazem passar por investidores ou por especialistas do mercadode ações.

Em fóruns especializados, alguns consumidores queixam-se de receber estes telefonemas até três vezes por dia, enquanto a outros lhes preocupa como conseguiram o seu telefone. Face esta enxurrada de telefonemas, os especialistas apelam à precaução e alertam de que os cibercriminosos são camaleónicos: antes faziam-no na realidade física, e agora na digital. E a atual conjuntura, com questões tão etéreas como as criptomonedas, também não ajuda.

Suspeitar se o telefonema vem do Reino Unido

Juan Manuel Corchado, catedrático no área de Ciências da Computação e Inteligência Artificial e professor da Universidade de Salamanca, explica à Consumidor Global que o primeiro que há que fazer face a estes telefonemas "impertinentes" é aplicar o senso comum. "Há que pendurar ante a mais mínima dúvida e não dar nunca dados pessoais, mas se nos ligam do Reino Unido há que suspeitar".

Uma pessoa observa o seu telemóvel / PEXELS

Tal como explica o especialista, este assédio e demolição através do telemóvel não é difícil de levar a cabo: "Hoje os malandros tradicionais saltaram para a onda da Internet, e é muito fácil para eles criarem identidades falsas e cometerem crimes", expressa. A opinião de Corchado concorda com a de José Francisco Monserrat, professor e pesquisador da Universidade Politécnica de Valencia (UPV): "Há muito delinquente jovem que está na sua casa e com um computador o pode fazer", diz. "Com um pouco de manhã, não é complicado, a nível técnico, fazer que ligues da Bélgica desde o teu quarto em Valência", conta.

A importância de denunciar o número

Por isso, segundo Monserrat, a precaução é a chave: "Se não esperas um telefonema de um país estrangeiro, o melhor é que não o atendas", diz. O facto de que a origem dos telefonemas se pode falsificar aumenta a diversão: a não ser que destine uma quantidade de recursos notável, é impossível saber de onde ligam nem quem são realmente estes delinquentes. Trata-se de tentativas de delito que caem em saco roto.

"Costumam ser suspeitas, mas há pessoas que continuam a tentar", diz o professor da UPV. No entanto, acha que estão a dar-se passos na boa direcção. "Tanto as operadoras e os fabricantes como as forças e corpos de segurança do Estado estão a desenvolver mecanismos de proteção. E, como utilizadores, temos a opção de denunciar o número no registro de telefonemas, não apenas o bloquear. É uma opção um pouco agressiva, mas recomendável", conta o professor.

Uma mulher em frente ao seu computador / PEXELS

Bancos de dados que criam alertas futuros

Denunciar e bloquear, além disso, pode ter efeitos positivos para muitas pessoas. "Com estas denúncias, criam-se bancos de dados que se partilham para gerar uma espécie de registro de números de duvidosa origem", explica Monserrat. O especialista afirma que, nos telemóveis mais recentes, os próprios terminais anunciam que estes telefonemas são uma possível fraude se o número está incluído no dito registro. "Não ocorre em todos, mas se está implementado", afirma.

No entanto, é um patch que não sfunciona para todos. Os especialistas consultados por este meio concordam que as pessoas mais idosas, menos habituadas ao uso da tecnologia, podem ter maior probabilidade de acreditar que os números do Reino Unido trazem ofertas reais.

"Toda a pechincha deve acender os alarmes"

Contudo, trata-se de técnicas aperfeiçoadas. "Há anos havia outra fraude através de correios electrónicos, nos quais o emissor te dizia que tinha uma fortuna em África e podia partilhá-la contigo… Vai-se mudando de táctica, mas toda a pechicnha deve acender os alarmes", afirma Corchado. "Todos ouvimos que há pessoas que ganham muitíssimo dinheiro com investimentos, mas há que ser cauteloso", acrescenta.

Uma pessoa olha os seus telefonemas no telemóvel / PEXELS

Os golpistas podem ser incrivelmente persistentes, com telefonemas todos os dias de diferentes números. Que o façam de forma sistémica, segundo Corchado, não significa que essa pessoa esteja mais ameaçada que outras. "Se ras ecusamo, não passa nada", expressa. Costuma-se dizer que a persistência é a chave do sucesso, de modo que estes golpistas não são os únicos que ligam sem cessar. Neste sentido, em Espanha já há uma sentença pioneira contra a Vodafone: um juiz condenou a empresa a pagar 6.000 euros a um cliente ao qual bombardeou com ofertas. Este caso abre a porta a que o exagero se torne ilegal.

Não existe risco por atender o telefonema

Há também quem tenha tentado responder a tanta insistência e contra-atacado. Sendo conscientes de que era uma fraude, algumas pessoas (sobretudo jovens com conhecimentos na matéria) seguiram a corrente a estes golpistas para ver quão rocambolesco era o seu engano. Nas redes sociais há vídeos de jovens que incentivam os golpistas a demonstram as suas fraudes.

"Não há risco pelo mero facto do atender, se és tu o que o atende e não ofereces nenhum dado", diz Monserrat, ainda que recomenda "precaução". No entanto, lembra que se a uma pessoa atende o telefonema e está realmente convencida de que é uma fraude, tem a obrigação de chamar a Polícia, porque trata-se de um delito.