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Saldos 2021: sem afluência de consumidores e com descontos insignificantes

As marcas da rede Inditex não baixam os preços de algumas peças de vestuário para além dos 10 euros, afetadas pela crise pandémica

Núria Messeguer

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Como já aconteceu com as calças skinny e com os cintos largos, tudo aponta para que os saldos tenham passado de moda. No final, as longas filas que se formavam diante do Corte Inglês recordar-se-ão com nostalgia e a euforia por encontrar uma peça ao melhor preço é uma sensação que se persegue todo o ano. "Esse sentimento de felicidade que estava associado aos saldos perdeu-se", reconhece Emili Vizuete, especialista em consumo e professor de Economia e Empresa da Universidade de Barcelona.

Na opinião de Vizuete, a sociedade está saturada de descontos. "Com tantas ofertas durante todo o ano, os saldos perderam o significado que tinham", acrescenta. E, embora esta tendência já se esteja a formar há algum tempo , acentuou-se nesta campanha temporada de Verão. "Estão a ser uns rebajas saldos descafeinados, quase não há afluência nas lojas e não se vê movimento". Mas, por que ocorre isto?

Meio ano de saldos

"Se não são saldos, são promoções, ofertas, descontos ou, a semana fantástica, a semana da cor ou o dia sem IVA. Por isso, o consumidor perde o interesse e pensa que se não compra durante estas promoções, fá-lo-á em outras", afirma Neus Soler, professora de Economia e Empresa da Universidade Oberta da Catalunha. Os saldos, na opinião dos especialistas, morreram quando em 2012 mudou-se a legislação e entrou-se numa espiral incontrolável de descontos intemporrais. Por isso, a Confederação Espanhola do Comércio (CEC) insiste na necessidade de voltar a uma política ordenada de saldos, para recuperar o impacto e a finalidade deste período.

"Tenho amigos que são empresários do setor têxtil e até me reconheceram que mais de 180 dias ao ano têm de oferecer algum desconto para vender. Isto é, passam meio ano em saldos para fazer frente à concorrência das grandes companhias", afirma Vizuete. Assim, face a semelhante avalanche de promoções, os saldos deixam de oferecer descontos significativos e ficam como "uma espécie de campanha de marketing nostálgica, que continuará a atrair certos consumidores", segundo lembra este professor de Economia.

Até 10 euros de desconto nas marcas da Inditex

Um exemplo de saldos descafeinados ocorre na maioria das marcas da Inditex . "A minha loja favorita é a Zara, sempre compro ali, mas, ao contrário de outros anos, nestes saldos só tenho visto descontos que rondam os 5 e os 10 euros. Nada mais", detalha María Vilaró, uma estudante de farmácia que reside em Barcelona. Assim, em lojas como Bershka, Pull and Bear, Stradivarius ou Oysho os produtos que estão e, saldos em mais de 10 euros são "contados", afirma esta jovem cliente.

"A Inditex está a fechar lojas. A crise pandémica afectou todos, ainda que de forma diferente, mas em todas as lojas cobreu o seu preço", lembra Soler. Daí que, segundo esta especialista, "as ofertas de verão não apresentem descontos significativos nem nos segundos saldos". Alem disso, ainda que agora as pessoas comprem mais por internet , "o ticket é inferior". "Agora todo todos controlam mais as suas despesas e face uma t-shirt de Zara ou um jantar com os amigos, vence, sem lugar a dúvidas, a segunda opção", comenta Soler.

Voltam os saldos 'fake'

O outro lado dos saldos são os falsos ("fake") saldos, que são mais comuns e habituais do que pensa a maioria de consumidores. Na verdade, os próprios empregados de grandes lojas, como os do Corte Inglês, confessam os truques que usam estas empresas para impulsionar as vendas ou "marcar um golo" aos clientes, tal como confessa a este meio J.C, quem prefere não desvendar a sua identidade.

"Como funcionári posso corroborar que este método de não alterar o preço anterior, por muito rebuscado que pareça, dá os seus frutos. Antes dos saldos as pessoas vão olhar aquilo que querem comprar e inclusive pede que lho reservem, mas depois ao recolher o artigo ou peça em questão nem se fixam se o preço se alterou ou não", confessa este trabalhador.