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Emagrecer 10 quilos num mês: a promessa impossível da Sliminazer, o último produto milagre
Estes adesivos para perder peso não só brincam com as esperanças e os medos das pessoas com excesso de peso, mas também utilizam um marketing agressivo baseado em mentiras e meias verdades sobre um produto médico não testado
Nas últimas semanas, vários boletins informativos e meios digitais falaram de um novo produto milagre para emagrecer. Trata-se dos adesivos da Sliminazer, que prometem uma perda entre sete e 10 quilos em quatro semanas sem nenhum esforço nem sacrifício. Basta aplicar um adesivo a cada 12 horas para, segundo a publicidade desta marca --que na verdade nem sequer tem uma empresa associada--, obter resultados imediatos independentemente da dieta ou o exercício físico que o consumidor faça.
Todos os sites que publicitam a Sliminazer baseiam-se no mesmo: as declarações de várias mulheres sobre como perderam gordura num mês e como a Sliminazer lhes mudou a vida, junto a uma série de investigações que sustentam os benefícios do dispositivo médico, como se define nas páginas. O ingrediente mais precioso e com melhores propriedades é o extrato de tamarindo malabar (Garcinia cambogia), uma fruta do sul da Índia com muitas lendas sobre a sua capacidade de queimar gordura.
A verdade por diante
"Não só é inútil, mas as promessas que fazem vão contra todo o conhecimento científico sobre o metabolismo humano", sentencia Paco Botella, professor de Endocrinología na Universidade Complutense de Madrid. O doutor propõe um rápido cálculo para verificar a implicação de perder 10 quilos num mês. Segundo expõe, um quilo de tecido adiposo costuma implicar umas 8.000 quilocalorías, pelo que 10 quilos são 80.000 quilocalorías queimadas em 30 dias (2.800 por dia). Se uma pessoa média precisa entre 2.000 e 2.500 diárias, o equivalente seria não só deixar de comer por um mês inteiro, mas sim que também teria que fazer exercício extra todos os dias.
Esta situação não é sustentável para a saúde nem para o organismo no general, pelo que seja com este produto ou com qualquer outro, uma perda de gordura a este ritmo é inviável. Além disso, um dos slogans da Sliminazer é que estes adesivos "ajudam a acelerar o metabolismo" como um método eficaz para perder peso. Para o endocrinologista, "a única forma que existe de acelerar o metabolismo é, por um lado, padecer de hipertiroidismo; por outro, tomar anfetaminas, não há mais. E ambas as opções são pouco recomendáveis da área médica", afirma.
Múltiplos danos
Ainda assim, poderia o corpo suportar este stress em tão pouco tempo? A doutora Clotilde Vázquez, chefe do departamento de Endocrinología e Nutrição da Fundação Jiménez Díaz, afirma que não. Em primeiro lugar, porque esta redução de peso não só seria de tecido gordo, mas também implicaria uma perda de massa múscular. "Perder apenas gordura nestas condições é impossível, e portanto, este desaparecimento tão acelerado de tecidos provocaria uma recuperação gigante assim que se voltasse a uma dieta convencional", remarca.
Os excessos de gordura sempre se associam com uma doença concreta, seja uma doença associada como a hipertensão ou bem, uns maus hábitos de exercício ou alimentação. A doutora Vázquez insiste que face a estes problemas deve-se sempre ir a um médico ou profissional de nutrição. Sem um diagnóstico, é difícil encontrar uma solução e, além disso, é muito simples cair na tentação de provar ferramentas pouco eficazes que prometem grandes efeitos em pouco tempo, como é o caso da Sliminazer.
Nem tudo vale na ciência
Sliminazer afirma que estudos muito variados demonstram as propriedades queimadora de gorduras dos ingredientes que o compõem. No entanto, uma rápida análise da Begoña Bolós, biotecnologista na Universidade de Copenhague, confirma as suspeitas sobre estes argumentos pseudocientíficos. "Um dos papers conclui, diretamente, que a Garcinia cambogia não pode demonstrar nenhum efeito sobre o peso. Outro se contradiz a si mesmo em vários pontos e outros admitem ser pouco conclusivos ou ter utilizado uma amostra pobre. É óbvio que procuram enganar o consumidor desinformado", explica.
Afinal de contas, todas estas investigações tratam de forma única alguns compostos dos adesivos Sliminazer, mas em nenhum caso se fez uma prova clínica com eles. Na verdade, nem sequer se percebe que quantidades destes ingredientes se utilizam, pelo que a maioria dos ensaios perdem o seu valor, ao empregar umas percentagens muito específicas em grandes espaços de tempo. De todas formas, se se chega até o final do site pode-se ler a seguinte mensagem: "A informação sobre os efeitos e a rapidez do tratamento indicada no artigo não constitui uma garantia por parte do vendedor das propriedades do produto. O texto considera-se material publicitário". Mais uma prova de que explorar os medos e as obsessões das pessoas é muito barato online.
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