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Os perigos de comprar em apps de segunda mão

Adquirir produtos através de certos sites de compra implica uma série de riscos cibernéticos e obrigações fiscais

Alejandra Used

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O mercado de segunda mão é um negócio lucrativo se se souber onde e como comprar, ainda que também acarrete alguns riscos. Uma maior consciência da sociedade por uma economia colaborativa, tem aumentado a presença das aplicações de vendas e com isso surjam os scams ou hacks.

"Roubaram-me 1.000 euros quando tentei adquirir um relógio pelo DH Gate", lamenta Javier Casado, um utilizador de 28 anos que compra regularmente através desta app chinesa de produtos em segunda mão. O problema é que "em muitas plataformas há links que redirecionam paraoutros sites e a cobrança é feita a terceiros. Isto é um risco porque lhe estamos a dar toda a informação para que possa fazer cobranças de outro tipo, como roubo de identidade", alertam da empresa tecnológica Aether Solutions.

Uma aposta pela economia colaborativa

A cada vez mais internautas usam apps para comprar, vender ou alugar produtos em segunda mão. Na verdade, esta tendência cresceu com a pandemia. "Em Micolet recebemos mais de 10.000 peças por dia, o duplo que antes e o 41% das mulheres já compra em segunda mão", explica Aritza Loroño, cofundador da Micolet à Consumidor Global. Na verdade, espera-se que o mercado de segunda mão cresça, a nível global, até os 51.000 milhões de dólares -- 44.000 milhões de euros-- em 2023, segundo uma investigação da ThredUp e GlobalData Retail.

Dada a mudança de mentalidade de alguns consumidores, empresas míticas, como a Levi's, unem-se a iniciativas para impulsionar a aquisição de produtos em segunda mão. Como a SecondHand, a companhia norte-americana que permite aos clientes comprar jeans e jaquetas em segunda mão e trocar as suas roupas usadas por créditos. Enquanto isso, a sueca Ikea conta com um site dedicado à compra de móveis e artigos em segunda mão da marca.

Roubo de dados

O principal risco de muitas operações deste tipo realizadas pela internet está relacionado com a informação pessoal que pode acabar na mãos de sites fraudulentos. Por isso, deve-se evitar entrar nos links que redirecionem para outras páginas. "Não se deve comprar em plataformas sem um certificado SSL --o cadeado que aparece à esquerda--, o qual comprova que a informação está encriptada e que não pode ser decifrada por ninguém que não seja a própria página web. Da mesma forma, há que desconfiar de qualquer mecanismo de pagamento que não seja o habitual, como os sistemas com cartões de crédito e débito, mas sem símbolos de VISA, Mastercard ou American Express", insiste da Aether Solutions.

Por outro lado, comprar dispositivos eletrónicos que já tenham sido usados traz outros perigos adicionais. "Podem ter vírus para roubar os dados pessoais e há que suspeitar dos dispositivos de alta gama que são oferecidos por um preço muito baixo. Além disso, se o anterior utilizador não desvinculou a sua conta, pode aceder à mesma no novo comprador ", acrescenta a tecnológica.

Garantia

"Comprei uma mala da Louis Vuitton por 200 euros na Wallapop, mas quando chegou era uma de plástico. Tentei reclamar, mas o anúncio sumiu e o vendedor desapareceu", lamenta Iñigo Saracho, um jovem de 24 anos de Bilbao. Em casos como este, algumas plataformas lavam as mãos e evitam todo o tipo de responsabilidade. "Wallapop não é proprietária de nenhum dos artigos à venda através da sua plataforma. Também não analisa, ou valida os produtos e não faz parte da transacção, pelo que não será responsável por danos e prejuízos", sublinha Wallapop nas suas condições de uso.

Além disso, com a pandemia do Covid-19, o medo o contágio obrigou as plataformas de segunda mão a serem mais escrupulosas com o que vendem. Todas as nossas roupas são retidasdurante mais de duas semanas antes de ser postas à venda. Mas, estes são os protocolos que nós seguimos, não podemos falar por outras lojas ou plataformas, já que a cada empresa toma diferentes medidas", explica Loroño de Micolet.

Aos olhos do Autoridade Tributária

Estas mudanças nos hábitos de consumo podem ser uma oportunidade para os próprios utilizadores, já que o setor da segunda mão põe de novo em circulação os objeos que já não se usam e com os quais se pode obter lucro. Porém, aos olhos da Autoridade Tributária, a compra pela internet não difere da tradicional e, ainda que muitas pessoas não saiba, a dita transacção não está isenta de tributação.

"É obrigatório declarar as vendas pela internet entre particulares sempre que suponha um lucro, isto é, quando o valor do que vendo seja mais alto que o preço original do produto", explicam os consultores fiscais da UB Consultores. Além disso, os compradores também não estão isentos. "O que se adquira por plataformas como Wallapop declara-se tal como se fosse uma compra física e independentemente do preço da venda, pagando o Imposto de Transmissões Patrimoniais através do modelo 600 da Agência Tributária, acrescentam estes especialistas legais. Na verdade, é cada vez mais comum que este tipo de plataformas colabor com a Agência Tributária, ainda que seja muito difícil que o Fisco detete todas as compras e vendas que se realizam diariamente, e mais ainda quando são pequenas quantidades de dinheiro.