Sombra aqui e sombra lá, um espelho de vidro e olha-te. Esta icónica canção de Mecano sobre maquilhagem e namoro em frente a um espelho já não é só coisa de humanos. A loucura pelo aliciamento e melhoria da imagem também se espalhou a cães e gatos graças aos chamados cabeleireiros caninos e felinos. Mas, realmente precisam tantos retoques os animais de estimação? Algumas redes inclusive oferecem serviços que podem ser prejudiciais para os animais e com os quais podem cobrar até mais 40 euros aos clientes.
Elizabeth Illán, cabeleireira canina e felina com experiência em diferentes redes do sector, afirma à Consumidor Global que estes centros só deveriam ter uma concepção de higiene e saúde, não estética como pensam alguns proprietários. "Há pessoas que se empenham em cortar o pelo dos seus mascotas quando essas raças não o precisam ainda por cima há empresas que se aproveitam disso para fazer dinheiro", explica Illán.
Uma questão de saúde ou estética?
Illán insiste que o trabalho dos cabeleireiros e centros de higiene veterinária é primordial para a saúde dos animais de estimação, "já que se podem detectar doenças dermatológicas como eccemas ou tumores". O problema está quando se realizam mais práticas que não são boas para os animais e além disso representam um custo extra para os proprietários.
Um caso muito comum é o dos gatos de raça persa, aos quais não se lhes deve cortar o pelo. Isto é porque perdem uma camada protectora natural contra queimaduras solares e insolação. "O único que há que fazer é escová-los", enfatiza Illán. E esta prática que te pode sair grátis em casa nalgumas redes pode custar uns 20 euros. Além disso, rapar e cortar o pelo ao animal são uns 60 euros, segundo esta trabalhadora, por isso é muito tentador para muitas redes como Kiwoco ou Koala aconselhar um serviço desnecessário, e inclusive prejudicial, em vez de asesorar bem e ganhar menos dinheiro.
Serviços desnecessários e prejudiciais de alguns cabeleireiros caninos e felinos
"Há proprietários que podem pensar que seu mascota está a sofrer calor pelo cabelo longo, quando isso precisamente o que faz é os proteger", expõe a veterinária Irene Guanyabens. "Há casos de donos que, por não cepillar eles mesmos a seu cão ou por uma questão de estética, os levam às peluquerías caninas com total desconhecimento", sustenta.
Illán sublinha algumas práticas, mais estéticas que outra coisa, que é melhor evitar se tens um animal de estimação. "Há casos nos quais se faz questão de cortar o pelo com tesouras para que fique um penteado pomposo ou inclusive exemplos de animais que são tingidos", relata. Neste sentido, Raquel De Lanuza, proprietária da Peluquería Canina Deixa Impressão de Soto do Real, detalha, no entanto, que, nos últimos anos, e segundo a sua experiência, mudou a concepção deste tipo de centros. "Antes, as pessoas traziam a seu cão uma ou duas vezes ao ano para os raparem por uma questão de estética. Agora, os donos compreenderam que existe um problema de saúde para além disso" diz.
A importância do cabelo nas mascotas
Em verão , sobretudo pelo calor, os proprietários abusam de levar à peluquería a seus colegas de vida peludos. "Muitos clientes pedem-nos rapar a seus animais ao zero porque dizem que passam calor. Mas isso é absurdo, enquanto tenham seu cabelo cuidado e sem nodos, não vão sofrer mais", detalha De Lanuza. De facto, os especialistas e experientes fazem questão do importante labor de protecção que exerce o cabelo em frente ao sol, parasitas ou arañazos. "Nosso dever é informar aos clientes para que entendam que não é bom para seu mascota fazer essas práticas", sentencia esta profissional.
Outro dos casos mais habituais, segundo a proprietária de Deja Huellao, é o corte de pelo em cães de pêlo duplo. Estes animais apresentam uma capa de pelo primário e outra de pelo secundário que eles mesmos mudam de forma regular e em função do tempo que faz. Algumas destas raças são o Pastor Alemão, o Husky, o Golden ou os cães San Bernardo. "Nestes casos não se deve raspar, só pentear em casa e banhar de vez em quando, mas nunca rapar".
Más práticas por parte de algumas redes
Apesar de que a maioria dos caveleireiros caninos e felinos mostra um serviço de atendimento responsável com respeito ao tratamento dos animais de estimação, há casos de empresas e redes criticadas por realizar determinadas práticas. "Eu tenho trabalhado em lojas que, de forma indireta, pedem que acedas e faças certos cortes, ainda que não seja o correcto, só por chegar ao objectivo económico que tens que cumprir", conta Illán.
"Há algumas redes que te deixam mais independência para que decidas tu como fazer o teu trabalho. Mas noutros lugares pedem-te que digas que sim a todos os serviços, sem ter em conta as peculiaridades do animal. Se o cliente o pede, faz-se e ponto", acrescenta esta cabeleireira.