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Os bancos e empresas de telecomunicações infiltram-se no setor em expansão da telemedicina

Movistar, Siemens ou o Banco Santander estão a entrar num setor desconhecido, mas com umas perspetivas de crescimento notáveis, sobretudo em tempos de Covid

Mónica Timón

telemedicina

A telemedicina aliviou a sobrecarga dos centros de saúde e hospitais durante os piores momentos da pandemia. Nesse sentido, poderia dizer-se que o coronavirus foi um aliado da digitalização do setor da saúde e a sua ascensão parece continuar. Na verdade, algumas empresas alheias ao setor da medicina têm-se colado no terreno da saúde digital para atrair novos clientes e encher a caixa.

A consulta à distância, ainda que tenha as suas limitações, reduz o tempo de espera e das deslocações. Além disso, permite fazer um uso mais eficiente dos recursos para reservar àquelas pessoas que mais os precisam. De facto, tal é o futuro que se lhe prevê a este tipo de cuidados médicos remotos que os aplicativos móveis ou dispositivos de saúde (setor MHealth) poderiam atingir um valor global de mais de 180.000 milhões de euros em 2026 --206 biliões de dólares--, segundo o último estudo da consultora Research and Markets.

Contratar internet e uma consulta médica

Uma das empresas alheias ao sector da saúde que se uniu à telemedicina foi a Movistar. "Queremos revolucionar a forma com que as pessoas acedem à saúde e facilitar o acesso aos cuidados de saúde primários", explicam fontes da teleco à Consumidor Global. Mas a companhia não está sozinha nisso e aliou-se à Teladoc Health, que conta com uma ampla experiência neste âmbito. Enquanto, a Telefónica promete maior segurança, robustez nas comunicações e a capacidade de levar as consultas remotas a qualquer dispositivo. Da mesma forma, Yoigo também anunciou o lançamento do serviço DoctorGO por QuirónSalud e Meeting Doctors. Mais especificamente, através desta ferramenta a operadora oferece agilidade no atendimento médico  --via chat e videochamada--, a possibilidade de receber receitas eletrónicas e a entrega gratuita de medicamentos ao domicílio.

Mas as grandes companhias de telecomunicações não são as únicas que viram a atração da medicina remota e que querem ficar com parte do bolo. Assim, o Banco Santander liderado por Ana Botim oferece seguros de saúde da empresa holandesa Aegon e a Mútua Madrilena presta os serviços de Adeslas, enquanto a Linha Directa oferece os da Vivaz. Por outro lado, a Siemens confirmou o seu compromisso com  Ever Health, uma companhia de telemedicina presente em Espanha e Latinoamérica.

Complemento à medicina presencial

A necessidade de atender de forma não presencial para limitar o número de contágios durante a pandemia e fazer reunir recursos tem feito com que se derrubem algumas das barreiras que existiam com respeito à telemedicina. "65% das consultas realizadas durante o confinamiento foram dirigidas a psicólogos", afirma Frederic Llordachs, cofundador e sócio da Doctoralia, uma plataforma que tem recebido milhões de consultas por videoconferência. "O coronavirus provocou um pico no uso da medicina remota que ainda continua", insiste Pablo Mas, diretor de operações de Meeting Doctors, cujos clientes são, além de Yoigo, Bayer, Zurich ou o banco Nationale-Nederlanden.

No entanto, a telemedicina não veio para substituir as consultas in loco, mas sim para as complementar e as apoiar. "Os nossos estudos afirmam que entre 60% e 70% das consultas de telemedicina evitam uma consulta médica presencial, o que tira pressão ao serviço médico", diz Mas. Na opinião deste especialista, trata-se de um mercado em crescimento que ainda não está do todo estebelecido, mas com mais aceitação pela população. "82% dos pacientes continua com o serviço ao cabo de um ano. É um indicador de que as pessoas que o utilizam reconhecem o seu valor acrescentado", afirma o responsável pela Meeting Doctors.

Espanha suspende a maturidade digital da saúde

Ainda que todos os setores tenham sido obrigados a uma digitalização in extremis  esta ainda não chegou ao Sistema Nacional de Saúde espanhol em todo o seu potencial, tal como aponta um estudo da Federação Espanhola de Empresas de Tecnologia Sanitária (Fenin). Assim, a maturidade digital geral, que avalia o grau de desenvolvimento e implantação de ferramentas e serviços digitais em Espanha, só atinge 31%, um valor que Fenin qualifica como baixo. A gestão das consultas e o acesso à receita electrónica são os serviços com maior desenvolvimento --com um nível de maturidade de mais de 70%--, mas o valor desce para 19% no caso concreto da comunicação não presencial entre o paciente e o profissional.

De facto, no campo da telemedicina as iniciativas privadas levam a dianteira, já que contam com sistemas mais modernos que incorporam inteligência artificial. É o caso da já mencionada Ever Health, que agrega aos seus serviços uma tecnologia pioneira. O seu pacote inclui, entre outras coisas, um fonendoscopio especial que permite auscultar o doente à distância. "O paciente acende-o, coloca-o onde o médico lhe indica e o profissional o escuta ao vivo para oferecer um diagnóstico mais acertado", afirma à Consumidor Global Rafael García, diretor da empresa. Além disso, como explicam alguns especialistas, agora é mais importante que nunca remar na mesma direção e conseguir uma colaboração público-privada para ajudar não só a gerir melhor a pandemia, mas também que ambos os sistemas evoluam e se adaptem às novas exigências. Seja como for, todos os profissionais consultados concordam que o  prometedor futuro da telemedicina veio para ficar.