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Irritação com a Watium: contratação indesejada e obstáculos à anulação da subscrição
Esta companhia, pertencente ao grupo Visalia, trata de captar clientes de forma supostamente fraudulenta, além de pôr obstáculos aos que querem sair
Watium é um fornecedor de electricidade que faz parte do Grupo Visalia especializada em comunidades de proprietários, ainda que também forneça luz a clientes particulares,cadeias alimentares e câmaras municipais. No seu site, a Watium afirma que a subida dos preços da energia representa um desafio que superaram. "Sabemos o importante que é optimizar os custos energéticos para conseguir uma maior poupança. Por isso, a nossa intenção é continuar a oferecer um serviço de qualidade apesar das constantes flutuações do mercado", declaram.
No entanto, a experiência de alguns clientes da Watium (ou de pessoas que têm estado a ponto de o ser) tem sido tudo menos brilhante e de qualidade.
Telefonemas em nome de outras empresas
"Nós temos contratada a luz e o gás através da Naturgy ", conta Bryan Belmonte a este meio. "Em 2021 a minha avó recebeu um telefonema 'da Naturgy' oferecendo-lhe um desconto. Fizeram-a mudar de empresa sem o saber, porque eu trato destes assuntos e ela compreende o suficiente", descreve. O que fez saltar os alarmes foi a cobrança de uma penalização da Naturgy por mudar de empresa. "Falei com eles e explicaram-nos que era uma fraude, que nos voltavam a cadastrar e que não teríamos que pagar a penalização. Mas claro, ao ter contrato com a outra empresa, eles sim quiseram nos cobrar uma penalização", descreve.
Entre essa sanção e o consumo correspondente aos poucos dias que tiveram a luz e gás contratados com a Watium, Belmonte afirma que lhes "queriam cobrar 200 euros, ou algo mais. E neguei-me a pagá-lo, obviamente. Há relativamente pouco chegou uma denúncia reclamando essa dívida, fomos ao julgado a pôr um recurso e alegamos que fomos vítimas de uma fraude", narra. Grosso modo, diz Belmonte, a coisa ficou "arquivada por enquanto". Conudo, este afectado mostra-se tranquilo porque, se tentam reclamar a dívida de novo, "teriam que apresentar provas e as gravações dos telefonemas", afirma.
Possível contratação fraudulenta
José Guardiola contratou a luz com a Iberdrola Clientes S.A.Ou, fornecedor do mercado livre. Conta à Consumidor Global que uns comerciais ligaram para a sua casa dizendo ser da sua companhia para lhe fazer um desconto na factura. Primeiro falaram com a sua mãe e depois com ele. Guardiola queria ter a certeza de que eles estavam de facto a ligar de Iberdrola, de modo que lhes perguntou e responderam que "claro". No entanto, soou-lhe estranho que lhe pedissem o seu número de conta: se eram do seu fornecedor, já o deveriam ter. Apesar das dúvidas, seguiu as instruções dos comerciais… que lhe mudaram de fornecedor para a Watium.
"Queriam-me mudar a luz e o gás de dois domicílios", relata. Após 15 minutos ligou para a Iberdrola para saber o que tinha acontecido, e Guardiola surpreendido: "Mas se ligaram-me vocês antes", argumentou. Então, da Iberdrola explicaram que não tinham sido eles, de modo que Guardiola fez uns telefonemas, conseguiu dar marcha atrás e resover a confusão sem ter que pagar nada. "Estavam a pedir dinheiro por incumprir o contrato, mas ninguém pagava porque era um engano. Sempre a verdade por diante", diz. O problema, indica este afectado, é que as pessoas mais idosas (como a sua mãe) desconhecem estes procedimentos, e, por isso, são mais vulneráveis. Além disso, ele acha que não é algo exclusivo da Watium, mas sim do grupo Visalia.
Vinculação com a MásLuz
MásLuz, marca do grupo Visalia, nasceu no verão de 2020. Nessa altura, foi dito que o objectivo era fornecer "energia verde a preços muito competitivos e com produtos específicos para particulares, PMEs, empreendedores, pequenos negócios e gestores imobiliários". No entanto, a 31 de maio de 2022 a própria companhia reconheceu que Fornecedor Ibério de Energia S.L. "já não opera como fornecedor de energia e deixa de ser o fornecedor de energia da marca MásLuz Energia". Hoje, depois de acumular inúmeras reclamações, a marca desapareceu.
"São todo o mesmo, Watium, MásLuz e Visalia, e um tal Abejas que mandava ou mandava. Ligavam-te comerciais, e se dizias que não te interessava a oferta, diziam-te 'mas não se dá conta que é mais barato?',e uma forma rude, muito, muito má. Há muitas pessoas enganadas", narra Guardiola. Com Abejas refere-se a Pablo Abejas, conselheiro delegado da companhia que, apesar dos pesares, tem sabido mover num mercado convulso: o Grupo Visalia duplicou a sua facturação em 2021, até os 176 milhões de euros, e conseguiu um ebitda de 8,6 milhões.
Práticas alargadas
Guardiola argumenta que há muitos antigos clientes da MásLuz que apresentaram queixas por este tipo de práticas. No Facebook existe um grupo, Afectados por MásLuz, com mais de 500 membros.
Nas avaliações do Google, as opiniões sobre a Watium não são boas, e há críticas semelhantes às de Guardiola. Por exemplo, um ex-cliente afirma que lhe ligaram "da sua empresa filial MásLuz fazendo-se passar pela Iberdrola, após cancelar o contrato alguns dias depois, quando nos apercebemos que nos tinham enganado, e pagar o que devíamos pelos dias de fornecimento, neste ano me reclamam repetidas vezes um custo do qual não me sabem explicar a que se deve". Também há quem denuncia que as facturas "chegam quando lhes dá a vontade" ou quem diz que "jamais" tiveram uma "relação comercial com eles "e, no entanto, recebem faturas.
Problemas depois de se desvincular
Em 2020, Lucia Velasco mudou-se com outros colegas para um andar de Lleida, propriedade da imobiliária Finques Adser. "Não mudamos a companhia da luz, Watium, porque nos comentaram que os preços estavam muito bons, e realmente assim era: todos os meses pagamos entre 35 e 50 euros por viver 3 pessoas no andar", conta. No entanto, ao fim de um ano aproximadamente, estas faturas começaram a a ser divididas. Velasco conta que chegavam duas ou três todos os meses "de custos variados (7 euros, 15 euros, 30 euros...) assim ias pagando várias faturas que, acumuladas, somavam o total do que pagavas com normalidade".
O seu problema chegou quando abandonaram o andar a 1 novembro de 2022. A imobiliária desvinculou o seu nome e o seu contrato, "e mesmo assim começam a chegar faturas todos os meses. Alarmada, contactei com a imobiliária porque ao longo de dois anos tivemos muitos problemas com ela, e pensei que poderia ser sua culpa", reconhece Velasco.
Faturas "como lhes dá a vontade"
Então consultou as reviews do Google e viu que tinha "muitos clientes com problemas semelhantes". Também os há no forum esopiniones.com, onde se denuncia que a Watium envia facturas "como lhes dá a vontade, num mês até 3 diferentes". Como Guardiola, alguém expõe que "te fazem cliente sem o teu consentimento", enquanto outros fazem referência a incidências com leituras estimadas.
Por sua vez, Velasco relata que "chegam faturas que tens que pagar sob ameaça de te levar a julgamento". Para piorar a situação, como ela não era cliente e já não tinha um contrato ativo, não lhe permitiam aceder ao escritório electrónico e consultar de onde procedem as ditas facturas. "Enviam-te e-mails, SMS e cartas (ainda que as cartas não as recebo porque já não vivo ali)", explica. Os três primeiros meses negou-se a pagar faturas ("de custos relativamente baixos, menos de 15 euros, ainda que a que chegou a 30 de novembro era de 35 euros") mas a quantidade aumentava à medida que ficou por pagar.
Pressões para pagar o quanto antes
Em janeiro foram 17,60 euros, e Velasco disse directamente que não os pagaria. Então "eles responderam por e-mail que se a pagava antes de finalizar na semana custar-me-ia 12,60. Aqui põem-te num aperto. No entanto, liguei para que me assegurassem que era a última fatura que pagava, e não só mo assegurou uma rapariga (teria que ter gravado a conversa), mas sim que além disso me disse que não era de 17,60, mas sim de 7,20", descreve.
Para completar, no dia seguinte enviaram-lhe uma fatura de 17,60 com outro número de indicador. "Tudo isto sem poder consultar nenhuma das facturas, claro", recalça. Velasco perguntou à empresa de onde procedem estas faturas, e da Watium afirmaram que se trata de "anomalías e regulações no período de faturação, e que elas eram enviadas pelo distribuidor. Evidentemente, não te explicam de que tipo de anomalías se trata. Também alegam que o disgtribuidor não passou o do contador, ainda que eu aí não sei nada porque deixei de viver no andar em novembro, e não me diz respeito se o distribuidor passou ou não o contador", defende.
Não está claro se será a última fatura
No entanto, ao pedir em reiteradas vezes que lhe assegurassem que a de janeiro seria a última fatura que receberia, da Watium explicaram que "em princípio sim, mas que é possível que o distribuidor continue a enviar regulações". Assim o mostrou Velasco a este meio.
A Consumidor Global tentou pôr-se em contacto com a Watium para considerar o seu ponto de vista, mas, até o termo desta reportagem, não obteve resposta.
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