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A OCU, "uma organização opaca que se torna milionária com a desculpa de proteger os consumidores"
Uma investigação jornalística revela a "complexa rede financeira internacional" que rodeia a maior associação de consumidores espanhola com o objetivo de pressionar as empresas para obterem acordos financeiros.
A OCU é "uma organização opaca que se torna milionária sob a desculpa de proteger os consumidores" e que faz parte de "uma complexa malha financeira dirigida desde a Bélgica e Luxemburgo".
Esta é a conclusão conclusiva de uma investigação cujos resultados foram publicados esta quarta-feira no El Confidencial, num relatório assinado por David Placer.
Ameaças de acções judiciais para chegar a acordos
O artigo deixa claro qual é o modus operandi da organização de consumidores mais importante de Espanha: primeiro, leva a julgamento (ou ameaça com fazê-lo) grandes multinacionais, e depois pactua com elas acordos económicos.
Segundo esta investigação, a OCU avalia produtos e serviços, recomenda umas marcas e desaconselha outras, mas "com cada campanha mediática procura ganhar dinheiro". De facto, em Espanha a OCU atua como uma empresa: OCU Edições, SL.
Uma rede com 200 milhões de faturação
Assim, ainda que a associação se apresente como uma entidade sem fins lucrativos com a única finalidade de defender o consumidor, na realidade faz parte de um grupo que fatura 200 milhões de euros. Tudo isto sob a égide da Euroconsumers, uma empresa luxemburguesa que, por sua vez, reúne quatro organizações europeias de consumidores: a OCU em Espanha, a Deco Proteste em Portugal, a Altroconsumo em Itália e a Test Achats na Bélgica.
A rede também tem vinculações com Hong Kong, através da empresa Worldcado Limited, cujo principal responsável, Ahmed Nejai, estava nos Papéis de Panamá. De Hong Kong, a rede estendia-se a empresas estabelecidas em paraísos fiscales, como as Ilhas Vírgenes Britânicas.
Ryanair, Apple, TikTok
Nos últimos cinco anos, a OCU fechou acordos comerciais com meia centena de empresas, depois de apresentar ações judiciais ou canalizado processos colectivos. Uns processos que geraram seis despachos de advogados (Aequitas, Ribón, Auren, Dable, Legal & Média e Eugenio Moure), aos quais, por sua vez, a organização lhes cobra comissões entre 10% e 30% do dinheiro que consegue.
Entre as empresas afetadas figuram Ryanair, Facebook, Iberpistas, Banco Popular, Apple, TikTok e entidades financeiras relacionadas com os cartões revolving.
Os casos de Facebook e HP
Destaca-se o caso do Facebook. Em 2018, a OCU liderou uma campanha para agrupar milhares de utiliadores europeus para atuar contra a multinacional norte-americana por ceder a dados pessoais a outras empresas. A entidade prometeu uma indemnização de 200 euros a cada afetado se ganhavam o julgamento. No entanto, no final, chegou-se a um acordo secreto e a ação judicial não foi intentada, pelo que os utilizadores ficaram sem o dinheiro.
Algo similar ocorreu com a HP (Hewlett-Packard). A OCU ameaçou com uma ação colectiva porque a multinacional tecnológica não informou da incompatibilidade de algumas das suas impressoras com cartuchos de outras marcas. Mas, no final, acabaram por não ir a tribunal em troca de 1,4 milhões de euros. UEste dinheiro foi oferecido para ser distribuído entre os afectados que o solicitassem, mas a empresa não o comunicou através de qualquer campanha.
Alerta na Europa
A forma de atuar da OCU e da Euroconsumers inclusive chegou à Europa. Outras organizações de consumidores foram alvo de críticas por considerarem pouco ético que um organismo que pretende proteger os direitos dos consumidores cobre às empresas que é suposto controlar.
Algumas chegaram inclusive a propor a expulsão de ambas da BEUC, a entidade que agrupa as principais organizações de consumidores europeias, com sede em Bruxelas.
Nomes chave
Nascida em 1975, a OCU beneficiou-se de uma reforma legal do Governo de José Luis Rodríguez Zapatero que eliminou a proibição das organizações dos consumidores de receber dinheiro das empresas. Estas alterações foram provavelmente aceleradas graças à boa relação da organização com a esfera política nacional e europeia.
De facto, o seu presidente atual, Miguel Ángel Feito, foi secretário de Estado na época de Felipe González, e outros conselheiros procedem de diversos partidos. Também é chave o nome de Ivo Mechels, o máximo responsável pelo grupo a nível europeu, que ocupou cargos no Governo de Bélgica.
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