Quanto custa contratar 'uma Marie Kondo' para casa

O caos pode prevalecer sobre a harmonia nos armários, salas ou estudos, pelo que cada vez mais organizadores profissionais se dedicam, a partir de 30 euros a hora, a reconfigurar espaços

Uma pessoa põe ordem no seu armário e dobra as roupas / PEXELS
Uma pessoa põe ordem no seu armário e dobra as roupas / PEXELS

Vento e água. É, literalmente, o que significa feng shui, uma popularísima técnica chinesa que aborda como ocupar um espaço para que flua nele uma energia concreta. Proveitosa. Arte milenária para uns e disparate para outros, a verdade é que a psicologia encontrou vinculações entre a ordem e a felicidade. Por isso, cada vez são mais as profissionais que se dedicam a criar ordem dentro do caos. Não são exactamente talibãs da organização e da disposição de estantes num armário, mas sim praticantes de um método e de um sistema. Equilibro, clareza, harmonia. Optimização funcional. Contratar uma Marie Kondo custa uns 30 euros por hora, no mínimo.

Ajudam os seus clientes a que seu guarda-roupa deixe de ser uma cova de leões. Reduzem o stress, mas também dão rotinas, planeamento e truques. Há esforço organizativo, com uma boa pitada de pedagogia (para que a mudança seja duradoura e depois de quatro dias não não esteja tudo em desordem) e umas pinceladas de coaching. Inclusive filosofia. As doses variam segundo cada especialista.

Organizadoras profissionais: o que custa ter uma Marie Kondo em casa

María Gallay submergiu-se no mundo da ordem em 2003. "A profissão mudou totalmente desde então", conta à Consumidor Global. Quando começou, era um deserto. Agora existe inclusive uma associação (Aope) que vela pelos interesses destas trabalhadoras. E que o difunde. "Toda a formação e os cursos os tirei pesquisando os norte-americanos, comprando os seus livros e treinado-me eu mesmo, não havia outra forma", relata Gallay. Depois, conta, teve que explicar às pessas que era isto. "Evangelizar", diz entre risos. Deu certo. Organización del Orden, o seu perfil profissional do Instagram, tem agora quase 21.000 seguidores.

Una persona trata de sacar una prenda de un armario sin orden / UNSPLASH
Uma pessoa trata de tirar uma pela de um guarda-roupa dessarumado / UNSPLASH

Dos métodos existentes para cobrar, escolheu a tarifa horária. "Defini cobrar o dobro que uma assistente e metade de um psicólogo", especifica. Algo diferente, mais trascendental que limpar um chão, mas não tão poderoso como a ajuda psicológica. Mas por aí iam os tiros. Gallay cobrava 25 euros a hora durante muitos anos. Depois de décadas de experiência, colaborações com marcas e reconhecimento, agora são 60 euros a hora. "Os clientes estão a pagar por tempo. Tempo que é depois para eles: para desfrutar, para encontrar coisas, para poupar uns minutos todas as manhãs com rotinas bem feitas", enfatiza.

O perfil de clientes que contratam pedidos

No seu site, Esther Torras define-se como ordenóloga. A sua tarifa é de 30 euros por hora mais IVA, ainda que também tenha packs: por 126 euros realiza projetos mais complexos e integrais como "uma mudança de armário, para lhe dar a volta à ordem na tua cozinha, da tua sala ou o quarto do teu filho ou para aqueles que querem fazer de seu espaço de trabalho um lugar organizado". Não são preços para todo o mundo. Por isso, sobre o perfil do cliente, conta que ao princípio achou que seriam pessoas de um nível adquisitivo "relativamente alto, de classe média-alta, porque para uma pessoa que não tenha muito dinheiro pode parecer um serviço caro. Mas no meu caso não é assim. Há muito cliente de classe média ou média-baixa".

Segundo Torras, a pessoa que a contrata "investe em algo que acha que lhe pode trazer soluções". Assim, trata-se de "pessoas normais" que desejam "reconverter os seus espaços". Tal como especifica, o seu trabalho vai para além de fazer que as pessoas saibam onde tem uma t-shirt: "Podes ter papéis espalhados por aí que são faturas que não pagaste". A ordem é umtudo, não é uma situação concreta. Entre os seus benefícios, Torras alude à estabilidade mental: "Saber que o teu meio está ordenado é um problema a menos que tens na tua vida. Se podes encontrar tudo facilmente, a nível mental estás mais relaxado porque sabes que o teu meio trabalha para ti".

Un estudio sin orden ni limpieza / UNSPLASH
Um estudio sem ordem nem limpeza / UNSPLASH

"A casa deveria ser um refúgio"

María Gallay pensa na mesma linha. Segundo ela, o mais difícil tem a ver com a incapacidade de deixar as coisas para trás. Coisas materiais com as quais as pessoas estabelecem um vínculo emocional. Por exemplo, a especialista conta que, quando falece um pai ou uma mãe, há familiares que, pela dor do luto, levam todos os objetos da casa à sua. Isso termina em acumulação . "Faz falta um acompanhamento para ver o que passa na sua casa". Tal como especifica Gallay, um lema que guia a sua obra é que as coisas só são coisas. "Há pessoas que são escravas de seu lar, e deveria ser um refúgio", considera.

Desprender das coisas é difícil. O minimalismo está bem a nível estético, mas não enquadra com os valores da sociedade espanhola, acostumada tanto a amontonar objetos como a herdar e a preservar o que tivessem os seus pais. Que, até há não muito, costumava ser pouco. Alguma roupa, umas poucas jóias, roupas de cama, uns móveis e a louça de sempre. Como se desfazer de coisas nas quais habitam lembranças? Como deixar atrás os adereços de toda uma vida?

Una mujer trata de poner orden almacenando objetos en cajas / PEXELS
Uma mulher tenta colocar ordem guardando objetos em caixas / PEXELS

O fenómeno Netflix

Torras, questionado sobre o fenómeno Marie Kondo, a samurái da ordem japonesa que se tornou célebre com o seu método organizativo (ao qual a Netflix deu um bom empurrão), afirma que "tornou visível um problema que existia e ao qual as pessoas não davam um nome: tinha um problema de acumulação e não se sabia". No entanto, nem tudo que Marie Kondo contribuiu foi bom, conta Cloti Marínez. Reconhece que teve uma parte positiva porque "deu-nos a conhecer como figura profissional", mas também contraproducente: houve pessoas que não estavam preparadas que tentaram entrar na onda. "Ela é japonesa, o estilo de vida mediterrâneo é mais caótico, de modo que o tema da ordem se pode mal compreendido", relata.

Cloti é a autora do livro Reorganizar-te: A arte de ordenar a tua casa e encher de felicidade a tua vida. "Percebi que as pessoas não só tinham um problema sobre o que vistir, mas como distribuir o que usar para ser capaz de usar tudo. Graças à minha habilidade nata, encontrei a minha paixão na ordem, dei-me conta de que era capaz de organizar um espaço para tirar mais proveito dele, para o fazer mais prático, mais funcional e mais belo e harmonioso", escreve na introdução do mesmo. Entre as frases mais habituais dos seus clientes, conta, está "não me lembrava de que tinha comprado isso". Por isso, o desafio consiste também em usar o que se tem. Nas melhores ocasiões, quando a mudança é profunda, pode terminar numa tomada de consciência.

Un salón en el que reina el orden y la armonía / UNSPLASH
Uma sala onde reina a ordem e a harmonia / UNSPLASH

O luxo da ordem

A tendência a acumular, conta, é mais pronunciada nas classes ricas, que podem se permitir guardar mais e mais coisas. Mas isso não significa que só a contratem ricos. "Há pessoas que priorizam ter ordem a comprar outro móvel, por exemplo. Também há diferentes tarifas. Obviamente, se ftens pouco dinheiro pode resultar caro, mas a organização proporciona-te uma forma de luxo: sensação de gozo, de tranquilidade, de paz …". Na mesma linha, María Gallay afirma que o seu trabalho não se limita a "fazer uns movimentos e já está", mas sim tratar de gerar mudanças duradouras. "Criar para o cliente um sistema que funcione", especifica.

Quanto tempo funciona? O cliente aprende, ou depois volta aos velhos hábitos e, por isso, a requerer estes serviços? As especialistas concorda em que há de tudo. No entanto, as mudanças mais duradouras são os que sucedem na cabeça, não no guarda-roupa. Cloti Martínez considera que ter a casa cheia de lixo por todo o lado não comporta mais que problemas e discussões com os coabitantes. Deste modo, relata, "no final consiste em pagar para ser mais feliz".

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