"Quando chegou a casa um dos comboios que faltava e que procurava há anos, fui mais feliz que uma criança no dia de Reis", confessa a este meio César Sanagustín, colecionista e secretário da Associação Espanhola de Colecionistas de Playmobil (Aesclick). Comprou bonecos e acessórios desta empresa de brinquedos alemã durante toda a sua vida. O seu hobby começou de maneira natural. Quase sem dar-se conta. "Cresci com a Playmobil e gostava muito. Pouco a pouco fui ganhando com mais e, ao dia de hoje, a minha colecção, junto com a da minha mulher e do meu filho –também colecionadores-- supera as 5.000 figuras", explica à Consumidor Global. "São mais do queas que preciso, mas menos das que quero", brinca.
O colecionismo, como o de Sanagustín, é uma forma de lazer que consiste em reunir objetos de todo o tipo. Os bibliófilos recoljem livros, os numismáticos reúnem moedas, os vitólfilos colecionam anéis de charuto e os conquiliólogos coletam conchas de moluscos. A lista de objetos para coleccionar é infinita. Mas também há quem, sem se considerar colecionista, procura e compra objetos muito peculiares e raros por preços bastante exorbitantes. Quanto gastam e são capazes de pagar estes incondicionais?
Coleções caras e asseguradas
Para os colecionistas, cada peça é única e especial e tem um valor que trascende o seu preço monetário, que pode ser excessivo nalgumas ocasiões. Numa loja, um objeto da Playmobil começa nos dois euros e vai até os 100 euros se é uma peça grande, como um castelo. Mas quando se trata de uma figura de edição limitada ou peculiar, o seu preço dispara. "As minhas peças mais caras são dois comboios: um que comprei por 250 euros e outro por 450 euros", doz Sanagustín. Ainda que outros amantes da marca tenham chegado a pagar 250 euros por um boneco do Príncipe de Beukelaer e 4.000 euros por uma montanha russa. Há pessoas com verdadeiras fortunas investidas nestes bonecos que contratam seguros específicos ou as incluem no seguro do lar para maior protecção. "Um amigo segurou a sua colecção por mais de 25.000 euros, e vale a pena", conta Sanagustín.
Mas não é, nem de longe, o valor mais alto para um colecionista. Em 2010, um particular comprou uma boneca Barbie com um colar de diamantes por mais de 250.000 euros, um modelo único no mundo. A roupa das celebridades do cinema é também outro objeto de coleção. E caro. Um cinéfilo chegou a pagar mais de quatro milhões de euros por um vestido de Marilyn Monroe. E, se ainda guardas pesetas em casa, presta atenção, porque o preço de uma moeda de cinco pesetas do ano 1949 ultrapassou os 12.000 euros.
As compras on-line mais peculiares
Mas não é preciso ser colecionista para adquirir certos objetos, ao alcance de qualquer um na internet. Por exemplo, as lojas on-line de antiguidades são uma grande mistura para encontrar objetos muito peculiares, desde mobiliário antigo, até réplicas de partes do corpo como caveiras humanas por 119 euros ou uma mão mumificada por pouco menos de 100 euros. A taxidermia tem seções próprias em alguns sites onde se podem adquirir toda a classe de animais, seja emoldurados, em vitrines ou num pedestal. É possível comprar uma cabra por 750 euros, uma perca por 250 euros ou uma grande variedade de insetos dissecados a partir de 60 euros.
Além disso, as plataformas mais comuns de compra também têm tesouros escondidos. Por exemplo, a eBay lança a cada ano a sua lista de Compras mais interessantes e caras. A última, de 2019, inclui vendas tão exclusivas como o póster do concerto da primeira digressão dos Rolling Stones de 1964 por 20.800 euros, uma banda desenhada de Marvel de 1962 por 26.600 euros ou um cartão com o autógrafo do jogador de futebol americano Tom Brady por 332.000 euros. Viver uma experiência única também é algo pelo qual muitas pessoas estão dispostas a pagar grandes quantias. Houve quem pagasse 3,.74 milhões de euros por uma refeição com o investidor americano Warren Buffett, outro fã que investiu mais de 35.700 euros num almoço com o presidente da equipa de basquete Dallas Mavericks e para cumprimentar a cantora Miranda Lambert custou-lhe mais de 85.000 euros a outro fã.
Lidar com a morte
"Numa coleção, os objetos são privados de valor prático e só guardam um valor simbólico", explica Isabel Pinillos, psicóloga e autora da tese O colecionista e seu tesouro: a coleção. Para estes aficionados, os objetos simbolizam diferentes valores, como a beleza, a cultura ou a sabedoria. "A pessoa projeta esse valor no objeto, e, quando por fim o possui, ele reverte para si mesmo", acrescenta a especialista.
Além disso, com estes objetos tão esperados, os colecionistas "satisfazem outras necessidades, como o reforço da autoestima por conseguir algo exclusivo e único", acrescenta Pinillos. E a psicóloga vai ainda mais longe. "Também é uma forma de lidar com situações negativas, como a passagem do tempo ou a morte, pois têm total controle", explica.
Objetos com poder de evocação
Alguns podem ter pensado que o hábito de comprar um íman para a geladeira quando visita um novo país poderia tora-los em colecionadores, mas essa ação nem sempre responde a este hobby. "Os colecionadores não fazem compras casuais. Planificam o que querem, procuram, compram e, quando têm, organizam cuidadosamente", diz Pinillos. Na verdade, geralmente são caraterizados pela curiosidade e pelo gosto de explorar.
A coleção também tem um poder de evocação muito potente e importante e recorda emoções agradáveis. Na verdade, questionado sobre que a colecção de Playmobil lhe traz, Sanagustín é claro. "É um regresso à minha infância e uma forma de criar laços com minha família e muitos amigos partilham esta paixão", afirma. "Já não compro como antes porque é preciso guarar as coleções e começo a ter problemas de espaço", lamenta Sanagustín. Mas insiste: "embora haja quem me chame de geek, colecionar me deixa feliz".