Quanto mais conhece-se da Organização de Consumidores e Utentes (OCU), mais argumentos acumulam os que comparam a esta entidade com uma opaca máquina de fazer dinheiro.
Nesta semana tem trascendido que Euroconsumers S.A., a sociedade arraigada em Luxemburgo que agrupa às principais associações de consumidores européias --incluída a OCU--, pagou a seus empregados em 2022 salários recorde, apesar de que esse exercício registou um dos piores resultados de sua história.
Salários superiores aos de um ministro
Mais especificamente, Euroconsumers pagou a seus 539 trabalhadores no ano passado um salário médio de 87.355 euros brutos --muito por em cima, por exemplo, dos 79.000 euros que cobra um ministro do Governo de Espanha--, uma cifra nunca dantes atingida.
A elevada retribuição a estes privilegiados assalariados coincidiu com um ano no que a sociedade matriz da OCU apresentou umas perdas de 5,3 milhões de euros. Só em 2015, com 7 milhões, teve uns números vermelhos mais abultados.
Facturação em retrocesso desde 2020
Cabe destacar, ademais, que apesar do salário desse meio milhar de empregados não tem deixado de subir desde 2019, os rendimentos de Euroconsumers estão em retrocesso desde 2020.
Mais especificamente, a sociedade luxemburguesa facturar 114 milhões de euros em 2020, 110 milhões em 2021, e 107 milhões em 2022 (o dado mais baixo desde 2013).
O lastre de Bélgica e Portugal
Segundo tem revelado O Diário, o descenso dos rendimentos de Euroconsumers explica-se, fundamentalmente pelas perdas registadas em seus filiais de Bélgica e Portugal.
No primeiro caso, o lastre foi de 3,5 milhões, enquanto no país luso os números vermelhos rozaron os 4 milhões de euros. A desculpa dada na delegação belga foi um aumento das despesas de pessoal e dos custos de prestações de serviço, e correcções de valoração dos activos circulante. Em Portugal, atribuíram-no à queda das vendas e o aumento dos custos gerais e administrativos.
Um 85% mais que os salários do Ibex
Os 87.355 euros de salário médio por trabalhador de Euroconsumers é ainda mais chocante se se compara com os salários que se pagam nas grandes companhias do Ibex 35. Estas empresas declaram uma retribuição média de ao redor de 47.000 euros por empregado, pelo que em Euroconsumers pagam um mais 85%.
Euroconsumers, por sua vez, está controlada ao 99% por Stichting International Consumers Interests, uma fundação com sede no Holanda, país que compartilha com Luxemburgo sua baixa fiscalidad. O outro sócio minoritário é a companhia belga Association for the Advancement of Consumerism in the World (ASBL).
A OCU: 194 empregados a 53.000 euros
OCU Edições, a filial espanhola do grupo que assume a maioria dos rendimentos da OCU, depende da sucursal belga. Factura para perto de 27 milhões de euros ao ano e, em 2022, declarava contar com 194 assalariados.
Ao fechamento do ano passado, o custo médio por trabalhador ascendeu a quase 53.000 euros.
Falta de transparência
Nos últimos tempos multiplicaram-se as suspeitas sobre o funcionamento da OCU. Em agosto conheceu-se que o Ministério de Consumo pesquisava média centena de contratos assinados pela entidade com diversas empresas para comprovar se estão dentro da legalidade e se comprometem a independência que exige a lei às organizações de consumidores.
Uns dias dantes, a entidade presidida por Miguel Ángel Feito, obrigada pela lei, deu a conhecer os nomes de seus directores pela primeira vez em seus 48 anos de história. E é que a transparência nunca tem sido o forte da OCU.