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"Não, não somos tontos": MediaMarkt irrita os clientes com os seus produtos recondicionados

Os artigos provenientes de devoluções e que apresentem pequenos defeitos estéticos ou danos não têm total "transparência" no estado em que são recolocados à venda.

Ana Carrasco González

EuropaPress

"Nunca mais voltarei a comprar um produto recondicionado da MediaMarkt ", diz Marta López. A afectada adquiriu um daqueles artigos que provêm da desistência de clientes ou que apresentam algum pequeno defeito e que a empresa pretende dar uma segunda vida pondo-os de novo em venda. No entanto, a impressora que comprou estava partida e, por isso, inutilizável. "O problema é que não há transparência nas condições nas quais estão os produtos", queixa-se.

Ademais, López conta que o problema se agravou quando quis fazer a sua devolução. "Ainda não consegui devolvê-la. Do atendimento ao cliente dizem-me que será feita em 48 horas e já estou duas semanas à espera", realça com irritação. As cliente afirma que, presencialmente, não aceitam devoluções de produtos recondicionados. "A sua incompetência está a custar-me 140 euros", comenta.

"Somos nós, os clientes, os 'testers'?"

Claudia García também se aventurou a pagar um recondicionado, mais especificamente, um computador. "Acontece que não funcionai. Compreendo que isto aconteça com um novo, mas é suposto a MediaMarkt testá-los antes de os vender. Não é que haja algo de errado com ele, apenas não liga. Somos nós, os clientes, os testers?", pergunta o cliente.

O preço original do altifalante quando saiu em 2021 (I), o preço atual (C) e o preço atual do produto recondiconado / CG

Por sua vez, Eric Mayans adquiriu um altifalante da Apple através da categoria de recondicionados da empresa. Embora funcionasse normalmente, o cliente ficou impressionado com o seu preço. "Compro um HomePod mini e encontro-o ao preço original. Não, não somos estúpidos, apercebemo-nos de tudo", diz. O preço original, quando foi lançado no mercado, era de 99 euros, o mesmo preço pelo qual é vendido o HomePod mini recondicionado. No entanto, a partir de hoje, no sítio Web do MediaMarkt, o preço é de 109 euros.

Os produtos recondicionados, um tema complexo

Yago González, perito em negócio digital (CMO & Founder em Yo pongo el hielo) explica à Consumidor Global que os produtos recondicionados são um tema complexo. "Apesar do que cada um de nós possa considerar, não existe, de facto, uma definição legal do que é um produto recondicionado e, claro, sob esse guarda-chuva existem muitas possibilidades diferentes", salienta.

Por um lado, González aponta que se encontram os produtos de segunda mão, com ou sem defeitos. "A garantia neste caso será de um mínimo de 12 meses, ainda que tanto neste como nos seguintes casos se pode ver ampliada até 36 meses nos produtos novos", aponta. Mas há outras possibilidades para considerar um produto recondicionado.

Diferentes tipos de recondicionados

"Também estão os produtos procedentes de devoluções. Aqui podes encontrar de tudo, desde artigos em perfeito estado até outros nos quais faltem as instruções ou os auriculares ou carregador, se falamos de telemóveis", exemplifica o perito. "O problema principal é que este tipo de produtos às vezes vendem-se como novos porque passam a inspecção superficial. Noutras, marcam-se como recondicionados, mas o problema pode ser o mesmo: não se inspeccionam a fundo e, quando o novo utilizador o compra, pode detectar que o produto tem uso prévio", sublinha.

Um estabelecimento da Mediamarkt durante a Red Friday / FLICKR

Outro caso é o dos produtos sem estrear com embalagem danificada no qual, teoricamente, o produto jamais foi isado e só está partida a embalagem. O problema é que pode ser que falte algo, como uma bolsa de parafusos de uma cadeira desmontável. Por último, estão os produtos que se devolveram mas que passaram por processo de reccondicionamiento. "Quiçá é o que mais se nos venha à cabeça. O modelo antigo pode-se reparar e pôr à venda como recondicionado", explica.

É legal vender ao preço original?

"Não é ilegal pô-lo ao mesmo preço, mas claro, não é o normal e se te indicam que o produto é é recondicionado ninguém comprá-lo-ia ao preço do original tendo stock deste", reconhece González a este meio.

O perito em negócio digital aponta que existem casos complexos onde o produto de segunda mão ou recondicionado pode ser mais caro que o original, ao desaparecer o stock deste. "Ocorre constantemente com certos produtos da Ikea ou também há algo mais de um ano com o boom da mineração de criptomonedas e os cartões gráficos", destaca.

Conselhos antes de comprar um produto recondicionado

Antes de comprar um produto recondicionado González aconselha comprar em lojas fiáveis e se são marketplaces verificar que a compra é do stock da loja e não um vendedor externo. Também é conveniente rever a garantia. Mais especificamente, da MediaMarkt informam que aqueles artigos adquiridos a partir de 2022 dispõem de três anos de garantia, sem especificar se têm a mesma aqueles recondicionados.

Assim mesmo, o perito recomenda rever se a loja tem uma classificação do estado do produto ("como novo", "bom estado", "com marcas de uso", etc). Algo que a empresa não especifica. "Após a compra tens, mínimo, 14 dias de direito de desistência, pelo que podes devolver legalmente o produto sem que te deem problemas", sublinha González. A Consumidor Global pôs-se em contacto com a MediaMarkt para conhecer a sua posição face às críticas dos clientes com os recondicionados mas no momento da publicação desta reportagem não obteve resposta.