Murwal é uma marca de tecnologia que vende auriculares e altifalantes wireless. Os primeiros rondam os 30 euros, ainda que na teoria esse é o preço com promoções, já que, sem descontos (de 70%), o seu custo ultrapassa os 100 euros. A marca, que parece cuidar do desenho e o packaging, tem mais de 25.000 seguidores no Instagram, onde diz vender "auriculares e altifalantes wireless desenhados em Espanha". Garantem, ademais, envios grátis e entregas em 24 horas.
No entanto, no site não há informação sobre onde estão fabricados os artigos ou quando nasceu a companhia. Também não há demasiadas referências sobre a Murwal em meios de comunicação, ainda que nalguns lugares fala-se da companhia como a marca que "vende 300 auriculares numa hora", um volume chocante. Contudo, alguns clientes que os testaram afirmam que não funcionam demasiado bem e que o seu desenho lembra muito ao de outros auriculares muito baratos.
Semelhantes aos da AliExpress
JuanmiTec é um youtuber especialista em tecnologia que descobriu que os auriculares da Murwal (mais especificamente, o modelo Globe), eram muito semelhantes a uns da marca Air Pro TWS que se vendem na AliExpress por uns seis euros. "Supostamente, é uma cópia", explicou no seu canal de YouTube, onde soma quase 4.000 subscritores. Tal como indica à Consumidor Global, achou-os suspeitos desde o primeiro momento, embora sublinhe que se trata de suposições.
"Nós, que estamos ligados à tecnologia há muitos anos, apercebemo-nos destas coisas de imediato. Muitas empresas fazem uma publicidade muito agressiva, mas o que estão a vender é fumo e espelhos, com o objetivo de atrair as pessoas", afirma.
Publicidade agressiva
Por isso, ficou surpreendido com a "publicidade agressiva" da Murwal no Instagram e decidiu investigar. "Reparei que, alegadamente, eram iguais a um modelo normal vendido no AliExpress", diz. "Isso não é mau em si, o problema está em afirmarem que custam 125 euros e que aplicam um desconto de 80%. É nesta última que acredito que reside a alegada fraude", justifica JuanmiTec.
"Se o tivessem vendido sem essa pretensão, a um preço de 15-20€ (porque em comparação com o AliExpress ganhamos garantia, melhor embalagem e envio mais rápido), não teria havido polémica", considera.
Influencers que não são especialistas em tecnologia
No entanto, este youtuber fala de hipótese, não de factos contratados. E, quanto às pessoas que os promovem, indica que são influencers "de baixo e meio perfil, que provavelmente aceitariam qualquer acordo com empresas externas porque não são peritos em tecnologia". Também é ilustrativo, indica, que a Murwal quase não ter contactado nenhum meio de comunicação social que se dedique especificamente à tecnologia para mostrar os seus produtos ou fazer análises.
Na mesma linha, Núria M. Ferré explica a este meio que com estes aparelhos, o som "parece enlatado". Apesar de ter ficado desiludida, não pode devolvê-los porque, por razões de higiene, a empresa "impede a devolução se o plástico", afirma. Esta consumidora também desconfia da origem, porque quando os comprou, "diziam que eram feitos e desenhados em Espanha", enquanto agora no Instagram só falam de design em Espanha.
"Mais falso que um bilhete de três euros"
Ao invés de Ferré, Cristian Velasco não experimentou os auscultadores desta marca, mas leu os comentários de um utilizador nas redes sociais, procurou dados e chegou a uma conclusão muito semelhante à de JuanmiTec: "O género Murwal é vendido no AliExpress por atacado por alguns cêntimos por unidade. É até criminalmente fácil de rastrear. Depois, Murwal utiliza pequenos influenciadores para o marketing, é tão falso como uma nota de três euros", afirma.
Indigna-lhe, assegura, "que sejam tão descarados". De facto, Velasco compara o que faz a Murwal com o sucedido com a Zetta, uma marca de telemóveis supostamente espanhóis que se apresentava como 'a Apple da Extremadura'. "Compravam telemóveis Xiaomi na China, e aqui, com quatro autocolantes e capas, venderam-nos pelo dobro do valor, com a premissa de que tinham sido concebidos e fabricados em Espanha. A Murwal está a fazer a mesma coisa com um perfil mais baixo, à mão, por isso não percebo porque é que ninguém os impediu antes", argumenta.
Publicidade nas redes sociais
"Quanto dinheiro paga a Murwal, empresa de auriculares, altifalantes... de publicidade no Instagram? Sinto-me sobrecarregado com tantos anúncios", disse um twitteiro. "Que eu não quero auscultadores Murwal, pesadaaa!", explicou outro. "Pode-se fazer muitas coisas erradas na vida, mas nunca nada pior do que comprar qualquer produto da Murwal, que filho da p**a", criticou um terceiro.
Outro twitteiro, @Uilegal, foi mais longe. Escreveu que "ultimamente" via no Instagram muitos anúncios dos auriculares Murwal. "O único que têm desenhado em Espanha é o seu logo. Ausência total de dados legais no seu site, ilegal. Com notas de imprensa compradas. O seu 'armazém' e escritórios de 'desenho' numa casa perdida em Múrcia", revelou. AA empresa sob a qual a Murwal opera é a Tramciur SL. De facto, de acordo com o Linkedin, o seu CEO é Patricio Martínez Díaz, um jovem que entre 2018 e 2020 estudou Administração de Empresas na Universidade Politécnica de Cartagena.
Críticas em Forocoches
Em contrapartida, no fórum de avaliações Trustpilot há umas 90 opiniões sobre a empresa, e a sua pontuação média é muito boa. Enquanto nesse portal um utilizador diz que os da Murwal são "de longe os melhores capacetes" que já teve, no Forocoches estão a ser criticados. Um membro do fórum descreveu-os como "outra cópia dos Airpods".
Outro internauta foi muito mais duro e lançou um ataque: "Porcaria chinesa e de plástico para pessoas arrogantes que também não fazem ideia do que são uns auscultadores decentes de não mais de 20 euros. Para denunciar estes Murwal... mas é o costume com o rebranding e o dropshipping".
Este medeio pôs-se em contacto com a Murwal para perguntar pelas semelhanças com os auriculares da AliExpress e para saber onde fabricam os seus, mas, até ao termo desta reportagem, não obteve resposta.