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Mercadona e Lidl batem a Glovo e a Just Eat com os seus pratos preparados (e os seus preços)
Enquanto as seções de pronto a comer dos denominados 'mercaurantes' não param de crescer, o setor do delivery on-line desacelera e retrai-se 7% em 2022
Uma em cada dez casas de nova construção já se faz sem cozinha nos Estados Unidos. Em Espanha, 95% dos consumidores incluem pratos preparados na sua lista de compras. Inclusive para comidas e jantares tão importantes como as de Natal, um em cada três espanhóis tem a intenção de comprar na seção pronto a comer dos supermercados para não ter que cozinhar durante as festas, segundo um relatório da Aecoc.
"Saio de casa às sete da manhã e não volto até depois das oito. Se me ponho a cozinhar, quando tenho tempo para mim?", explica um jovem, na porta de um Mercadona, com um prato de fideuá (4,75 euros) na mão. Os pratos preparados dos supermercados "são uma tendência que está a acelerar", expõe o fundador da Con Gusto Consulting, Manel Morillo, que explica que os lineares de comida preparada não param de crescer e que todos os supermercados têm uma seção de pronto a comer e a estão a ampliar. Os mercaurantes "estão a ganhar muita quota de mercado e são a principal concorrência da Glovo, Just Eat e dos restaurantes que trabalham com delivery", acrescenta o perito em restauração.
Mercadona e Lidl versus Glovo e Just Eat
Em números, o consumo de comida preparada dos supermercados atingiu as 654.614 toneladas em 2021, o que representa um aumento de 10,5% no volume de vendas face a 2019. "É um mercado no qual todos querem entrar porque ter marcas de restauração no linear ou em espaços do supermercado atrai novos clientes e permite à rede expandir-se para novas categorias", assinala a directora do área de restauração da rede britânica Sainsbury's.
No outro lado da moeda, o mercado do delivery on-line em Espanha desacelera em 2022, onde fechará com receitas de 1.120 milhões de euros em pedidos --7 % menos que em 2021, segundo as previsões da Statista, avançadas por Patrik Bergareche, director geral da Just Eat em Espanha--. O retrocesso é ainda maior se a comparação for feita com 2020, quando o setor do delivery atingiu os 1.770 milhões de euros em facturação.
O preço marca a diferença
A alavanca que move o negócio dos pratos preparados no supermercado e a do setor delivery é a mesma: os espanhóis abandonaram o hábito de cozinhar. "A diferença é que a economia de escala dos supermercados permite-lhes oferecer um preço realmente competitivo e os restaurantes não podem", explica Morillo.
Na seção Pronto a comer do Mercadona os pratos preparados oscilam entre 2,25 e 4,75 euros; os do Lidl oscilam entre 1,69 e 5,99 euros; e os do Carrefour vão de 2,70 aos 7,50 euros. Uns preços que estão a anos luz dos que podem oferecer as três principais empresas de delivery em Espanha --Just Eat, Glovo e Uber Eats--, cujo talão médio é de 22,5 euros. A inflação e a incerteza prevalecente fazem com que os espanhóis se vejam obrigados a reduzir a despesa, e, se a crise se agravar, " o delivery cairá certamente e tornar-se-á mais consumo ocasional, enquanto os mercaurantes crescerão ainda mais", diz o perito.
Os mais vendidos
"Os pratos que mais sucesso têm são a paella (4,50 euros), as lentilhas (3,50 euros) também saem muito agora com o frio, os croquetes (50 cêntimos a unidade) e a tortilha de batatas é deliciosa", explica uma funcionária do Mercadona sobre a seção Pronto a comer, que conta com 35 referências e está disponível em 824 estabelecimentos da rede de supermercados de Valência. A partir deste ano, Mercadona também oferece a opção de self-service --uma espécie de buffett livre-- dentro da seção Pronto a comer.
No Lidl, por exemplo, também triunfam os croquetes (3,29 euros), a paella (2,99 euros) e a lasanha bolonhesa (5,99 euros). Ainda que a seção de pratos preparados --contam com 14 referências-- é bastante mais reduzida que a do Mercadona ou que A cozinha do Carrefour. Todos os supermercados oferecem hambúrgueres de novilho a preços realmente competitivos, enquanto um Burger da Vício pode chegar a custar uns belos 15 euros.
Ou é McDonald's, ou diz adeus à entrega.
O aumento da procura de pratos preparados afecta, principalmente, "a massa média dos restaurantes: aqueles que carecem de um valor acrescentado ou de uma marca potente. Os mercaurantes vão comer esse consumo, esse pedido", explica Morillo.
Segundo o perito da Con Gusto Consulting, produzir-se-á uma seleção natural e o serviço delivery crescerá nas grandes redes, como McDonald's ou KFC, naqueles restaurantes que ofereçam um produto específico e diferenciado, e nos quais ofereçam preços realmente competitivos.
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