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Vai ser mais caro a partir de agora: as lavandarias estão a aumentar os seus preços em 10%.
O aumento dos preços da electricidade empurram estes negócios a aumentar as suas tarifas, que continuarão a subir nos próximos meses
Alguns dos grandes designers de moda têm falado da elegância como se se tratasse de um segundo primo da simplicidade, uma espécie de leveza estética acessível entre a espontaneidade e a sobriedade. Agora, para os não iniciados, lavar e passar um fato ou um vestido e deixá-lo perfeito para brilhar num evento ou causar boa impressão numa entrevista pode ser de todo menos siples. Por isso, as lavandarias representam um salvoconducto para a elegância, e, por menos do que custa o plano premium da Netflix, permitiam a qualquer um estar impecável. Mas o furacão inflacionista também ameaça estes negócios.
Para as lavandarias, o problema não reside só no aumento da electricidade, mas também dos plásticos ou da água. Quiçá a elegância não tenha preço, mas agora é mais caro ter roupa que sai do guarda-roupa como um pincel.
"Haverá outra subida em janeiro"
José Pérez é funcionário da Tintorería Los Rios, um negócio de Madrid que desde 1977 elimina as manchas e trata com mimo as peças dos seus clientes. Aqui, lavar e passar um fato custa 13 euros. "O nosso é um negócio que depende muitíssimo da luz, e talvez agora a factura seja o dobro de antes, nos afectou muito. Tivémos que subir os preços, se não, não nos dá", lamenta Pérez à Consumidor Global. Mais especificamente, o aumento (que se aplicou de forma paulatina) foi de 10%. Mas não foi definitivo. "Pensamos fazer outra subida em janeiro", reconhece Pérez. "Alguns clientes queixam-se e tal, mas tentamos explicar-lho da melhor forma para que o compreendam", acrescenta.
Da perspectiva que lhe dão os seus anos de experiência, Pérez fala das mudanças no negócio, e acha que muitas pessoas já não lhes sai em conta ir à lavandaria. "As peças de roupa agora são mais baratas e têm pior qualidade. Se um casaco custou a alguém 10 euros e a limpeza sai por 15, não vale a pena", assinala. "Antigamente era diferente, a roupa era melhor e mais cara", diz. Por outro lado, Pérez não se mostra muito preocupado pela proliferação das franquias de lavandarias low-cost, onde o cliente pode lavar a sua roupa por uns poucos euros. "Hoje há mais concorrência, mas nós fazemos um trabalho peça por peça. Ali é diferente", afirma.
Os clientes levam menos fatos à lavandaria
"A luz é nossa matéria-prima e a nossa ferramenta de trabalho", conta Carolina Laredo, responsável pela Tintorería Avenida, em Saragoça. "Subiu tudo, não só a electricidade, mas também a água, o plástico ou os cabides", diz. Por isso, também têm aplicado uma subida entre 10 e 15% às suas tarifas. No entanto, Laredo trata de ver o lado positivo. "Após a pandemia, neste ano tem sido uma resurreição, tem havido de novo casamentos e recuperou-se a vida social", argumenta. Mas nem tudo é como antes. Por exemplo, a popularização do teletrabalho reduz o seu volume de operações. "Esse cliente que antes trazia três ou quatro fatos, quiçá já só traz um", aponta.
Neste sentido, Laredo acha que os actuais ritmos da sociedade, que cada vez dispõe de menos tempo, impõem mudanças. "Sobes a um meio de transporte e vês que as pessoas não levam roupa de lavandaria e optam por opções mais cómodas", indica, sem censura, mas com verdadeiro desencanto. E, sobre o futuro, acredita que ainda terá de ser trabalhado: Laredo prefere não pensar muito em qual será o horizonte do negócio. "Após a pandemia, só quero pensar no hoje. O que tenha que passar, passará", afirma.
"Não podemos suportar esta despesa tão grande"
María Gisbert, da Tintorería Gisbert (Sabadell) explica que também teve que subir as suas tarifas por culpa da escalada de preços, ainda que não tenha sido nada exorbitante, mas sim algo próximo dos 15%. "Toda a maquinaria da lavandaria consome muita energia, e há que pensar que subiram muitas outras coisas além da electricidade", explica.
Com uma resignação similar na voz, da Tintorería Cristina, localizada em Sevilha, Patricio Melé assegura que tiveram que "aceitar" a subida da electricidade e tentar lidar com ela da melhor forma possível. "Por exemplo, tentamos não ligar a maquinaria nas horas ponta, para reduzir custos", expressa. Por enquanto, não subiram os seus preços, mas tudo indica que deverão fazê-lo. "Pensamos que em setembro teremos que subir. Não podemos suportar essa despesa tão grande", indica Melé, que prefere não fazer uma estimativa.
Entre a incerteza e o optimismo
Sob seu ponto de vista, outro factor que complica a situação do setor é o menor número dos clientes. "A subida afecta todo mundo e a lavandaria é uma despesa secundária, que não se pode comparar com a comida. Já são menos os clientes que vão assiduamente", indica Melé. Neste contexto, acha que o futuro será complicado. "Não paramos de ver como fecham comércios e de um dia para outro aparecem cartazes de 'aluga-se'. Uma vez que sobe a luz ou a gasolina, já não há volta atrás", vaticina.
Jesús Pérez Ledo é o dono da Tintorería Ledo, um negócio de Valladolid com 50 anos de experiência, e acrescenta uma nota de optimismo: "Subimos alguma coisa de forma pontual, quiçá 50 céntimos nalguma peça, mas em nenhum caso 10%. Somos uma lavandaria grande", remarca. Para este experiente proprietário, o importante é seguir adiante. "Já nem pensamos se a luz está acima ou está abaixo. Fazemos nosso trabalho o melhor possível e já está", conclui.
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