Kruk é uma empresa de origem polaca dedicada à cobrança de dívidas que chegou a Espanha em 2015. Em 2018, Carrefour vendeu-lhe uma carteira de 248 milhões de euros em empréstimos frustrados. Esse foi um grande movimento, mas têm ido a mais: em maio, a companhia anunciou que no primeiro trimestre de 2023 tinha obtido um benefício neto de 235 milhões de zlotys (52,02 milhões de euros), uma quantidade superior à que tinham estimado.
Em suas redes sociais anunciam-se como uma empresa que "ajuda" a seus clientes a pagar suas dívidas. "Operamos com ética, cuidando os interesses de nossos sócios e respeitando a dignidade de nossos clientes", indicam. Não obstante, algumas pessoas com as que Kruk tem estabelecido contacto os desenham como uns "buitres" que actuam no limite da legalidade.
SMS "todos os dias" depois de um erro de facturação
Alberto Moreno foi contactado por Kruk depois de um erro de facturação de Holaluz , que lhe tinha enviado uma factura de gás a mais de 800 euros, quando seu consumo costumava rondar os 40 euros. Consciente de que era um erro, devolveu o recebo e se pôs em contacto com a companhia presidida por Carlota Pi, mas a empresa de recobros passou cedo à acção. Moreno conta a este meio que "todos os dias" lhe chegava um SMS no que lhe pediam que contactasse urgentemente para pagar.
Ademais, recebia telefonemas telefónicos "com uma locução automática onde me diziam que, se não pagava automaticamente chamando a um número de telefone, entraria numa lista de morosos e o assunto passaria às mãos dos advogados", relata. Finalmente meteram a Moreno em dita lista, apesar de que ele tentou o ignorar, e depois passou à contraofensiva. "Eu pendurava e chamava a Kruk, e além de lhes contar a situação, lhes dizia que estava a guardar evidências do assédio que me estavam a fazer, e que o que os ia denunciar era eu", relata, porque pretendiam que "pagasse uma factura" absolutamente desproporcionada.
Pagar e depois reclamar
"Sempre me diziam o mesmo, que pagasse e que depois reclamasse o dinheiro, e por suposto me negava", conta. Isto é, que, para Kruk, o importante era ter o dinheiro em suas mãos, independentemente de que um afectado lhes argumentasse que uma cobrança de 800 euros não era razoável e ele não era responsável.
"Após meses de correios e telefonemas telefónicos, só me fizeram caso quando publiquei uns tuits", rememora Moreno. Depois de fazer público seu mal-estar em redes, indica, pôs-se em contacto com ele um trabalhador de Holaluz e solucionou o problema. Por sua vez, desde Kruk não comunicaram com ele para lhe dizer que a reclamação da dívida tinha sido um erro ou para lhe pedir desculpas. Simplesmente se esfumaron.
Erros com os deudores
Em redes sociais há depoimentos similares de clientes que se mostram desconcertados, indignados, temerosos ou tudo ao mesmo tempo. "Kruk Espanha volta-me a mandar um SMS com um nome que não sou eu sobre uma dívida com o BBVA onde nunca tenho tido conta. Má informação ou fraude", indicava uma internauta em X (antiga Twitter). "Faz favor, revisem os telefones aos que enviais SMS. Se não contestam talvez é porque AÍ NÃO É. Deveríeis comprovar se vossos dados são correctos", pedia outra.
Uma terça criticava que Kruk não a parava de "acossar" com centos de telefonemas "por uma suposta dívida do anterior inquilino de uma moradia pela que passou muito dantes que eu. Muito heavy como têm conseguido unir esses dados e muito heavy que me mandem dados de uma pessoa à que nem conheço", indicava.
Onde fica a protecção de dados
De onde diantres têm sacado seus dados é uma das perguntas que se fazem muitos consumidores que têm recebido a incómoda telefonema de Kruk. Em seu site, a empresa de recobros dá algumas pistas e reconhece que pode chegar bem longe. "Se tratamos teus dados para recuperação de dívida, também podemos obter, entre outros, dados sobre os pagamentos efectuados, informação sobre sua situação financeira ou suas dívidas, activos dos que seja titular, créditos, ou dados similares necessários para esta finalidade", detalham.
"Em determinados casos, podemos obter dados sobre suas circunstâncias pessoais que nos ajudam a entender seu caso e adaptar a sua situação, como por exemplo sobre sua situação trabalhista. Salvo que exista uma base jurídica que o justifique, não trataremos dados sensíveis como podem ser dados de saúde ", acrescentam.
Obtenção de dados pessoais mediante "engano"
Com tudo, um tuitero dizia em 2021 que Kruk tinha tentado "obter dados pessoais mediante engano, por coacções e por ameaças ". Na mesma linha, outro assegurava que estavam a chamar ao telefone móvel de seu filho, menor de idade, perguntando por uma pessoa que não conheciam.
"Estão a chamar ao telefone de uma senhora maior e dependente, acossando e molestando. Perguntam por alguém que ela não conhece e lho tem dito já mil vezes. Deixem de acossar a números que não pertencem ao deudor", pedia outro. Há inclusive depoimentos de pessoas que asseguram que empregados de Kruk têm chamado à porta de um cidadão para reclamar dívidas.
"Empresa buitre"
Assim o refletem as reseñas de Google, onde há umas 180 valorações sobre a empresa, a maioria negativas. "Lamentável empresa buitre e ademais impresentable. Ontem um tal Tomás apresenta-se em meu domicílio, o que ele não sabia é que o estava a gravar e me fui denunciar ", assegurava um consumidor. "Muito bonita a maneira de intimidar conseguindo números de familiares ou allegados para avisar, e a lei de protecção de dados? Estais a violar leis mandando nomes e informação de arquivos a terceiros. Sinvergüenzas e caraduras. Um dia cair-se-vos-á o cabelo", valorizava outra afectada.
A postura da empresa
A perguntas deste meio, fontes de Kruk indicam que sempre actuam no marco da legalidade. Faz parte de Angeco, afirmam, e estão aderidos a seu Código Ético e de Conduta (respeito às pessoas e sua privacidade, alavancagem da resolução amistosa dos créditos, tratamento dos dados pessoais conforme ao previsto na legislação vigente...). Assim, puntualizan que o regulamento de protecção de dados não indica nada com respeito a visitas, mas afirmam que seguem "uns protocolos estritos para preservar a confidencialidade e a intimidem das pessoas deudoras durante nossas visitas".
Deste modo, realizam formações a seus empregados neste sentido e tratam de lembrar uma cita com o deudor."Entendemos que falando de maneira presencial é mais fácil chegar a um acordo, proporcionando um trato próximo", explicam. Com tudo, admitem que "as visitas sem prévio aviso se levam a cabo quando não temos podido contactar telefonicamente com o titular ou quando, apesar de ter contactado, não se chegou a um acordo de pagamento satisfatório".
Contacto com menores
Por outra parte, desde Kruk asseguram que não contactam de maneira deliberada com números de telefone que pertencem a menores de idade, e se chamam directamente a um menor, "se deve a algum erro na atribuição do telefone por parte do BP (número incorreto). Nestes casos não se deixa mensagem e se bloqueia o telefone", indicam.
"As empresas de recobro estamos legitimadas a chamar a um telefone e perguntar por alguém. No entanto, Kruk nunca chama nem informa a uma terceira pessoa sobre dados confidenciais de um deudor. No caso dos telefonemas a familiares, unicamente realizamo-las depois de esgotar múltiplas tentativas de localizar ao deudor e não o conseguir provando em diferentes dias e faixas horárias", asseguram, um processo legitimado pela Agência Espanhola de Protecção de Dados.