Companhias aéreas de baixo custo como a Ryanair levam tempo acumulando queixas pelas suas políticas de voo. Tanto é que a justiça tem considerado em mais de uma ocasião as suas práticas como abusivas ao obrigar os passageiros a pagar um bilhete mais caro para levar uma mala de cabine. Esta se considera bagagem de mão básico e como detalha a Lei de Navegação Aérea, todo o transportador deve permitir o passageiro levar sem cobrar nenhum tipo de extra.
Mas à companhia irlandesa pouco parece importar-lhe estas sentenças, pois continua a cobrar a famosa tarifa de prioridade que permite levar a mala de 10 kilogramos e de 55x40x20 centímetros a bordo. O abuso da Ryanair não acaba aí, muitos clientes afrimam que, mesmo tendo pago essa prioridade, lhes cobraram custos de até 70 euros por supostamente não cumprir com as medidas estipuladas.
70 euros por uma mala "justa"
É o caso de Aitor Carballo e Natalia Catalá. Estes jovens viajaram em junho de Edimburgo a Fuerteventura com a Ryanair e decidiram pagar mais por um bilhete de prioridade para poder transportar uma mala de cabine a bordo. Enquanto a viagem de ida foi perfeito, contam, a volta saiu-lhes por 70 euros mais e um desgosto com uma trabalhadora.
"Quando estávamos a entrar na porta de embarque, a hospedeira pediu-nos para pôr a mala na caixa de medidas. Fizemo-lo sem nenhuma preocupação, pois já o tínhamos feito noutras ocasiões e sabíamos que cabia", conta Aitor Carballo à Consumidor Global.
A arbitrariedade da Ryanair
Para surpresa de ambos, sobretudo porque na ida não teve problemas, a hospedeira repreendeu-os dizendo que estava "muito apertada" e que tinha que entrar e sair perfeitamente e não apertada. "Pedimos para falar com a responsável, mas ela disse que não, que ou pagávamos 70 euros ou não podíamos levar a mala para o avião", lembra Carballo indignado. "No regresso, pensámos em reclamar, mas li que por 70 euros não nos iam devolver nada", explica.
O caso de Carballo com a temida caixa de medidas da Ryanair não é o único. Beatriz Cantero conta como lhe fizeram pagar 40 euros a mais. "A mala de mão não cabia na minúscula caixa de medição. Apanham sempre cinco ou dez passageiros que a metem à socapa com estas medidas pantomímicas. Foi uma experiência infeliz", disse Cantero no portal de avaliações Trustpilot.
O absurdo de pagar por "algo que vai consigo".
Javier Risueño é advogado e colaborador do escritório AMG Legal. "A mala de mão considera-se um elemento indispensável do passageiro e se a Ryanair já cobra de forma abusiva por levá-la, não estranharia que joguem com as medidas para aplicar mais taxas nos embarques", conta o jurista à Consumidor Global.
Segundo Risueño, tem que haver "um motivo de importância" para poder cobrar uma taxa pela mala. "A bagagem de cabina é guardada pelo passageiro a bordo, enquanto que na cabina maior, a cadeia de custódia é assegurada pela companhia aérea. Não faz sentido pagar por algo que vai consigo", critica o advogado.
Como reclamar
Por sua vez, o CEO do portal Reclamaciondevuelos.com, Ekaitz Bacelo, diz que a Ryanair encontrou a forma de incluir estas taxas abusivas nas reservas. "Escondem-no permitindo escolher assento para que pareça mais legal", sustenta. Bacelo conta ademais que no seu portal de reclamações recebem diariamente dezenas de consultas relacionadas com a companhia aérea irlandesa e a sua política de medidas de bagagens.
"Depende da experiência da cada um, mas muitos contam-nos que com a mesma mala de cabine com a que têm viajado sempre não tiveram problemas com outras companhias e com a Ryanair sim", explica o fundador do portal. Para reclamar um pagamento extra pela medida da mala, ambos os juristas recomendam guardar todos os justificativos de pagamento, bem como os bilhetes e interpor uma queixa ante a companhia.
O silêncio da Ryanair
Se esta não responde, deve-se efectuar uma reclamação extrajudicial junto da Agência Estatal de Segurança Aérea (AESA). Se continua sem proceder, então "o aconselhável é ir a escritórios de advogados especializados para intentar uma ação judicial". Conquanto, Ekaitz Bacelo reconhece que muitos clientes preferem não reclamar porque os custos a recuperar não são muito altos e "não lhes vale a pena".
A Consumidor Global perguntou à Ryanair pela sua política de bagagens e sobre a polémica gerada em torno da sua caixa de medidas nos embarques dos voos. No entanto, não obteve resposta até ao termo desta reportagem. Enquanto isso, os clientes continuam resposta. Cessará Ryanair algum momento as suas políticas abusivas?