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Ikea lança um gira-disco com Swedish House Máfia e os peritos desdenham-no: "Não deve ser muito bom"

A empresa sueca colabora com o grupo de música electrónica numa coleção que inclui um reprodutor de vinis que, na opinião de vários profissionais, é demasiado barato

Uma pessoa liga o seu gira-discos, mais compacto do que o lançado pela Ikea juntamente com a Swedish House Mafia / PEXELS
Uma pessoa liga o seu gira-discos, mais compacto do que o lançado pela Ikea juntamente com a Swedish House Mafia / PEXELS

Que têm em comum Dom't you worry child com o lema A república independente de tua casa? E o desenho com a electrónica? Até agora, pouca coisa. Até agora. Ikea associou-se com o grupo Swedish House Máfia, um tótem da música electrónica, para lançar Obegränsad, uma colecção que inclui cerca de vinte artigos de rigorosa cor negra com a qual pretendem introduzir o estilo do grupo nos lares. Os produtos são minimal e funcionais, ainda que a colecção está especialmente pensada para os músicos amateurs. Compreende desde umas pantuflas até um candeeiro de parede led, mas a estrela da coleção promete ser um gira-discos. Terá um preço de 129 euros e é feito de plástico , alumínio e borracha de silicone. Os peritos em gira-discos olham-no com desconfiança: não acham que vá soar muito bem.

É que, na sua opinião, o que faz a rainha sueca dos móveis baratos é subir na refinada carroça dos gira-discos com um aparelho muito de andar por casa (que para isso é Ikea). They got a plano for ou.

Lançar o anzol onde as pessoas mordem

José Ignacio Blasco leva "toda a vida" a vender gira-discos. Agora dirige a Viena Audio Alta Fidelidade, uma loja de Zaragoza, e conta a este meio que, com este movimento, Ikea sobe à carroça dos vinis. Uma carroça quase cheia. "Já se vendem mais LP's que CDs", relata. Na sua opinião, o aparelho é, sobretudo, marketing. "Uma tentativa por vender lançando o anzol onde agora mesmo as pessoas mordem. Pelo seu preço, não pode ser nada do outro mundo. Parece uma coisa muito elementar", raciocina.

El tocadiscos que ha lanzado la marca sueca / IKEA
O gira-discos que lançou a marca sueca / IKEA

Blasco acha que a qualidade não é uma qualidade que se aprecie na hora de escolher um gira-discos, e não se corta na hora de julgar o da empresa nórdica. "Há aficionados que sabem muitíssimo, claro, mas o cliente médio não distingue um prato de outro. Dar-lhes-á igual, vê-lo-ão barato e comprá-lo-ão. Não existe a mesma sensibilidade que com os carros, por exemplo, um sector onde as pessoas são capazes de diferenciar as qualidades de um e outro. Agora bem, se venderam trastes muitíssimo piores que este da Ikea. Há uma proliferação de pratos excessiva, Fnac vende alguns insuportáveis", argumenta.

A chave está no fabrico do prato

"Pode ser um aparelho que cumpra bastante, ou pode que não. Teria que o ver e o ouvir para julgar", indica, antes de mais nada, o experiente Javier Ochoa, que dirige a madrilena Chave Audio. "Nós temos também gira-discos relativamente baratos, a partir de 200 euros já há algo decente", indica Ochoa, que cifra nessa quantidade o mínimo indispensável para que um aparelho tenha uma qualidade aceitável. "Terá que ver quem faz o prato à Ikea, se serão os chineses, se serão os austriacos, que têm a fábrica da Project ", indica. No entanto, Ochoa acha que, se a Ikea não faz algo realmente nefasto, o seu produto pode ajudar a que o empurrão do viil se mantenha.

Sobre se é intrusivo ou não, Ochoa não se envolve. "Ikea tem já certas coisas de electrodomésticos, tem até alimentação", lembra. O importante, sublinha, é serem conscientes de que o vinil nunca se foi. "Eu levo 40 anos neste sector e sempre se vendeu, é verdade que nos últimos anos teve uma certa recuperação, mas nunca desapareceu", conta.

Deferentes discos en una tienda / PEXELS
Deferentes discos numa loja / PEXELS

A visão da Ikea: um artigo para oferecer entre amigos

Enquanto os peritos arqueam a sobrancelha, fontes da Ikea explicam a este meio que o seu gira-discos Obegränsad (que, detalham, tem um preamplificador incorporado) é um bom exemplo do "desenho democrático" da marca. "Os nossos sócios colaboradores, Swedish House Máfia, participaram no desenvolvimento do desenho de toda a colecção, incluído o gira-discos. De facto, a ideia de ter um gira-discos na coleção veio da banda: sugeriram que seria genial ter um gira-discos acesível que se pudesse, por exemplo, oferecer entre amigos. Além disso, o fornecedor da produção também fez parte da equipa de desenvolvimento do produto", argumentam.

Quanto à qualidade do som, a marca sueca defende que se consegue um bom resultado "graças a um captador de alta qualidade com uma agulha de ponta cónica de diamante que é suave com o disco e, igualmente, o apoio de braço tem um fechamento de segurança para evitar possíveis danos acidentais no disco". Além disso, argumentam que se liga de forma muito simples, ao ligar o cabo RCA a um altifalante com um amplificador incorporado e o cabo USB à tomada de corrente através de um cargador USB. Por último, admitem que é produzido na China.

Una persona pone un disco / PEXELS
Uma pessoa põe um disco / PEXELS

"Muito bom não deve ser"

Hugo Perona dirige a loja sevilhana Totem Tanz, e tem uma opinião semelhante. "Os discos nunca deixaram de estar na moda, nem se foram, nem voltaram, nem nada extraordinário", esclarece, em primeiro termo. Depois, sobe os decibeis e afirma que a Ikea trabalha com "produtos de qualidade média a preços muito competitivos", mas um vinil a esse preço "muito bom, não deve ser. Funcional? Sim, mas as pessoas que gastem isso não procurarão uma qualidade excelente, nem muito menos". A estimativa de Perona é que, para atingir um som digno, há que investir, no mínimo, 250 euros. "Porque há certas coisas que deve levar um bom gira-discos", aponta.

A Perona também o surpreende um tanto que a colaboração seja precisamente com a Swedish House Máfia, um grupo que soava "há dez anos". Por isso, mostra-se céptico com a qualidade. "Estes lançam um gira-discos com a Ikea tal como o de Masterchef lança marmeladas", compara. Agora, acha que será um sucesso. "Um monstro como a Ikea venderá muitíssimo. Nós temos reprodutores de vinil, e não dizer-te-ia que vendemos um todos os dias, mas desde depois sim a cada semana", expõe o perito. A Totem Tanz chegam antigos vinilos para consertar dos anos 80 e 90. Alguns deles mantêm muitíssima qualidade. "São indestrutíveis. Em segunda mão, podem custar uns 500 euros. E em primeira mão, equivalentes, uns 900. De modo que imagina-te o que custa um bom", relata.

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