Sexta-feira pela noite. Está a chover e não apetece sair de casa. A alternativa? Pedir pela Glovo e ver um filme. Quando há que efectuar o pagamento, o cliente dá-se conta que a aplicação cobra 2,99 euros para além dos custos de entrega. "Extra para o entregador devido ao mau tempo", justifica a empresa.
Foi basicamente isso que Julia S. contou à Consumidor Global. "O preço da encomenda foi de 14,70 euros. A Glovo acrescentou 30 cêntimos para custos de manuseamento, 3,49 euros para a entrega e 2,99 euros para o mau tempo". No final, o cliente teve de pagar um total de 21,48 euros. A questão que se coloca é se os estafetas cobram efetivamente este montante na totalidade.
Uma comissão de 30%
Jesuar Valladares é rider da Glovo. O trabalhador não deixa margem para dúvidas quando este meio se põe em contacto com ele. Quando lhe perguntam se recebe ou não os 2,99 euros que a Glovo cobra ao cliente como extra pelo mau tempo, a sua resposta é que existem uns bónus de chuva. Mas esses quase três euros nunca lhes são pagos na totalidade.
"Ao estafeta dão-lhe cerca de 30%", detalha Jesuar Valladares. Uma resposta que coincide com a de David Martínez, ex rider da Glovo. Este antigo trabalhador da aplicação reconhece que recebe uma comissão quando o tempo está mau, mas em nenhum caso é tão elevada.
Os bónus pela chuva
David Martínez, ex-estafeta da Glovo mostra à Consumidor Global como funcionam esses bónus de chuva. A percentagem de comissão que se levam os estafetas quando chove depende da faixa horária. Por exemplo, uma quinta-feira por volta das 13:00 horas, a comissão é de 1,86 euros.
Pelo contrário, nesse mesmo dia às quatro da tarde, a comissão baixa a 1,32 euros. "Se a encomenda que pagam é de quatro euros e começa a chover, acrescenta-se 30% Neste caso subiria até os 5,20 euros. Dos 2,99 euros que paga o cliente, 1,20 euros seria para o rider e 1,79 euros fica para a Glovo", diz Jesuar Valladares.
Outras comissões
A comissão pelo mau tempo não é a única que paga o consumidor. Jesuar Valladares explica a este meio como funciona a tarifa noturna. Os clientes pagam 1,99 euros mais nos seus pedidos quando pedem a altas horas da noite. Um extra do qual "nem um cêntimo vai para o estafeta", afirma o cavaleiro. "É tudo para a Glovo, quando é o estafeta que fica exposto durante a madrugada", acrescenta.
Na realidade, a única coisa que os estafetas recebem na totalidade são as gorjetas. Quando se trata de adicionar pagamentos ao cliente, a Glovo parece ser o rei. A empresa cobra até 30 cêntimos em taxas de gestão. No final, em casos como o de Julia S., o que era uma encomenda de 14,70 euros passa a ser 21,48 euros, quase sete euros mais. Um acréscimo que não vai, de forma alguma, parar ao bolso do estafeta. Pelo contrário, no bolso da Glovo.
A política da Glovo
Quando a Glovo cobra ao cliente a comissão por mau tempo de 2,99 euros, não há nenhuma mensagem que escalreça a comissão que leva o rider. Pelo contrário, na lista de preços, esta taxa aparece como um custo adicional para o entregador. Por este motivo, o cliente pode pensar que se trata de um benefício total para o trabalhador.
Segundo os depoimentos dos trabalhadores da Glovo que recolheu este meio, a realidade é muito diferente. A quase totalidade do dinheiro fica com a própria aplicação. Até ao momento, a Glovo mantém-se em silêncio. O Consumidor Global contactou a empresa para esclarecer o que acontece com as comissões que cobra aos clientes. No entanto, preferiram manter-se em silêncio.