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Glovo e Uber Eats incumprem a 'lei rider' (estas outras plataformas sim respeitam-na)
Algumas companhias passam das directrizes do Tribunal Supremo em torno dos repartidores, que seguem trabalhando como autónomos, enquanto outras se cingem a elas; o consumidor pergunta-se que postura é melhor
O 12 de agosto entrou em vigor a lei dos repartidores, mais conhecida como lei rider, que pretende frear os abusos das grandes plataformas e proteger aos repartidores que têm tido que trabalhar como falsos autónomos. Em que consiste esta lei e daí efeitos tem? E, sobretudo, está a cumprir-se? Que empresas a respeitam? Que passa com o consumidor?
Segundo o advogado laboralista Íñigo Molina, "a lei rider não é mais que pôr negro sobre alvo o que vinha opinando o Tribunal Supremo sobre a situação trabalhista dos riders ou repartidores", considera. "Como esta relação trabalhista se articulava através de uma app que punha em contacto aos clientes com os repartidores, se entendia que se tratava de economia colaborativa e que não eram empregues das plataformas", explica. No entanto, conta, "o Tribunal Supremo acabou sentenciando que o que oferece o serviço e dá as retribuições é a plataforma e, portanto, a empresa… e os riders seus empregados".
São empregues
Esta lei estabelece que os repartidores "têm que ser considerados empregados nas condições que estabelece o Supremo", acrescenta Molina. "Se é o cliente o que contacta e o que paga, o repartidor é o empregado e a plataforma é o empresário", insiste. "Modifica-se o texto do estatuto dos trabalhadores para garantir os direitos trabalhistas dos repartidores", valoriza o advogado e sócio director de Algoritmo Legal, Ricardo Oliva. "Têm direito de que se lhes pague como trabalhadores por conta alheia", recorda.
No entanto, não todos cumprem com esta lei. Este é o caso de Glovo e Deliveroo, cujo modelo de trabalho, assegura Molina, "era excepcionalmente rentável ao não ter empregados: as empresas expandem-se e suas acções sobem porque a plataforma leva-se os benefícios e as despesas paga-os íntegros o repartidor".
O caso Glovo
O porta-voz da plataforma RidersxDerechos Dani Gutiérrez avisa da gravidade deste assunto. "Hoje somos os riders e amanhã vão ser muitos outros sectores se a isto não se lhe põe travão", alerta. Porque tem-o claro: "As empresas não estão a aplicar a lei". Especial é o caso de Glovo , que "disse que não ia cumprir com a legislação, que ia implantar um novo modelo, e tem piorado as condições", analisa Rodríguez. "Se já cobrávamos pouco dantes da pandemia…", lamenta.
Desde sua experiência, expõe que o que tem feito a plataforma consiste em "baixar as tarifas e aplicar sua interpretação da lei rider, fazendo o que lhes dá a vontade". "Faz um leilão à baixa dos pedidos para que os repartidores nos briguemos para dar o menor preço à hora de oferecer o serviço", descreve o repartidor.
A picaresca das empresas
Segundo Rodríguez, muitas empresas dedicaram-se a "substituir a fraude de falsos autónomos por subcontratas ". "Essas companhias estão a incorrer na fraude da gestão ilegal de trabalhadores, porque os riders deveriam entrar em nómina", declara. "A subcontratación está pensada para casos muito pontuas de bicos de demanda, é ilegal tal e como o fazem", critica o rider.
"Algumas empresas tentam fazer chanchullos, montar seu negócio de outra maneira e pressionar aos que legalmente já são empregues e podem reclamar seu direito ao contrato trabalhista", manifesta Molina. O advogado explica que "ao final, tudo é uma questão de dinheiro: muitas plataformas diziam que se iam ir do país porque não lhes valia a pena o negócio". No entanto, aponta, "ainda que os benefícios não sejam tão espectaculares porque têm que fazer frente às despesas, seguem os obtendo".
Possíveis sanções
Estas estratégias podem acarretar sanções. "Muitos dos empresários poderiam estar a incorrer em delitos, porque manter em modelo mais de um número de pessoas sem estar cadastradas na Segurança Social é um delito contra os direitos dos trabalhadores", reflexiona Molina. "Há empresas que estão delinquiendo, que tentam enganar e coaccionar para que os trabalhadores não reclamem seus legítimos direitos, mas ao final acabar-se-ão opinando sanções", explica.
De facto, assegura o profissional laboralista, "este assunto pode tratar-se como concorrência desleal se uma empresa cumpre a lei e outra não, como já lhe passou em seu momento a Uber em outros países", rememora. O grande problema, destaca, é a falta de denúncias. "Se não o denuncias não ocorre nada", manifesta Molina. "Desde que as multas resultem para as plataformas mais baratas que cumprir a lei, seguirão delinquiendo", acrescenta Rodríguez.
Algumas cumprem
"As empresas que dantes cometiam fraude seguem o fazendo, têm uma dívida muito grande com a Segurança Social. Glovo e Uber Eats estão a manter um pulso ao Estado, saltando ao poder judicial, ao legislativo e ao executivo", opina o coordenador de Política Sindical da Confederação de UGT, Rubén Ranz. No entanto, Ranz chama a atenção em torno das "novas empresas" que sim que estão a cumprir com esta legislação. "Gorillas, Rocket e Just Eat estão a contratar", sustenta. "Um dos grandes eslóganes era que isto ia fomentar a fugida do investimento e é ao invés", declara.
No entanto, como afecta isto ao consumidor? O director geral de Kilimanjaria , José Luis Vega de Seoane, não é muito partidário da lei rider. "Acho que fez-se mau, fez-se com demasiado tinte político", afirma. "Perdeu-se uma ocasião muito boa para um sector com muita possibilidade de emprego", indica. "Por que queres te carregar um equilíbrio que está balançado?", pergunta-se, fazendo alusão aos riders que defendem sua autonomia. Segundo ele, as companhias que provêem repartidores a outros negócios "não podem escalar suas equipas com a actual rede", o que supõe que tenha "muitos mais atrasos com os pedidos". "A lei é má para o consumidor porque o serviço vai ser pior e vai-se a encarecer, sobretudo nos dias de grande demanda", limpa.
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