"Eu sou alérgica, mas compro produtos com soja porque me saem grátis e assim ofereco-os". María Ramírez descobriu há meses pelo Instagram uma aplicação com a qual podia poupar dinheiro nas suas compras do supermercado e inclusive que alguns desses artigos lhe saíssem grátis ou quase grátis com descontos chamativos. Gelt é uma plataforma com a qual os consumidores podem ganhar dinheiro com as suas compras através de propostas e ofertas concretas das milhares de marcas e parceiros comerciais existentes nos supermercados que trabalham com a aplicação.
O funcionamento é simples. A aplicação oferece de forma semanal uma série de produtos e ofertas que há nos diferentes supermercados para que os utilizadores os comprem. Depois de encher e pagar o carrinho de compras, o utilizador carrega o talão de compra na app e, depois de serem revistos os produtos, aplicam-se os descontos e custos a devolver. Quando o cliente acumula na sua conta 20 euros, poderá retirar o dinheiro em numerário numa caixa. No entanto, além de ser uma prática consumista que pode fomentar a aquisição de produtos desnecessários, os utilizadores também se queixam do tempo que se demora a receber os códigos para retirar o dinheiro das caixas
Ganhar dinheiro por comprar
Alberto Benbunan é CEO e fundador da Gelt e, segundo conta à Consumidor Global, o projecto surgiu como um apoio de comunicação para que as marcas pudessem chegar aos consumidores. "Quando entras num supermercado pode ter 20.000 produtos diferentes, cada um deles com os seus problemas concretos. Aí vimos que havia um nicho de mercado para promovê-los através do método cashback", explica.
O cashback é uma estratégia que as marcas utilizam para destacar os seus produtos face a outros em troca da devolução de parte do dinheiro que o utilizador gasta no aquisição. Benbunan afirma a este meio que a Gelt trabalha hoje com 60% das grandes marcas e conta com 3 milhões de utilizadores repartidos em Espanha, Brasil, Argentina, México e Colômbia. No caso de Espanha, são 6.000 as pessoas que utilizam a Gelt e mais de 600 as marcas com as quais trabalha.
Meses de espera para receber 20 euros
Ainda que a plataforma indica que os prazos para poder retirar o dinheiro uma vez acumulados os 20 euros oscilam entre uma e duas semanas, muitos utilizadores queixam-se de que têm esperado meses a receber o código para levantar o dinheiro das caixas automáticas. "Leva uma eternidade a levantar dinheiro. Pedi a ordem a 31 de agosto e continuo à espera dos códigos", conta Carlos García. Para Dani L. o processo de devolução é "pesado e lento" e diz que no seu caso lhe foram dados os códigos errados. "Agora tenho que os pedir de novo e esperar todo o processo", lamenta.
"Comprei coisas que não precisava pára que agora, após meses desde que pedi os códigos, nunca me cheguem", critica indignado Óscar González. Pelo contrário, segundo explica a esta redacção o fundador da Gelt, Alberto Benbunan, estes casos de devoluções que se fazem eternas são "pontuais" e justifica que se devem às revisões manuais que precisam fazer quando há erros de verificação com algum talão.
Consumo inteligente ou desnecessário?
"Um talão pode ser rejeitado pelo verificador automático e solicitada a revisão manual. Isso pode atrasar os prazos", sublinha Benbunan. Por outro lado, o fundador da aplicação alerta que às vezes observam-se irregularidades que os leva a fazer auditorias das contas para verificar se se trata de uma possível fraude. "Às vezes recebemos 50 talões de um mesmo dia ou inclusive facturas falsificadas", enfatiza.
Outro dos aspectos a ter em conta é esse consumo desnecessário que a aplicação pode fomentar ao oferecer descontos e cashbacks muito tentadores. "Eu só compro artigos que preciso e se alguma vez senti que não o precisava não me importo pporque foram produtos 100% gratuitos, ou seja, reembolsaram-me o custo íntegral, com o qual ficas satisfeito", conta à Consumidor Global José Raúl. Da Gelt não o vêem como uma forma de fomentar o consumo desnecessário, mas sim de "ajudar o consumidor para fazer uma compra inteligente". "Não acho que as pessoas consumam por consumir, no final estão a adiantar dinheiro e acho que é uma forma de ajudar a mudar de marca e experimentar outros produtos graças a essas promoções", conclui Benbunan.