Flexicar é uma empresa de carros de ocasião que se apresenta como líder neste sector no mercado espanhol. Com mais de 100 lojas em Espanha e mais de 9.000 veículos em estoque, em 2022 o grupo registou uma facturação anual a mais de 450 milhões de euros. Não obstante, não tudo lhe vai sobre rodas à empresa: a cada vez mais clientes protestam por supostos veículos defeituosos.
Jesús Alemão é um deles. Este consumidor comprou um carro a Flexicar pelo que pagou quase 13.000 euros, mais outros 700 em conceito de garantia ampliada. O veículo era de 2019, mas "aos dois meses avaria-se o ecrã do computador da bordo", conta a Consumidor Global. Este ecrã táctil é relevante porque é desde a que se maneja a rádio, a calefacção, o GPS, a câmara de estacionamento trasero e outros ajustes do carro.
"Davam-me longas"
Assim, Alemão levou o carro a consertar ao mesmo concesionario Flexicar onde o tinha comprado, na cidade de Burgos. Não lhe deram prazos, mas passavam nos dias e as coisas não pareciam se solucionar. "Eu lhes chamava e me davam longas quando me contestavam ao telefone, que era poucas vezes", afirma.
Assim, já passado um mês e alguns dias, este consumidor se cansou de que o carro seguisse na loja de Flexicar, onde, precisa, "não têm oficina" e permaneceria sem mudanças. Por isso, pôs uma reclamação no Escritório de Informação ao Consumidor.
Um reparo de 1.400 euros
Então Flexicar reagiu e um responsável pela empresa disse-lhe a Alemão que tinham pedido cita numa oficina de Opel , onde lhes tinham dado cita "para dentro de 14 dias". Mas nem com essas. O tempo passava e não tinha notícias. Como se podia circular com o veículo, o próprio Alemão o levou a Opel no dia lembrado. Aqui disseram-lhe que, efectivamente, o ecrã estava estragado e o orçamento para a arranjar ascendia a 1.400 euros.
Não obstante, esta informação não chegou à empresa com a rapidez esperable. Desde Opel diziam, indica Alemão, "que não conseguem falar com Flexicar" de modo que ele, harto, se apresentou no estabelecimento de Flexicar. "Dizem-me que passarão pela Opel no mesmo dia. Ao dia seguinte, Opel consegue falar com eles e lhes manda o orçamento por WhatsApp . Explicaram que não arranjá-lo-iam até que Flexicar o aceitasse", explica este cliente desconento.
Envio de burofax
Alemão, de novo, esperou. O argumento de Flexicar para justificar demora-a era que estavam pendentes de que o chefe de zona desse luz verde. Esgotada sua paciência, Alemão decidiu pô-lo em mãos de seu advogado, que enviou um burofax explicando que, ou aceitavam o orçamento nos próximos dez dias, ou o próprio Alemão pagaria o arranjo e reclamá-lo-ia via judicial.
Não contestaram. Tinham passado quase três meses ao todo, de modo que, ante a necessidade de poder utilizar seu carro com todas suas funções, Alemão decidiu pagar. "E agora estou com uma demanda judicial para que o abonen. São um pesadelo e uns chorizos", descreve. Agora, ele se encontra "à espera de julgamento e sem notícias de Flexicar".
Mais de 3.000 afectados em Facebook
No passado mês de novembro, Consumidor Global publicou um artigo que se fazia eco de uma série de más experiências com Flexicar, similares à de Alemão. Nesse momento, este meio mencionou a existência de um grupo de Facebook, Afectados por Flexicar, que tinha mais de 1.000 membros. Hoje já são mais de 3.000.
"Estamos hartos do carro, de Flexicar, do call center. Não se querem fazer cargo da última factura eles porque dizem que é desgaste, e desde que me entregaram o carro no ano passado só o pudemos desfrutar três meses e por etapas, porque sempre o tiveram em oficina, nos alongaram a garantia, mas não se fazem cargo, e agora volta a estar em oficina e já é desesperante", define uma cliente neste foro.
Sem mudanças de titular
Também há casos de titularidades que dançam, o que se traduz em cargos que chegam a utentes que já não têm o carro. "Devolvi o veículo no final de fevereiro, e acaba-me de chegar uma multa do mês de maio. Nem sequer têm mudado o titular do veículo, são uns sinvergüenzas!", clama outra afectada.
Na mesma linha, um utente assegurava que em dezembro de 2022 lhe tinha chegado uma multa apesar de ter devolvido o carro em 2022. "Entregado e assinado com entrega de chaves e veículo. Amanhã denuncio e vou montar-lhes o lío ali onde o entreguei", explicava. Por casos como estes, Alemão considera que "não revisam os carros". "E também têm problemas para cobrar os que vendem seu veículo a Flexicar. São uns autênticos estafadores a nível nacional", limpa.
Este meio pôs-se em contacto com Flexicar para perguntar por estas incidências, mas, ao termo desta reportagem, não tem obtido resposta.