Um telefonema perdido pode significar quase qualquer coisa: um compromisso adiado, uma entrevista de trabalho excitante, um restaurante que cancela a reserva… Mas também uma tentativa de fraude. Segundo os especialistas em cibercrime, há grupos criminosos organizados que operam a partir da Nigéria e utilizam o prefixo +44 do Reino Unido para realizar telefonemas. Tratam de ganhar a confiança do seu interlocutor e vender-lhe teóricos títulos teóricos da bolsa (ou criptomoedas, porque os delinquentes são camaleónicos), quando o que pretendem realmente é aceder ao teu cartão de crédito. E os consumidores estão fartos.
Muitos utilizadores já não aguentam mais e expressam o seu descontentamento face esta matraca. Partilham experiências nas redes, com intercâmbio de conselhos incluído. É que esta sorte de praga telefónica parece não ter remédio.
Os golpistas cada vez ligam com um número diferente do Reino Unido
Julián Escámez explica à Consumidor Global que a frequência com a qual recebe os telefonemas varia. Agora, por sorte, "recebo um par por semana", mas antes foram mais. "Se não contestas, o número insiste", acrescenta. Ao princípio, conta Escámez, contestou um par de vezes, e do outro lado respondeu-lhe "alguém falando em espanhol com acento latino" que lhe ofereceu "produtos de investimento em bolsa". Chateado, Escámez contactou o seu operador de telecomunicações, Digi, para pedir uma solução.
Mas não se cortou o problema de raiz. "Pedi-lhes para bloquear o prefixo 44 e disseram-me que não o podiam fazer, que bloqueasse no telefone os números que me ligassem a partir do mesmo. Mas claro, cada vez ligam-te a partir de um número diferente, bloqueias um e liga-te de outro", lamenta. A sensação generalizada é que os escudos não valem, nem sequer estar inscrito na Lista Robinson. Segundo os especialistas consultados por este meio, são as operadoras de telecomunicaões as que têm a vantagem e que poderiam atribuir recursos para tentar parar as chamadas. Mas custaria dinheiro. Muito dinheiro. E, por enquanto, não estão dispostas a investir nisso.
Telefonemas a partir da UK todos os dias
Por sua vez, Evelyn Sanz denuncia que recebe estes telefonemas "todos os dias". Ela o apanhou uma vez e desligarm-lhe o telefone. A partir de então, já não as atende ou bloqueia-as. É um mecanismo de defesa que parece elementar, mas é o único viável. A Andoni López também lhe bombardeavam pelo telefone. Mencionou no Twitter a companhia telefónica Euskaltel para chamar a sua atenção, e denunciou que a sua mãe há "meses e meses que recebia chamadas do Reino Unido, Países Baixos, Alemanha, Grécia, Croácia... Como é isto possível? De onde turam o seu número e como o evitar? Porque existe uma lei de proteção de dados para algo", expressou.
Segundo relata López a este meio, as explicações da companhia foram breves. "No outro dia pediram-me os dados do titular e os números dos quais ligava, do estrangeiro. O problema é que minha mãe costuma apagar os telefonemas e por enquanto só há 2 ou 3 de um número dos Países Baixos. Mas ligam-lhe de muitos mais lugares" , expressa. No entanto, a opinião dos espcialistas é que os golpistas não pescam os números de nenhum lugar em concreto, mas sim que chamam a esmo e tentam até dar com uma vítima.
"São muito pesados"
Uns dias após esta primeira palestra, López conta-nos que os telefonemas cessaram ligeiramente, e que está à espera de quea sua mãe receba mais "para recolher números e dá-los à operadora". Ou seja, é o afectado o que fabrica o seu próprio escudo através de denúncias .
Nas redes sociais, as queixas contra estes cibercriminosos contam-se pelas dezenas. Por exemplo, Diana Herbello denunciou que a lei de protcção de dados deveria-se-ia aplicar "com severidade ao spam telefónico", já que ela recebia "chamadas de fixos e telemóveis de toda a Espanha, e inclusive do Reino Unido, todos os dias". Por isso, a sensação é de desamparo. Por sua vez, Saray Castillo partilhou o seu inventário de números bloqueados –já tinha recolhido 9–. "A minha lista negra de telefonemas procedentes do Reino Unido, são muito pesados", relatou.
Escassa proteção ao consumidor
Daniel Hernández denunciou que recebia "um monte de telefonemas a partir de todo Reino Unido". Conta que nunca chegou a atender, já que não tem "nenhum contacto no estrangeiro nem nenhuma possibilidade de que fosse um telefonema importante", mas recebeu até três telefonemas num dia de dois números ingleses e outro da Irlanda do Norte. "Ao todo, ter-me-ão chamado mais de 20 vezes números de todo Reino Unido", relata.
Partilhou a sua experiência e encontrou uma série de utilizadores a quem lhes tinha acontecido o mesmo. As reacções foram variadas. "De cada vez que me chamam d Reino Unido bloqueio o número, ainda que uma vez um amigo me ligou de Londres e, pensando que era spam, bloqueei-o", conta uma utilizadora, enquanto outra procurou o número que lhe ligou no Google e apareceu-lhe "um serviço de canalização numa localidade random fora de Londres". Para além de episódios, Hernández acha que as operadoras poderiam fazer mais. "Não sinto que tenha muita proteção contra estes telefonemas", diz com resignação.